Maioria dos créditos continua em incumprimento quatro anos depois do fecho das empresas

Banco de Portugal espera que o desendividamento do tecido empresarial continue a reflectir “abatimento progressivo” dos empréstimos.

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O número de insolvências está a diminuir desde 2013 Paulo Pimenta

As empresas que cessam a actividade são as que tendem a contribuir mais para o desendividamento do conjunto do tecido empresarial. Depois de sairem do mercado, a amortização dos empréstimos à banca processa-se de forma gradual. Mas três a quatro anos após o fim da actividade, a maioria dos créditos continua por pagar. Segundo as contas do Banco de Portugal (BdP), cerca de 60% mantém-se registado como vencido.

As conclusões são apresentadas no Boletim Económico de Maio, publicado nesta quarta-feira, onde o banco central faz uma análise ao fim da actividade das empresas e ao seu “processo de desalavancagem”, tendo como ponto de partida os dados para os anos de 2011 a 2013.

Como nos últimos anos “um elevado número de empresas em Portugal tem vindo a encerrar a sua actividade”, a saída de empresas endividadas “contribui naturalmente para uma redução da dívida agregada do sector das sociedades não financeiras”.

Se, por um lado, as empresas que entraram no mercado “deram um contributo positivo para a variação da dívida numa magnitude diminuta”, por outro, o contributo negativo para a variação da dívida “decorrente da saída das empresas do mercado é significativo e crescente ao longo dos três anos analisados”. Já para as empresas que continuaram em actividade, “a dívida aumentou significativamente em 2011, num montante mais reduzido em 2012, e diminuiu em 2013”, enquadra o BdP.

São as empresas que saem do mercado que apresentam rácios de endividamento mais elevados, por comparação com aquelas que continuam de pé, contribuindo para uma “recomposição” do tecido empresarial “a favor de empresas com uma melhor situação financeira”.

No entanto, o encerramento não significa que o montante dos créditos desapareça do balanço dos bancos, porque “mesmo após o encerramento de uma empresa, a existência de activos e de garantias pessoais [nomeadamente dos sócios] permite que uma parte da dívida possa ainda ser amortizada”, lembra o supervisor liderado por Carlos Costa.

Desde logo, nos anos anteriores ao encerramento, as dificuldades das empresas fazem com que se acentuem as situações de incumprimento bancário. Há uma tendência de “substituição do crédito classificado em situação regular por crédito vencido e, em menor grau, por crédito abatido ao activo dos bancos”. E o mesmo acontece nos anos seguintes ao encerramento. Um a dois anos após a saída das empresas, o valor dos empréstimos por pagar supera o montante dos créditos regularizados, sem, contudo, deixar de haver paralelamente “algumas amortizações de crédito”.

O facto de isto acontecer, em particular, no período imediatamente a seguir ao fim das empresas leva o BdP a atribuir o pagamento dos empréstimos em falta à execução de garantias ou ao pagamento de dívida por parte dos sócios das empresas.

Embora os valores do BdP mostrem que, no final de 2014, três a quatro anos depois da cessão da actividade do universo de empresas analisadas, a maioria do crédito continua por pagar, há “uma tendência de redução e sendo substituído por crédito abatido”.

Para o supervisor bancário, esta situação sugere que “o abatimento dos créditos dos balanços das instituições financeiras se processa de uma forma gradual”. E embora “o número de insolvências de empresas apresente uma tendência de diminuição desde 2013, é de esperar que o processo de desalavancagem do sector das sociedades não financeiras continue nos próximos anos a reflectir, em parte, o abatimento progressivo de parte dos créditos das empresas que têm saído do mercado nos últimos anos”.

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