Mercados financeiros regressaram à normalidade, mas a incerteza só agora começou

As quedas iniciais dos contractos de futuros, do petróleo, da moeda mexicana, contrastam com a valorização de alguns índices accionistas europeus e norte-americanos.

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Bolsas entre a surpresa e a incerteza Reuters/ISSEI KATO

A reacção dos mercados financeiros à vitória de Donald Trump teve um antes e um depois. A surpresa eleitoral - a vitória de Hillary Clinton tinha sido antecipada pelos investidores - gerou fortes quedas, da ordem dos 4%, nos mercados de futuros, nomeadamente sobre o petróleo, gerou uma perda sem precedentes na moeda mexicana face ao dólar (-13% que depois se reduziu para -7%), e levou a uma desvalorização acima de 5% do principal índice japonês. Com acontece em momentos de incerteza, verificou-se uma forte procura de activos refúgio, como as obrigações soberanas, o ouro, entre outros.

O “depois”, apenas para esta quarta-feira, chegou com o discurso de Trump, bem mais conciliador que na campanha, o que contribui para moderar a abertura negativas dos mercados accionistas europeus, e que se traduziu também numa recuperação dos activos, como o petróleo e na recuperação do dólar face ao euro.

As bolsas norte-americanas abriram tranquilas, e rapidamente passaram para ganhos impressionantes (o Dow Jones apresentava na recta final da sessão a subir perto de 2%, e o Nasdaq e o S6P 500 mais de 1%). Os maiores índices europeus – Londres, Frankfurt e Paris fecharam com ganhos entre 1% e 1,5%. A destoar só mesmo as quedas de Madrid, de Milão e de Lisboa. A praça portuguesa liderou o grupo perdedor, com uma desvalorização de 1,47%.

Para além do novo discurso de Trump, a travar o nervosismo inicial dos investidores esteve a valorização de alguns sectores que podem sair a ganhar, como farmacêuticas, maquinaria pesada (a pensar no proteccionismo e eventualmente na construção do muro com o méxico), mas também parte do sector financeiro, em face da possível travagem na política monetária da Reserva Federal norte-americana. A ainda pela oportunidade de realização de algumas mais valias-valias, depois das fortes quedas iniciais. A pressão compradora colocou o brent cotado em Londres a subir 0,38% e o crude a ganhar 0,34% nos EUA.

Mas há um “depois” que se iniciou esta quarta-feira, que inclui uma grande incerteza, sobre o que o novo inquilino da Casa Branca vai fazer em relação a algumas das suas bandeiras de campanha, nomeadamente em relação aos acordos comerciais com o Canadá, o México e a China. A incerteza não é positiva para os mercados, pelo que os analistas dão como certa uma maior volatilidade (variação entre ganhos e perdas) nos próximos meses.

Na contabilização das perdas e ganhos imediatos, a escolha do magnata Trump penalizou os multimilionários dos países vizinhos, revelada pelo índice de multimilionários da agência Bloomberg, que registou perdas de 41 mil milhões de dólares (37.100 milhões de euros). A liderar as perdas no índice esteve Carlos Slim, dono da principal empresa de telecomunicações mexicana, e que é mesmo o quinto homem mais rico do mundo. De acordo com aquele indicador, a fortuna do magnata mexicano encolheu uns expressivos 9,2%, no momento em que a o peso mexicano afundou mais de 12%. Com Luísa Pinto

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