Venda de activos ajuda Mota-Engil a subir lucros para 73 milhões

Contas das construtoras nacionais revelam as dificuldades do sector. Teixeira Duarte apresentou prejuízos

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António Mota, chairman da Mota-Engil Fernando Veludo /NFactos

O sector da construção chegou a ter pelo menos três grandes grupos de construção a integrar o principal Índice da bolsa de Lisboa, mas a “destruição do sector da construção”, o termo que foi usado por António Mota numa entrevista ao PÚBLICO, deixou esta construtora do Norte não só isolada no PSI20, como a única que continua a apresentar resultados positivos. Com a apresentação dos resultados semestrais das construtoras percebe-se que as dificuldades continuam instaladas. A Mota-Engil conseguiu melhorar os resultados, a Teixeira Duarte apresentou prejuízos e a Soares da Costa está a procurar sobreviver, através de um Processo Especial de Revitalização (PER) que está a decorrer no Tribunal de Vila Nova de Gaia. Esta terça-feira é a data limite dos credores reclamarem dívidas que atingem os 700 milhões de euros.

No caso da Mota-Engil, foram as vendas dos negócios da logística (com a alienação do grupo Tertir) e da Indaqua que ajudaram a empresa a melhorar os resultados líquidos do grupo. No final do primeiro semestre deste ano os resultados líquidos foram de  73 milhões de euros, contra os 13 milhões verificados em igual período no ano passado.  Apesar desta melhoria, que se estende também à redução em 234 milhões de euros na divida liquida atribuída ao grupo (e que se situa agora nos 1221 milhões de euros), a divulgação de resultados semestrais revela que o volume de negócios do grupo está a cair, e que a América Latina está a assumir uma cada vez maior importância nas contas do grupo.

Como António Mota já havia antecipado na referida entrevista ao PÚBLICO, não falta muito para que aquela zona do globo, com o México a assumir a liderança, ter um maior volume de negócios do mercado tradicional – em Angola. O mercado doméstico já havia perdido importância há muito – e essa é uma das razões que leva o chairman da construtora a dizer que o sector da construção em Portugal foi destruído.

O volume de negócios ascendeu a 1036 milhões de euros, uma diminuição de 4% face ao semestre homólogo. A América Latina é responsável por 344 milhões, depois de ter subido 19% face ao período anterior. Já o mercado europeu, que ainda é o mais relevante para o grupo Mota-Engil, encolheu 110%, permitindo uma facturação de 410 milhões de euros. O mercado africano registou os 335 milhões

 De acordo com o relatório e contas, os resultados antes de impostos, juros e amortizações (EBITDA) aumentaram 3%, face ao semestre homólogo, para 149 milhões de euros. A carteira de encomendas situava-se a 30 de Junho de 2016 nos 4,6 mil milhões de euros, “reflectindo um rácio carteira de encomendas/vendas e prestações de serviços da área de engenharia & construção de 2,1 anos e suportando a visão de crescimento a médio e longo prazo”. O grupo tenciona apresentar em breve o seu plano estratégico para 2020.

No caso da Teixeira Duarte, os resultados líquidos mantêm-se em terreno negativo, nos 35,7 milhões de euros (acima dos 24,2 milhões do semestre homólogo), “ não obstante o melhor desempenho operacional das empresas do grupo face ao primeiro semestre do ano anterior”, lê-se no relatório enviado à Comissão de mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na segunda-feira ao final da tarde. Com forte presença nos mercados angolanos, a construtora de Oeiras queixa-se sobretudo da variação das diferenças de câmbio e da perda por imparidades trazidas com a participação no Banco Comercial Português (BCP).

A construtora tem 83,2% do total do seu volume de negócios em mercados externos, pelo que a variação das diferenças de câmbio tem particular impacto nos seus resultados. Se no primeiro semestre de 2015 esta variação havia sido favorável à Teixeira Duarte em quase 19 milhões de euros, este ano o impacto foi negativo em 23,7 milhões de euros.

O impacto negativo da perda por imparidade na participação no BCP foi de 14,8 milhões de euros.  Só no segundo trimestre deste ano, dos 13,3 milhões de euros negativos que foram declarados pela empresa, a ligação com o BCP significou 8,4 milhões de euros.

O volume de negócios da Teixeira Duarte foi no primeiro semestre de 2016 de 570 milhões de euros, “o que reflecte uma diminuição 16,7% face ao período homólogo de 2015”.

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