Ilídio Pinho, Manuel Vilarinho e Luís Portela entre os 240 portugueses nos Panama Papers

Revelações do Expresso e TVI. Ex-presidente do Benfica assume ter tido uma offshore, empresário de Vale de Cambra e ex-presidente da Bial negam.

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Há 11,5 milhões de documentos na origem das revelações do "Panama Papers" Daniel Rocha

O ex-presidente do Benfica Manuel Vilarinho, o empresário Ilídio Pinho e o chairman do grupo farmacêutico Bial, Luís Portela, são alguns dos mais de 240 portugueses que surgem nos documentos do caso Panama Papers, que põem a descoberto clientes da Mossack Fonseca, a firma de advogados especializada na gestão de offshores. A revelação surge na investigação do Expresso e da TVI, parceiros do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI).

Aos dois órgãos, Vilarinho assumiu a sua ligação ao caso, confessando até já estar à espera de ser contactado. “Pois é claro que o meu nome aparece nos Papéis do Panamá, eu sei que estou lá, sabe o Ministério Público e sabe o país todo”, reagiu. O antigo presidente do Benfica confirmou assim que teve um offshore e que isso, por si só, não é ilegal. “Não tenho rabos-de-palha e sou um cidadão cumpridor. Já paguei tudo o que devia”, disse Vilarinho ao semanário. “Isso não é crime (...). Cometi um pecado que está do DCIAP", acrescenta, explicando tratar-se de um “problema grave” com o BES.

Apesar de curta (2000-2003), durante a sua presidência tomaram-se decisões importantes na vida do clube, nomeadamente a da demolição do antigo Estádio da Luz e a construção de um novo estádio.

Os documentos revelam também surge nos documentos a ES Enterprise, que, tal como o PÚBLICO noticiou em Novembro de 2014, foi usada como "saco azul"  do Grupo Espírito Santo (GES) para “pagamentos extras” e “não documentados”.

O grupo Bial no Panamá

Outro dos visados nos documentos, Luís Portela, afirmou à TVI e Expresso que “é público que a Bial tem uma filial no Panamá que coordena toda a actividade do grupo na América Latina”. Mas garantiu: “Nego qualquer relação com offshores. Nem eu, nem a Bial temos qualquer offshore”.

Os dois jornalistas portugueses identificaram nos documentos que Portela surge associado à Grandison Internatonal Group Corp, que controlaria indirectamente em 2004. Segundo a mesma investigação, terá sido depois de adquirir esta offshore que o grupo farmacêutico criou a Bial América Latina SA, na cidade de Panamá.

Luís Portela, natural do Porto, é actualmente o presidente não executivo da Bial, agora liderada pelo seu filho, António Portela. O empresário, médico de formação, tornou-se presidente da farmacêutica aos 27 anos. Em 1994 criou a Fundação Bial, é professor Honorário da Universidade de Cádiz e em 1998 foi distinguido com o Prémio de Neurociências da Louisiana State University, nos EUA.

O engenheiro de Vale de Cambra

Ilídio Pinho, empresário de Vale de Cambra, de 77 anos, foi o fundador da empresa de transporte e distribuição de gás Nacional Gás, sendo actualmente membro do conselho Geral e de Supervisão da EDP. Entre foi membro do conselho de administração não executivo do BES (de 2000 e 2005), foi accionista Companhia de Electricidade de Macau e presidente da Comissão de Acompanhamento e Estratégia da Fomentinvest, empresa onde Pedro Passos Coelho foi administrador antes de ser primeiro-ministro.

Também o empresário negou alguma vez ter tido contas no país centro-americano. “Durante toda a vida efectuou milhares de negócios e não tenho nem nunca tive contas no Panamá”, afirmou, citado pela TVI.

Conta o Expresso que o seu nome surge associado a um grupo de nove pessoas que “obtiveram ‘luz verde’ para abrir e fechar contas da empresa IPC Management Inc, ligada ao veículo offshore Stardec Invesmente SA”. O empresário garante nada ter a ver com a sociedade em causa.

Investigação em curso

À medida que os jornalistas associados ao consórcio desfiam a extensa informação contida nos 11,5 milhões de documentos vão sendo destapadas algumas pontas dos clientes envolvidos, em cada país, com a Mossack Fonseca.

A resposta à pergunta sobre quem são (alguns dos) portugueses começa agora a ser dada aos poucos. A investigação portuguesa está a ser feita em conjunto por dois jornalistas daqueles dois órgãos de comunicação – Micael Pereira, do semanário da Impresa, e Rui Araújo, da estação de televisão da Media Capital.

Até agora sabia-se que Idalécio Oliveira, um empresário de Vouzela, era citado nos documentos, por alegado envolvimento na operação Lava-Jato, na qual a justiça brasileira investiga suspeitas de corrupção na Petrobras. Oliveira, com interesses empresariais a exploração de petróleo, gás natural e minérios, é apontado como tendo sido dono de um conglomerado de nome Lusitania Group, composto por 14 empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas, entre 2003 e 2011.

Em relação a políticos portugueses, não se conhecem os nomes, mas o isco está lançado. Nas primeiras revelações divulgadas na noite desta sexta-feira, o Expresso avança que haverá ex-ministros portugueses entre os clientes da panamiana Mossack Fonseca. Segundo os documentos, Kate Jordan, uma gestora de fortunas de uma sucursal da Mossack no Luxemburgo, admitia isso mesmo num documento interno da empresa.

Conta o semanário que a 20 de Junho de 2013 Jorge Cunha batia à porta dos escritórios da Mossack Fonseca no Luxemburgo à procura de sociedades offshore em Hong Kong e no Panamá que pudessem titulares de contas bancárias. “Alguns dos clientes finais do contacto em Portugal são ex-ministros e/ou políticos”, razão pela qual iriam “aparecer como PEP [Pessoas Politicamente Expostas] no processo de dever de diligência”, o processo de verificação de perfil e das ligações pessoais e profissionais dessas pessoas.

O 32.º presidente do Benfica

Manuel Vilarinho assume ter tido uma offshore. No Benfica, desempenhou vários cargos (foi membro do Conselho Fiscal em diversas direcções e vice-presidente durante a presidência de Manuel Damásio), antes de ter sido eleito como 32.º presidente do Benfica em Outubro de 2000 – derrotou nas urnas o presidente em exercício João Vale e Azevedo, naquele que foi o acto eleitoral mais concorrido do clube até hoje.

Vilarinho exerceu apenas um mandato de presidente do Benfica, não se recandidatando ao cargo, tendo preferido manifestar o seu apoio à candidatura de Luís Filipe Vieira, à data director para o futebol. Mais tarde exerceria ainda o cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube. Esteve no comando dos destinos dos “encarnados” num período particularmente conturbado e quando as “águias” enfrentaram uma grave crise financeira e desportiva.

Nasceu em Lisboa, em 1948, tendo-se licenciado em Direito. Ainda se dedicou ao exercício da advocacia durante alguns anos, mas acabou por se empenhar na actividade de gestor de empresas no sector do café.

Já depois de ter abandonado as funções no clube “encarnado” viu-se envolvido em alguns casos polémicos. Chegou mesmo a ser detido por resistência à autoridade policial na sequência de uma operação stop onde acusou também álcool no sangue.

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