Moviflor anuncia encerramento de lojas a partir de 1 de Outubro

Falhado o plano de recuperação, empresa de mobiliário fecha instalações "temporariamente".

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Situação dos trabalhadores por esclarecer PÚBLICO/Arquivo

Sem conseguir cumprir o Plano Especial de Revitalização (PER), nem chegar a acordo com um potencial investidor, a administração da Moviflor informou os gerentes das lojas que as instalações da empresa vão encerrar a 1 de Outubro.

Num e-mail enviado quinta-feira à noite aos gerentes, sub-gerentes e armazéns, e a que o PÚBLICO teve acesso, Catarina Remígio, fundadora da empresa diz que face às dificuldades financeiras as portas terão mesmo de fechar. Contudo, acrescenta, o encerramento das instalações é "temporário".

“A Administração da Moviflor informa que, dado não se encontrar ainda definida a evolução da empresa face à necessidade de investimento, e considerando as dificuldades e contingências com que nos debatemos diariamente, foi tomada a decisão de encerramento temporário das instalações já a partir do próximo dia 1 de Outubro", refere a mensagem enviada.

Catarina Remígio agradece o esforço e dedicação dos trabalhadores que têm acompanhado a administração “nesta difícil fase da vida da empresa”, dizendo que tem esperança de, no futuro, poder contar de novo com a participação de todos.

Não é esclarecido como fica, agora, a situação dos colaboradores, que acumulam salários em atraso. Nem a dos cerca de 200 trabalhadores abrangidos pelo despedimento colectivo concretizado em Fevereiro e a quem a empresa deve salários e indemnizações. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter comentários da Moviflor.

“As pessoas já estavam em estado de alarme, sabiam que mais cedo ou mais tarde as lojas iriam encerrar. A maioria, aliás, já está fechada porque os trabalhadores recorreram à suspensão dos contratos de trabalho devido à continuada falta de pagamento. As lojas maiores (no Porto, em Corroios e na Bobadela) teriam cerca de cinco trabalhadores cada uma, no máximo”, conta Lídia Oliveira, que deixou a empresa no âmbito do despedimento colectivo.

A Moviflor recorreu ao PER em Maio de 2013 para recuperar financeiramente e tentar manter os 950 postos de trabalho que tinha em Portugal. Na altura, prometeu que o pagamento dos salários em atraso teria um período de carência de seis meses após a homologação do PER. Os trabalhadores iriam começar a receber os montantes em dívida “em seis prestações iguais e sucessivas”. “Será feito um reforço da estrutura financeira com capitais próprios, amortização do passivo, financiando meios libertos negativos” entre 2013 e 2015, prometia a empresa, num comunicado divulgado quando foram conhecidos os detalhes do plano de recuperação.

A solução prevista no documento, aprovado já no final do ano passado por 80% dos credores, incluía também dispensa de mais de três centenas de trabalhadores. Nessa altura, Moviflor tinha 1400 credores e as dívidas ascendiam a 147 milhões de euros, com o fisco e a Segurança Social a encabeçarem a lista. Contudo, agora, os valores deverão ser superiores.

“Todos os trabalhadores têm salários em atraso. São os três meses de ordenado contabilizados no PER, a que se juntam, por exemplo, os subsídios de Natal e Férias, os salários de Janeiro e Abril de 2014, além das indemnizações”, descreve Lídia Oliveira, que representou os trabalhadores na Assembleia de Credores. Para tentar recuperar algum dinheiro, Lídia Oliveira e outros ex-funcionários da Moviflor avançaram mesmo com um pedido de insolvência no Tribunal do Comércio de Lisboa.

Amélia Rodrigues está na mesma situação. “Era recepcionista de armazém e, em 2012, começámos a ver falhas nas entregas de mercadoria e a ter bastantes reclamações de clientes. No dia 30 de Novembro falharam os ordenados. Fiquem sem comer para dar à minha filha”, recorda. As faltas de pagamento sucederam-se nos anos seguintes e as lojas foram ficando cada vez mais vazias. Nas redes sociais multiplicam-se as queixas de clientes que deram sinal de entrada na compra de móveis e que ainda não receberam a mercadoria.

“Era um grande orgulho dar a cara pela Moviflor. Gostava de ter tido a força que os meus colegas tiveram para aguentar tantos meses a levar com reclamações, más educações, mentiras atrás de mentiras,…Não sei como se consegue gerir uma vida, as contas do mês, com tantos meses sem receber. Banco nenhum tem paciência suficiente para aguentar faltas de pagamento”, conta.

A Moviflor tem operações em Angola e Moçambique mas não estão abrangidas pelo PER, um dos maiores processos do género aprovados em Portugal. Neste documento, a situação da empresa fundada há 40 anos no Largo da Graça, em Lisboa, é atribuída a um “acentuado desequilíbrio financeiro estrutural”, provocado por um “forte investimento” e uma “deficiente cobertura do activo não corrente por capitais permanentes”.

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