Presidente do BCE diz que medidas dolorosas nos países em dificuldades começam a dar frutos

Presidente do BCE defendeu em Londres mais integração europeia e deixou um recado a David Cameron: “A Europa precisa de um Reino Unido europeu”.

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Draghi discursou na City of London Corporation Stefan Wermuth/Reuters

A zona euro está mais estável do que há um ano e, nos países sob programas de ajustamento financeiro, como Portugal, a aplicação de “medidas dolorosas” começa a dar resultados, entende o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.

Em Londres, onde em Julho do ano passado garantiu que o BCE tudo faria para preservar a moeda única, Draghi voltou agora a falar sobre a situação europeia, defendendo que os países devem reforçar a integração, porque a resposta à crise significa “mais Europa”.

Num discurso na quinta-feira na City of London Corporation, entidade responsável pela gestão da área financeira da capital britânica, o presidente do BCE defendeu que os “mercados estão plenamente confiantes de que o euro é uma moeda forte e estável”. E para isso contribui a maior estabilidade da moeda única em relação há um ano, disse.

Foi, também em Londres, em Julho do ano passado, que Draghi deixou um sinal de estabilidade aos mercados, quando garantiu que o BCE estava preparado para defender o euro em toda a linha. Uma mensagem de antecipação ao programa de compra ilimitada de dívida pública que a autoridade monetária viria a criar em Setembro de 2012, com o objectivo de baixar as taxas de juro dos países atacados pelos especuladores.

Hoje, nos países sob intervenção da troika (BCE, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), os progressos são visíveis, sustentou. “Vemos isto de forma clara, por exemplo, nas melhorias impressionantes no desempenho das exportações na Irlanda, em Espanha e Portugal e no recente aumento da produção industrial nos últimos dois países”, enfatizou.

Draghi referiu-se ainda às medidas que considera necessárias para melhorar o “funcionamento estrutural” das economias nacionais, tais como a redução do espaço entre a compensação laboral e o crescimento da produtividade e a “reforma da estrutura dos mercados de trabalho nalguns países”, de forma a permitir “ajustamentos nominais que evitem que o peso de condições de mercado mais flexíveis caia desproporcionalmente sobre as gerações mais jovens”.

“Em particular, são necessárias reformas para garantir a justiça intergeracional ao abordar o fenómeno de insiders contra outsiders. Nalguns países da zona euro, este fenómeno está a conduzir a níveis de desemprego jovem que ameaçam o próprio tecido da sociedade”, declarou o responsável do BCE, que elogiou as reformas laborais e de consolidação orçamental aplicadas em países sob programas de ajustamento.

Num discurso em que voltou a apelar à criação de uma união bancária, Draghi explicou que, “com tantos jovens europeus a sentirem-se limitados nas oportunidades e nas perspectivas aproveitadas pelas gerações prévias, a urgência de avançar com esta visão [de estabilidade económica e prosperidade para a Europa] nunca foi maior”.

Draghi aproveitou o facto de estar em Londres para dizer que a “Europa precisa de um Reino Unido europeu tanto quanto o Reino Unido precisa de uma Europa britânica”. Uma posição assumida num momento em que a ala mais dura dos tories britânicos (conservadores) volta a desafiar o primeiro-ministro, David Cameron, que promete, caso seja eleito, renegociar a relação do Reino Unido com a UE, submetendo a posição britânica na União a referendo.
 

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