Microsoft Portugal aposta na tecnologia da Xbox One para aplicar na saúde e ensino

Director-geral da empresa prevê um ano mais positivo em 2015.

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Stephen Brashear/Getty Images/AFP

O director-geral da Microsoft Portugal, João Couto, disse à Lusa que pretende apostar na tecnologia da consola Xbox One para aplicar a áreas da saúde e do ensino, onde já estão a decorrer projectos-piloto no mercado português.

"A posição da Xbox tem sido relativamente residual em Portugal, com quotas de mercado a rondar os 10%", embora actualmente "ronde os 15%", disse o director-geral da subsidiária tecnológica portuguesa, em entrevista à Lusa.

"Queríamos reavivar esta área de entretenimento da consola e aproveitámos o lançamento da Xbox One, em Setembro, cuja receptividade foi muito positiva", disse, adiantando que o mesmo aconteceu do lado dos parceiros de distribuição.

Esta nova geração de consolas inclui não só entretenimento com toda a família, mas também permite aos seus utilizadores usufruir de todos os serviços da Microsoft como o Skype (que permite fazer videochamadas através da Internet), aceder ao videoclube, como através da câmara Kinect (que reconhece voz e gestos), com aplicações também para o sector empresarial.

"Estamos a apostar neste tipo de aplicações empresariais para torná-las úteis em áreas como a educação e a saúde", já que permitem ter "visão infravermelhos" ou até ver "batimentos cardíacos", explicou João Couto.

Por exemplo, um médico pode fazer remotamente um diagnóstico ou os alunos assistirem uma aula através do Skype, acrescentou.
"Estamos a fazer algumas iniciativas nesta área, temos dois [projectos] pilotos", disse o responsável.

"Com a utilização da Xbox [a Microsoft Portugal tem um projecto-piloto que] estimula crianças com dificuldade de aprendizagem", ou seja, "temos um piloto para dar ensino remoto em todos os alunos que não conseguem ir à escola, mas também na saúde, incluindo a monitorização de idosos que anunciámos com a GNR", acrescentou.

Em Novembro, a Microsoft anunciou um projecto-piloto em conjunto com a GNR para idosos em Évora, tendo sido colocado software e hardware numa sala de estar com 10 idosos para minimizar o isolamento, garantir o bem-estar e segurança e acompanhar em tempo real o estado de saúde dos mesmos.

Questionado sobre se estes pilotos estão a ser feitos com o sector público ou privado, João Couto disse que os projectos são com ambos.

"Há uma utilização impactante na área da saúde e ensino. Há uma série de sensores que são monitorizados pela GNR", no caso do projecto de Évora, adiantando que "a própria câmara tem controlo por voz", tecnologia da nova geração XBox One.
Para o director-geral da Microsoft Portugal, 2015 será o ano em que estes projectos poderão ganhar uma nova dimensão no mercado português.

"É o ano em que estamos a prever escalar estes projectos, estamos a trabalhar" nisso, disse.

"Provavelmente no primeiro semestre de 2015 deveremos estar em condições de escalar um destes programas", sublinhou.
Relativamente à consola de jogos, a meta é "chegar a 15% em dois anos" no mercado português, apontou, uma vez que a Xbox One está a ter "uma boa receptividade", concluiu João Couto.

2015 mais positivo 
O director-geral da Microsoft Portugal considerou que o cenário económico português deverá ser mais positivo em 2015 do que este ano, embora ainda moderado, e apontou que já há indicadores favoráveis.

Questionado pela Lusa sobre qual é expectativa relativamente à economia portuguesa no próximo ano, João Couto disse: "A nossa visão é positiva".

Isto porque "há um conjunto de indicadores que parecem convergir para um cenário positivo, mas moderado", afirmou, salientando que espera que 2015 será um ano melhor do que 2014.

"A parte da internacionalização e da exportação está a acelerar nos sectores tradicionais. As grandes empresas que estavam internacionalizadas estão a aumentar" a sua posição no exterior, adiantou.

Deu como exemplo as empresas de sectores tradicionais como o calçado, têxtil, mobiliário ou vinhos, que começam a ter "algum dinamismo".

Além disso, "há toda uma categoria dos novos negócios na área de serviços a surgir numa perspectiva global", como é o caso da área de jogos, onde "começamos a ter aqui uma indústria de jogos significativa que dão cartas a nível internacional, que estão a surgir já nesta economia digital", apontou.

As tecnológicas portuguesas Glose, CARM ou Arqueonautas são alguns dos exemplos de empresas que estão a marcar presença no espaço internacional.
"Do lado da internacionalização vai haver um efeito de estímulo mais positivo que em 2014, que foi de arranque", considerou João Couto, que disse acreditar que o consumo interno melhore, "não só pela desaceleração do desemprego", mas também sob o efeito da expansão internacional das empresas.

Também "a questão do petróleo vai ter um impacto positivo na economia, pela estabilização do preço", acrescentou.
Por estes factores, João Couto considerou que "vai haver um cenário macroeconómico relativamente positivo, um bocadinho em linha com aquilo que o Governo estima para 2015".

Relativamente ao impacto na Microsoft Portugal, o director-geral considera que será igualmente positivo.

"Estamos a verificar que as empresas, que passaram cinco, seis, sete anos em que cortaram de forma muito significativa nos investimentos em tecnologias, estão agora a chegar a um ciclo de reinvestimento para modernizar as operações, reconquistar eficiência, competitividade no mercado global e suportar os seus ciclos de internacionalização", explicou.

"Estamos a sentir uma maior abertura das empresas portuguesas no investimento, queremos que as empresas liderem na cloud [nuvem] na economia digital que está surgir", disse.

Questionado se as eleições legislativas que irão ocorrer no próximo ano poderão afectar o cenário económico, João Couto admitiu que podem surgir atrasos em certas decisões, mas que o impacto será maior no sector público.

"Acho que vai atrasar um bocadinho algumas decisões, principalmente no sector público", afirmou.

A crise económica teve "um efeito muito benéfico" da mesma no sector privado, já que obrigou ao "desmame da dependência" do sector público". Isto porque o privado "percebeu que não pode viver tão dependente e isso talvez tenha sido o efeito mais positivo da nossa crise", comentou.

"O impacto das eleições no sector privado vai ser mais reduzido", concluiu.

Telecoms mais dinâmicas 
O director-geral da Microsoft Portugal considerou que o sector das telecomunicações "está especialmente dinâmico" este ano, mas manifestou-se preocupado com a capacidade de investimento das empresas no mercado português.

Questionado como vê actualmente o sector das telecomunicações em Portugal, João Couto afirmou: "Acho que o sector está muito dinâmico, já era muito dinâmico 'per si', mas este ano está especialmente dinâmico".

"Há aqui bastantes alterações que estão a decorrer: por um lado a fusão da Zon com a Optimus, que resultou na NOS, depois a própria alteração da Vodafone com um plano de investimento mais agressivo no fixo, que é uma revolução para um grupo como a Vodafone, e agora estas alterações a nível accionista na PT", apontou.

"O sector tem uma importância muito grande na dinamização e na modernização das empresas", já que permite "uma mobilização das forças de trabalho nas empresas", o que tem "um impacto muito grande na produtividade", disse.

Para João Couto, "a dinâmica concorrencial que tem havido no sector teve um impacto muito positivo, quer no consumo, quer na parte empresarial".

No entanto, "a única preocupação que vejo é que o sector reduziu nos últimos cinco anos 2.000 milhões de euros em termos de valor de mercado. Valia mais ou menos 6.000 milhões de euros e isso traz uma preocupação porque tem um impacto na capacidade das empresas em continuar os seus ciclos de investimento e de inovação", destacou.

"Por um lado a concorrência é boa, por outro lado há uma limitação" nos investimentos que as empresas estão a fazer no sector.
"Isso começa a tornar-se visível porque Portugal, que há cinco ou seis anos atrás era claramente líder a nível europeu, hoje conta já com muitos países que comparam com aquilo que o sector português fez a nível do móvel e do fixo", explicou João Couto.

"Ainda temos muitas horas de inovação, mas é um risco que existe, podemos de deixar de ser líderes claros a nível europeu", considerou, embora esteja "confiante que as empresas que estão no mercado estão muito atentas ao tema".

João Couto sublinhou que um dos critérios de investimento em Portugal são as infra-estruturas em telecomunicações

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