Moody’s avisa que Estado pode ter de voltar a injectar dinheiro na banca

Agência diz que “há bancos que podem precisar de requerer mais capital se as perdas se materializar e isso já está reflectido nos seus ratings.

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A Moody's desceu a nota a seis países Reuters

O Estado pode ter de injectar mais dinheiro nos bancos portugueses, disse à Lusa a principal analista de banca da agência de ‘rating’ Moody’s, Pepa Mori, que antecipa que o sistema financeiro português tenha de voltar a reforçar capital.

“Pensamos que alguns bancos estão em risco de pedir mais capital (...) Há bancos que podem precisar de requerer mais capital se as perdas se materializarem e isso já está reflectido nos seus ‘ratings’”, disse Pepa Mori, analista de banca da agência de notação financeira Moody’s, que participou nesta quarta-feira numa conferência com investidores, em Lisboa.

A responsável disse que, segundo as contas da Moody’s, os bancos vão precisar de “oito mil milhões de euros” para colmatar novas necessidades de capital, isto num cenário mais conservador que a agência já tinha, mas que com a deterioração do ambiente macroeconómico passou a ser o cenário base com que trabalham nesta altura.

O resgate financeiro de 78 mil milhões de euros, acordado em Maio de 2011 com a ‘troika’ (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), incluiu 12 mil milhões de euros destinados à banca, com vista ao cumprimento das metas de capital exigidas pelos reguladores.

A esta linha, o Estado foi buscar no ano passado 3000 milhões de euros para conceder ao BCP num empréstimo obrigacionista e 1500 milhões de euros ao BPI (dos quais já reembolsou 500 milhões). Já neste ano, foram injectados 1100 milhões de euros no Banif, dos quais 700 milhões de euros foram usados na compra de acções, pelo que o Estado é agora (e pelo menos até Junho) dono de 99,2% das acções do banco e de 98,7% dos direitos de voto.

Também na Caixa Geral de Depósitos o Estado injectou 1650 milhões de euros, mas enquanto seu único accionista, pelo que este capital não saiu da linha disponibilizada pelos credores externos.

Questionada sobre que bancos poderão ter de recorrer a esta linha, a responsável disse que entre esses estarão “sobretudo os que já foram capitalizados” com dinheiros públicos, mas sublinhou que isso “não significa necessariamente que todos os bancos que receberam capital do Estado vão precisar de mais”.

Quanto ao regresso da banca nacional aos mercados de capitais, Pepa Mori disse que foi “positivo” alguns bancos terem conseguido emitir dívida nos mercados no final de 2012 e início deste ano (caso do BES e da CGD), mas admitiu que recentes acontecimentos, como a crise em Chipre, podem voltar a colocar entraves ao regresso definitivo aos mercados.

“Na nossa perspectiva não esperamos que uma normalização dos mercados de capitais aconteça a curto prazo para os bancos portugueses”, afirmou.

A analista de banca disse ainda que não é provável que os bancos a operar em Portugal consigam aumentar o crédito à economia a breve trecho, num “contexto de desalavancagem” dos seus balanços e de “recessão económica” em Portugal.

Para a principal analista de banca da agência de rating Moody’s, a “rentabilidade” é um dos principais desafios do sistema bancário português, num momento em que continuará a ser “muito difícil” as instituições gerarem receitas no mercado doméstico, pelo que terão de continuar a apostar nas operações internacionais.

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