Mais de metade da população mundial está excluída da economia digital

Banco Mundial avalia que vantagens do acesso à internet para a economia global ficam aquém das expectativas.

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Embora a evolução tecnológica tenha representado avanços consideráveis, as vantagens apenas favorecem uma fracção da população mundial. REUTERS/Mal Langsdon/Files

Apesar da rápida disseminação da internet por equipamentos digitais como os telemóveis pelos países em desenvolvimento, os dividendos esperados de maior crescimento, mais emprego e melhores serviços públicos não acompanham o ritmo de propagação desta tecnologia.

A conclusão de que a maior parte dos “dividendos digitais” beneficia, essencialmente, os mais ricos, mais qualificados e mais influentes em vez esbater as assimetrias é do estudo “Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial: Dividendos Digitais” do Banco Mundial, que avalia que 60% da população mundial esteja excluída da crescente esfera da economia digital.

Embora a evolução tecnológica tenha representado avanços consideráveis, como o acesso a informação, a redução de custos e maior rapidez na sua propagação e a criação, estas vantagens apenas favorecem uma fracção da população mundial.

Apesar de o número de indivíduos com acesso à web ter triplicado no espaço de uma década, com 3,2 mil milhões de habitantes a utilizar este serviço no final de 2015, a internet continua a não chegar a esses 60%, o que corresponde a 4 mil milhões de pessoas em todo o globo.

Para além de o impacto da evolução da tecnologia ter ficado aquém das expectativas, está também “distribuído de forma desigual”, pode ler-se no estudo liderado por dois economistas chefes do Banco Mundial, Deepak Mishra e Uwe Deichmann. Ou seja, os restantes 40% da população mundial estão melhor posicionados para tirar partido das vantagens proporcionadas pelo avanço tecnológico.

A pequena revolução operada pela internet em vários sectores está longe de ter apenas pontos positivos. O Banco Mundial avalia que, embora as empresas estejam mais interligadas, o ritmo de crescimento da produtividade abrandou e o mercado de trabalho tornou-se “mais polarizado em muitos países”, resultando no aumento das desigualdades. Estas tendências preocupam, “não porque sejam causadas pela rápida divulgação de tecnologias, mas porque têm persistido” apesar disso.

Os novos empregos que têm sido criados não compensam os postos de trabalho esvaziados pela automatização dos processos pelo que, mais uma vez, as “pessoas com melhor nível de instrução, bem conectadas e mais capazes” recebem a maior parte dos benefícios, “limitando os ganhos da revolução digital”. Da mesma forma, como a economia digital “favorece monopólios naturais”, um ambiente empresarial pouco competitivo pode “resultar em mercados mais concentrados”, o que consolida as empresas já constituídas.

Para inverter este sentido, o Banco Mundial sugere medidas como a adaptação das “aptidões dos trabalhadores à procura” bem como o reforço na regulamentação que “assegure a concorrência entre empresas”. Estas políticas enquadram-se naquilo a que a instituição se refere como um “fundamento analógico sólido”, uma vez que considera que “uma maior adopção digital não será suficiente” para tentar anular o fosso.

O mesmo é dizer que a propagação da tecnologia, por si só, não é suficiente para por fim às desigualdades no acesso à informação. O “hiato digital” mantém-se, com factores como rendimento, idade, geografia e género a constituir-se como relevantes. O facto de cerca de 20% da população mundial não saber ler nem escrever mostra como o acesso à economia digital não está apenas condicionado por questões tecnológicas.

A instituição sediada em Washington considera que, tal como os mais antigos desafios ao desenvolvimento, para que haja uma melhor distribuição dos dividendos digitais é necessário criar um ambiente favorável às empresas e construir sistemas de formação eficazes. 

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