Lesados do BES aumentam protestos na recta final da venda do Novo Banco

Grupo chinês Anbang está em Lisboa a negociar com o Banco de Portugal a compra da instituição que resultou da divisão do BES.

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Os ânimos exaltaram-se e dezenas de manifestantes tentaram romper o cordão policial Bruno Lisita
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Bruno Lisita

As manifestações de clientes lesados pelo BES, a decorrer esta quinta-feira em Lisboa e que tem gerado vários momentos de forte tensão com as forças policiais, acontecem num momento em que estão a decorrer negociações finais para a venda do Novo Banco.

As negociações para a venda do Novo Banco, que resultou da divisão do BES em dois, estão a ser feitas pelo Banco de Portugal (BdP) com o grupo chinês Anbang, que, segundo apurou o PÚBLICO, mantém em Lisboa uma delegação de altos responsáveis.

O anúncio da decisão de venda, ou a comunicação do fracasso das negociações, deverá ser feito até ao final do mês, um prazo que foi fixado pela instituição liderada por Carlos Costa.

Apesar do prazo de venda terminar na próxima segunda-feira, existia alguma expectativa de que a decisão pudesse ser anunciada ainda esta semana, o que motivou a marcação da manifestação dos lesados para esta quinta-feira.

A manifestação, que já levou a cortes de trânsito na Rua Almirante Reis e na Avenida da Liberdade, envolve clientes lesados pelo papel comercial e emigrantes.

No caso do papel comercial, emitido por empresas do Grupo Espírito Santo (GES), mas que foi vendido pelo BES, estão em causa cerca de 2500 clientes, que reivindicam 527 milhões de euros. Estes clientes, muitos deles com todas as suas poupanças “presas” naqueles produtos reclamam o seu pagamento por parte do Novo Banco, situação que o BdP não tem permitido, remetendo-os para as empresas emitentes, entretanto declaradas insolventes.

Os emigrantes, presentes nas manifestações, sentem-se lesados pela subscrição de vários produtos financeiros, no montante de mais de 700 milhões de euros, que o banco “congelou”. Em relação a estes clientes, o Novo Banco fez uma proposta que permite a recuperação, a médio e longo prazo, da quase totalidade das suas aplicações.

Muitos emigrantes continuam a não aceitar esta proposta, reclamando a libertação imediata das suas poupanças, mas o Novo Banco tem garantido que já chegou a acordo com 50% dos clientes envolvidos, o que viabiliza o avanço da medida apresentada.

Ao PÚBLICO, Luís Marques, do Movimento de Emigrantes Lesados (MEL) diz que vão aguardar até dia 31 de Agosto para seja apresentada uma proposta que garanta a devolução da totalidade do capital, caso contrário os lesados avançam para tribunal.

Apesar de a venda do Novo Banco estar eminente, os emigrantes acreditam que vão reaver o dinheiro. Se tal não acontecer, uma das medidas defendidas pelo movimento é a retirada de dinheiro das contas em Portugal e deixar de enviar remessas para o país. 

Os protestos dos clientes lesados começaram às 11h junto ao Ministério das Finanças, em Lisboa, onde atiram ovos contras as janelas e as paredes do edifício governamental, tentando furar o cordão policial e atirar cartazes para o interior do ministério.

Depois seguiram para a Avenida Almirante Reis, onde estão situadas as instalações do Novo Banco e do Banco de Portugal, causando um corte no trânsito.

Ao longo do percurso, os manifestantes foram acompanhados por vários elementos da polícia e por carrinhas do corpo de intervenção da PSP.

O protesto terminou ao fim de cinco horas, frente à sede do Novo Banco, na Avenida da Liberdade, onde os lesados foram recebidos por dezenas de polícias e gradeamento antimotim.

Em declarações à Lusa o advogado de 400 lesados do BES, que investiram em papel comercial do GES, Nuno Silva Vieira, promete "uma próxima semana quente".

"Na próxima semana entrará a acção principal e haverá a efectivação das queixas internacionais, entre elas ao Provedor Europeu e às Nações Unidas", disse o advogado.

O grupo chinês Anbang, que foi seleccionado para negociações exclusivas para a compra do Novo Banco, tem a maior parte dos seus negócios na área seguradora, mas já se estreou no negócio bancário, e na Europa, com a compra de um banco de pequena dimensão, na Bélgica.

À compra do novo banco concorreu ainda outro grupo chinês, a Fosun, que já está presente na Fidelidade, na ES Saúde e na REN. O terceiro candidato é o fundo norte-americano Apollo, que chegou a acordo para a compra da Tranquilidade (do universo BES), mas a operação ainda não foi concretizada.

O valor de venda do Novo Banco é um aspecto relevante nesta operação. Isso porque o Fundo de Resolução, detidos pelos restantes bancos nacionais, injectou no Novo Banco 4900 milhões de euros, quando o BES foi intervencionado. Se a venda for feita abaixo desse valor, a diferença terá de ser suportada pelo Fundo de Resolução, que é o mesmo que dizer pelos bancos, ou pelo Estado. Com Lusa


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