Ministra justificou demissão com liberdade para falar na comissão de inquérito

Silva Rodrigues, que foi afastado da presidência da Metro de Lisboa/Carris por causa dos swaps, lançou duras críticas ao Governo.

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Silva Rodrigues no Parlamento Daniel Rocha

O ex-presidente da Metro de Lisboa/Carris, que está a ser ouvido nesta quarta-feira no Parlamento depois de ter sido afastado do cargo na sequência da polémica dos swaps, revelou que, na reunião em que a actual ministra das Finanças lhe disse que iria ser demitido, Maria Luís Albuquerque justificou a decisão com a liberdade que daria ao gestor para falar abertamente sobre o caso na Assembleia da República.

“Nessa reunião [ocorrida a 31 de Maio], a então secretária de Estado do Tesouro disse-me que a demissão não representava um julgamento do Governo, mas acontecia porque o Governo entendia que os gestores deveriam estar sem qualquer constrangimento quando se apresentassem na comissão parlamentar de inquérito”, afirmou Silva Rodrigues.

Maria Luís Albuquerque substituiu Vítor Gaspar no Ministério das Finanças, no início de Julho. Foi à governante que coube, em conjunto com o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, informar Silva Rodrigues do afastamento do cargo, que foi oficializado dias depois da reunião, no Conselho de Ministros de 6 de Junho.

O ex-presidente da Metro de Lisboa/Carris, cuja demissão o executivo associou à subscrição de dois swaps considerados especulativos enquanto líder da Carris (lugar que ocupou entre 2003 e 2012), lançou duras críticas à actuação do Governo.

“Parece que era preciso encontrar responsáveis”, referiu o gestor, que defende que a sua demissão foi precipitada por “razões políticas”. “Estou convencido de que se o assunto não tivesse seguido o rumo que seguiu, pela estrada que o Governo percorreu, não teria sido demitido”, disse.

Antes da reunião de 31 de Maio, Silva Rodrigues esteve com Maria Luís Albuquerque e Sérgio Monteiro a 6 de Maio. Nessa data, foi-lhe entregue um documento que apresentou nesta quarta-feira aos deputados, classificando-o de “papelucho”. Trata-se de uma folha A4 onde são enumerados os dois swaps subscritos pela Carris junto do Santander e que um relatório do IGCP considerou serem tóxicos.

O ex-presidente da Metro de Lisboa/Carris revelou também que, quando o caso rebentou (a partir da demissão dos ex-secretários de Estado Paulo Braga Lino e Juvenal da Silva Peneda, em Abril), manifestou “junto do secretário de Estado dos Transportes vontade de fazer uma declaração pública sobre o assunto” para salvaguardar a imagem do grupo. No entanto, foi-lhe dito que “não deveria pronunciar-se sobre o tema porque não era apenas uma questão da Carris e que a tomada de uma posição poderia prejudicar a estratégia de negociação do Governo com os bancos”.

Interpelado pelo PSD sobre o grau de especulação dos dois swaps que autorizou na Carris (e que acumulam perdas potenciais superiores a 50 milhões de euros), Silva Rodrigues respondeu que “alto risco é ocupar determinadas funções no Estado, quando o Estado actua desta forma”.

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