Leilão desta quarta-feira é o ensaio final para o regresso definitivo aos mercados

Tesouro vai emitir dívida a dez anos sem o apoio de um sindicato bancário

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João Moreira Rato, presidente do IGCP, disse que a almofada financeira prevista para 2014 é de sete mil milhões de euros
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João Moreira Rato, presidente do IGCP, disse que a almofada financeira prevista para 2014 é de sete mil milhões de euros João Moreira Rato passou do IGCP para a administração financeira do Novo Banco

É a menos de duas semanas de anunciar como é que pretende realizar a saída do programa da troika que o Governo vai realizar o último grande teste à capacidade de Portugal obter de forma normal o financiamento que precisa nos mercados. Os últimos indicadores dados pelo mercado de dívida pública da Europa periférica trazem boas perspectivas de um exame bem sucedido.

Esta quarta-feira, o Tesouro avança para um leilão de títulos de dívida pública a 10 anos. De acordo com o comunicado emitido pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP a semana passada, a emissão de obrigações de tesouro deverá situar-se entre 500 e 750 milhões de euros.

Será a primeira vez desde que Portugal pediu um resgate financeiro à troika que se realiza um leilão de dívida de longo prazo. Até agora, as emissões de dívida a 5 e 10 anos, iniciadas em Janeiro de 2013 e consolidadas no primeiro trimestre deste ano, foram feitas através da contratação de um sindicato bancário. Nesse caso, os bancos encarregados de gerir a operação encontram junto dos seus clientes interessados em comprar títulos de dívida portuguesas. A decisão do Tesouro de avançar apenas acontece quando existe uma grande confiança de que haverá procura a taxas de juro razoáveis. E realmente, foi isso que aconteceu nas quatro emissões realizadas no período pós-troika, com a procura a superar sempre largamente a oferta disponível.

Agora, com a realização de uma emissão por método de um leilão, o risco a este nível é maior para o Tesouro. Depois de anunciar a realização da operação, o Tesouro espera agora que os investidores apareçam com as suas ofertas, escolhendo depois quanto é que acaba definitivamente por emitir.

Os leilões são o método mais tradicional para emitir dívida pública, representando em princípio custos menos elevados para o Estado do que as operações sindicadas. Antes da crise, Portugal tinha um calendário regular e pré-definido de realização de leilões de dívida de longo prazo e para que esta emissão se possa considerar um sucesso é preciso que saia a perspectiva de definição de um plano de novos leilões até ao final do ano.

Apesar dos maiores riscos, há vários motivos para estar optimista. Em primeiro lugar, o montante indicativo para a operação definido pelo IGCP é bastante mais baixo do que o das emissões sindicadas que têm vindo a ser realizados. O leilão aponta para um valor até 750 milhões, as emissões sindicadas chegaram aos 3000 milhões. Será assim mais fácil atingir uma procura que satisfaça a oferta.

Depois, os leilões de dívida pública de curto prazo (bilhetes de tesouro de 3 meses a um ano) que Portugal tem vindo a realizar (não foram interrompidos com a chegada da troika), comprovam que há interesse dos investidores na dívida pública portuguesa, conseguindo-se agora as taxas mais reduzidas desde 2009.

E, mais importante que tudo, o ambiente geral dos mercados em relação à dívida dos países da periferia da zona euro tem sido muito positivo nos últimos meses. Espanha, Itália e mesmo a Grécia realizaram recentemente emissões que encontraram muita procura a taxas de juro que há alguns meses atrás eram consideradas impossíveis.

Os investidores estão mais confiantes em arriscar neste tipo de títulos desde a garantia de Mario Draghi de que o BCE faria tudo para salvar o euro e, mais recentemente, com o aparecimento de indicadores económicos menos negativos nos países e a perspectiva de compra de activos por parte do banco central. Perante este cenário e olhando para taxas de juro que são ainda bastante mais atractivas do que as registadas no centro da Europa, os investidores optam por assumir o risco de voltar a aumentar a sua exposição à Europa periférica.

É isto que mostram também os valores das taxas de juro implícitas da dívida pública portuguesa a 10 anos praticadas no mercado secundário (nas transacções realizadas entre os investidores). As OT a dez anos foram trocadas esta terça-feira a uma taxa de juro de 3,707%, de acordo com os dados da Reuters, quando no início deste ano o seu valor andava ainda muito próximo dos 6%.

Um leilão em que a procura supere a oferta e em que a taxa de juro fique próximo dos valores registados no mercado secundário podem constituir um argumento para que Portugal encare com mais confiança o cenário que se abre com o final do programa da troika e o recebimento das últimas tranches do empréstimo agendadas para Junho.

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