MSC quer ser o maior operador ferroviário de mercadorias da Península Ibérica

A vencedora da privatização da CP Carga quer ter lucros já em 2017 e tem planos para ampliar o tráfego de contentores.

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Com a compra da CP Carga, MSC entra no negócio do transporte ferroviário de mercadorias Rita Franca

Carlos Vasconcelos, presidente da MSC Portugal, quer transformar a CP Carga na maior companhia ferroviária de transporte de mercadorias da Península Ibérica. Uma fasquia muito alta dado que se propõe a ultrapassar o colosso que é a Renfe, que factura mais de 200 milhões de euros anuais (a CP Carga ronda os 60 milhões).

Em declarações ao PÚBLICO, o administrador diz que prevê ter lucros já em 2017 e rejeita a ideia de que a MSC se vá centrar unicamente no tráfego de contentores. “Os contentores são a base do nosso negócio, mas só este mercado não valeria a pena. Nós vamos manter os actuais tráfegos da CP Carga e ampliá-los”, disse, acrescentando que há, em toda a Península Ibérica, espaço para crescer em vários tipos de produtos.

Para isso vai precisar de investir em mais locomotivas e vagões. A empresa pagará 53 milhões pela CP Carga, mas a sua expansão pelo território espanhol obrigará à compra (ou aluguer) de mais material circulante. Carlos Vasconcelos não precisou o montante de investimento, limitando-se a dizer que serão “dezenas de milhões de euros” a curto prazo.

Até agora a CP Carga terminava o seu transporte na fronteira com Espanha, detendo uma parceria com a sua congénere Renfe que assegurava o transporte no país vizinho. Só a Takargo, a empresa privada do grupo Mota Engil que também transporta mercadorias por caminho-de-ferro, detém locomotivas interoperáveis em Espanha e Portugal, com tripulações mistas (portuguesas e espanholas), que tem sabido usar com grande sucesso.

Curiosamente, a MSC Portugal já era o principal cliente da CP Carga. O transporte de contentores do porto de Sines para os terminais da Bobadela e do Entroncamento representam 25 a 30% do mercado da CP Carga. A empresa faz parte da multinacional MSC – Mediterranean Shipping Company, com sede na Suíça, e a segunda maior do mundo especializada em carga contentorizada, com mais de 260 navios porta-contentores e uma capacidade de transporte superior a 700 mil TEU (medida padrão de contentores)

Carlos Vasconcelos diz que os seus “patrões” em Genebra estão entusiasmados e com uma “grande expectativa” em relação a este negócio, uma vez que isto representa a entrada da multinacional no transporte ferroviário de mercadorias. O administrador sublinha que a MSC Portugal é “pioneira” nesta experiência e que a mesma deverá ser replicada noutros países.

A própria MSC Portugal já tinha avançado com a constituição de uma empresa de transporte ferroviário de mercadorias – a MSC Rail – que agora não sairá do papel. O objectivo dessa empresa era poder assegurar o transporte de contentores do porto de Sines independentemente do futuro da CP Carga. O problema ficou resolvido com o cliente a comprar a empresa fornecedora.

Nas questões laborais, a MSC começa com um “namoro” com os sindicatos. Dos três candidatos à compra da empresa afiliada da CP, foi a único que reuniu com dirigentes dos sindicatos ferroviários, a quem garantiu que não haveria despedimentos e asseguraria o cumprimento do Acordo de Empresa. Mais: prometeu mesmo distribuição de lucros pelos colaboradores.

No mesmo sentido - e como o caderno de encargos apresentado pelo Estado obriga o comprador a mudar o nome da CP Carga no prazo de três meses - Carlos Vasconcelos diz que vai lançar um concurso de ideias entre os trabalhadores para obter uma nova designação.

O funcionamento da empresa não sofrerá, no curto prazo, grandes alterações. A actual administração da CP Carga transita para a CP, entrando a nova equipa da MSC, liderada por Carlos Vasconcelos.

O gestor contraria aquilo que tem sido uma das prioridades do Governo para o sector ferroviário – a mudança de bitola. “Não faz qualquer sentido. O que é essencial é melhorar o traçado das linhas que ligam os nossos portos a Espanha”, disse anteriormente ao PÚBLICO, repetindo, agora, que “a bitola é uma falsa questão e não é um investimento prioritário”.

 

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