Lucros da Jerónimo Martins caem mais de 20% num ano “difícil”

Dona do Pingo Doce subiu vendas mas viu cair o resultado líquido para 302 milhões.

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Pedro Soares dos Santos diz que o desempenho de 2014 foi "robusto" João Cordeiro/Arquivo

A primeira frase do comunicado da Jerónimo Martins sobre os resultados financeiros de 2014 arranca com “num ano difícil e cheio de desafios”. E os números do grupo, dono do Pingo Doce, espelham isso mesmo. A deflação alimentar (queda de preços) “sem precedentes” e o aumento da concorrência na Polónia – que garante 66,5% do total das vendas – contribuíram para uma queda de 21,1% dos lucros atribuídos aos accionistas, para 302 milhões de euros.

A empresa liderada por Pedro Soares dos Santos obteve vendas de 1268 milhões de euros, mais 7,2% em comparação com 2013 e um EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 733 milhões de euros (menos 5,6% face ao período homólogo). “Num ano difícil e cheio de desafios para o sector do retalho, devido a níveis de deflação sem precedentes, conseguimos fortalecer ainda mais a competitividade das nossas principais áreas de negócio”, lê-se no comunicado.

Pedro Soares dos Santos destaca a “forte geração de cash flow” e um “forte desempenho em termos de quota de mercado” das empresas, mas sublinha que os resultados foram “impactados por uma combinação de factores de pressão”. Aponta as condições de mercado “muito exigentes”, a forte deflação alimentar que afectou as vendas, a “inflação ao nível de custos e as perdas relacionadas com novos negócios”. Ainda assim, diz que o desempenho de 2014 foi “robusto”, embora o foco “seja agora o ano de 2015”.

Estes novos negócios, onde se incluem os supermercados Ara na Colômbia e as lojas de saúde e bem-estar Hebe, na Polónia, tiveram um contributo negativo para a evolução do EBITDA (de -18%). A Ara reportou vendas de 66 milhões de euros e a Hebe de 87 milhões. Na Colômbia, a Jerónimo Martins  abriu 50 novos supermercados e tem em curso a expansão para a segunda região (na Costa do Caribe).

O contexto na Polónia, o motor da Jerónimo Martins, alterou-se com os concorrentes da cadeia de supermercados Biedronka a apostarem em fortes promoções, ao mesmo tempo que a “inflação alimentar deslizou para terreno negativo no segundo trimestre de 2014”, derrapando no ano completo para -0,9%. As vendas, tendo em conta o mesmo número de lojas, caíram 0,8%, num ano em que encerraram 17 lojas e abriram 194 Biedronka.

Em Portugal, o Pingo Doce conseguiu crescer as vendas 1,1% dentro do mesmo universo de lojas. Tendo em contas encerramentos (uma loja) e aberturas (duas), as receitas da cadeia de supermercados alcançaram os 3234 milhões de euros, uma subida de 1,7% face a 2013. O contributo do Pingo Doce para as vendas reduziu-se de 26,9% para 25,5%.

“A sensibilidade do consumidor ao preço manteve-se alta e o Pingo Doce continuou a investir com sucesso na sua estratégia promocional, mantendo a força dos seus pilares estratégicos fundamentais: qualidade e variedade dos frescos e qualidade e inovação das suas marcas próprias”, lê-se no comunicado enviado ao final da tarde para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Este ano, a prioridade mantém-se no crescimento das vendas, mas a deflação alimentar na Polónia “deverá manter-se um desafio”, admite a empresa. As palavras de ordem são “ajustar a estrutura de custos” da empresa e “manter um forte foco na eficiência e produtividade”.

O investimento deverá aumentar entre 500 a 550 milhões de euros, 60% dos quais serão destinados à Biedronka.

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