Moçambique limita pagamentos com cartão ao exterior a 12.500 euros por ano

Banco central justifica medida restritiva com “situação excepcional”, para prevenir fuga de capitais.

Foto
Os casos que exijam um limite excepcional no uso de cartões devem ser fundamentados Nelson Garrido

O Banco de Moçambique (BM) fixou um limite anual de 700 mil meticais (12.500 euros) para pagamentos ao exterior através de cartões bancários, como forma de conter a fuga de divisas, anunciou a instituição.

Num momento em que a economia moçambicana enfrenta uma forte desvalorização do metical face ao dólar e escassez de divisas, o banco central refere que aquele montante corresponde ao valor agregado a ser atribuído a cada titular, independentemente do número de transacções.

A medida, indica o banco central moçambicano, visa estancar o uso abusivo e excessivo dos cartões internacionais nas transacções comerciais, responsáveis pela fuga de capitais e outros crimes financeiros.

Os casos que exijam o estabelecimento de um limite excepcional devem ser fundamentados, apreciados pelas entidades emitentes e submetidos à decisão do Banco de Moçambique, acrescenta o anúncio.

O Banco de Moçambique avançou no dia 30 de Novembro que vai limitar o uso dos cartões de débito e de crédito no exterior para evitar fuga de divisas, mas sem avançar limites para as transacções.

"Vamos estabelecer limites de utilização de cartões de crédito e débito no exterior", declarou em conferência de imprensa o governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, acrescentando que os bancos seriam instruídos para remodelarem as suas aplicações informáticas.

O governador referiu-se à "situação excepcional" que a economia moçambicana está a atravessar, marcada também por diminuição de ajuda externa e investimento estrangeiro, além do aumento da inflação, e que implica uma alteração dos hábitos de consumo e do modelo de importações.

Ernesto Gove indicou que Moçambique vai ter de encontrar prioridades para as suas importações para gerar divisas, no sentido de garantir o ciclo produtivo em matérias-primas e equipamentos, e a disponibilidade de bens de consumo essenciais, insistindo numa transformação do modelo económico.

Apesar das ameaças que assolam o país, "os fundamentos macroeconómicos não estão abalados", garantiu, destacando que, além das decisões já tomadas em meados de Novembro de revisão das taxas de juro de referência, o banco central vai prosseguir medidas de carácter fiscal, reforçar outras ao nível monetário e manter a supervisão, de modo a garantir que a inflação permaneça baixa e a estabilidade económica.

O Governo moçambicano aprovou, por seu lado, um pacote de medidas de incentivo à produção de bens alimentares e também acções de controlo cambial.

"Estas medidas incluem o estímulo à produção nacional de bens alimentares e também de serviços, incluem boas práticas cambiais para evitar actos especulativos a uma maior agressividade na busca de divisas no exterior", disse o porta-voz do Conselho de Ministros.

Noutra nota divulgada na Internet, o Banco de Moçambique desmente ter ordenado a conversação das contas em dólares junto das instituições bancárias nacionais para moeda nacional. "Não existe qualquer medida determinada pelo BM visando a conversão automática das contas em dólares junto das instituições bancárias nacionais para moeda nacional", refere o comunicado.

O documento esclarece ainda que as notícias postas a circular sobre conversão para moeda local das receitas de exportação e de capitais importados resultaram de um comunicado do banco central de 24 de Novembro, que apenas visava "definir procedimentos tendentes a eliminar posturas incorrectas caracterizadas por arbitragem de taxas de câmbio com fins especulativos". O Banco de Moçambique salienta que toda a sua actuação é regida pela lei cambial e restante legislação em vigor.

Sugerir correcção
Comentar