O ano da "resiliência" deu à EDP um lucro de 1040 milhões

Empresa liderada por António Mexia pondera ir ao mercado levantar 750 milhões de euros com uma emissão de dívida a dez anos

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EDP pagou 311 milhões de euros em impostos em 2014 Paulo Ricca

Resiliência. Ao longo de 2014, em momentos de apresentação de resultados trimestrais, o presidente da EDP, António Mexia, foi destacando a capacidade da empresa em compensar impactos negativos com controlo de custos e gestão competente. E foi o que voltou a fazer esta terça-feira na apresentação dos resultados anuais de 2014, ano em que o lucro da eléctrica cresceu 4%, para 1040 milhões de euros, ficando ligeiramente acima do esperado pelos analistas financeiros. Foi o ano em que uma “maior hidraulicidade, boa gestão e controle de custos" conseguiram absorver efeitos negativos como "os custos regulatórios e maior impacto dos impostos”, afirmou Mexia, citado pela agência Lusa.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) da EDP melhorou apenas 1%, para 3642 milhões de euros. A penalizar os resultados estiveram os impactos cambiais, a seca extrema no Brasil e as medidas de regulação na Península Ibérica. A margem bruta recuou 2%, para 5367 milhões de euros.

Segundo o comunicado divulgado pela EDP, em Espanha, a alteração do quadro regulatório aplicável à actividade eólica e os preços de mercado mais baixos fizeram encolher o EBITDA em 75 milhões de euros.

Já no Brasil, a desvalorização do real face ao euro tirou 55 milhões de euros às contas e os resultados foram ainda afectados por custos de electricidade mais caros, resultantes da seca extrema, que tiveram impacto negativo de 121 milhões de euros. Ainda assim, a contribuição da EDP Brasil para o EBITDA do grupo subiu 3% (mais 18 milhões de euros).

É que além da venda de activos, no Brasil, ao contrário do que aconteceu com Espanha, as alterações regulatórias tiveram um impacto positivo de 64 milhões de euros, permitindo à empresa “o reconhecimento contabilístico dos recebimentos futuros da actividade regulada”.

As contas de 2014 também reflectem as mais-valias com a venda de activos. Em Espanha, em 2013, a alienação de activos de transmissão de gás tinha resultado em mais-valias de 56 milhões de euros, enquanto em 2014, a venda à CTG de 50% do capital das barragens Jari/Cachoeira-Caldeirão, Brasil, teve um efeito positivo de 131 milhões de euros.

No ano passado os custos operacionais da EDP recuaram 6% face a 2013, para 1450 milhões de euros. O investimento global do grupo atingiu aproximadamente 1800 milhões de euros (menos 20% face a 2013 e deverá continuar a cair até 2017). Segundo a empresa, o investimento de expansão totalizou 1249 milhões de euros, essencialmente nova capacidade hídrica e eólica.

A dívida líquida manteve-se na ordem dos 17 mil milhões (com uma diminuição de 41 milhões de euros), apesar de a empresa ter destacado a diminuição do endividamento como uma prioridade. Actualmente, o rácio dívida líquida/ EBITDA é de 4,7 vezes, mas o compromisso da EDP é ter um rácio de três vezes o EBITDA em 2017.

Na conferência de imprensa desta terça-feira, António Mexia admitiu que a empresa poderá ir ao mercado levantar dinheiro para aproveitar a queda dos juros. "Estamos a ponderar ir ao mercado com uma emissão a dez anos", referiu o gestor, que revelou que a operação deverá ser realizada até ao final do primeiro semestre, num montante que não será inferior a 750 milhões de euros.

"O que está claro é que as taxas de juro estão hoje muito abaixo do custo médio do financiamento, actualmente nos 2%", disse António Mexia, notando que a emissão virá num momento em que as agências de notação financeira Moody's e Fitch voltaram a atribuir avaliações de investment grade (grau de investimento) à EDP, enquanto a Standard & Poors melhorou o outlook (perspectiva de evolução) para positivo.

A EDP (que vai propor aos accionistas um dividendo de 0,185 euros) afirmou ainda ter pago 311 milhões de euros em impostos em 2014, com uma taxa efectiva de 19%, além de outros 61 milhões de euros relativos à contribuição extraordinária sobre o sector energético, que se repetirá em 2015. Sobre esta contribuição, Mexia notou que a EDP a aceita no pressuposto de que é um contributo “temporário e limitado no tempo" e "num contexto de esforço de ajuda à economia portuguesa, independentemente das dúvidas jurídicas e legais" que suscita.

 

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