Jovens com piores perspectivas e desempregados de longa duração em risco

OCDE alerta para consequências a longo prazo se os governos não tomarem medidas.

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Raquel França

Se, na generalidade, “as condições do mercado de trabalho estão a melhorar” nos países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o relatório Perspectivas do Emprego 2015, publicado nesta quinta-feira, sugere notícias pouco animadoras para jovens e desempregados de longa duração.

“Os governos precisam de agir agora para evitar um aumento permanente do número de trabalhadores presos no desemprego crónico ou a movimentar-se entre desemprego e empregos precários mal remunerados”, afirmou nesta quinta-feira o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, citado pelo Financial Times.

Em média, a instituição considera que o emprego continua a “crescer muito lentamente” e que a “recuperação da recente crise económica permanece incompleta em vários países”. Como consequência, o desemprego vai manter-se elevado mesmo até ao final de 2016, prevê o documento.

Entre os países da OCDE, a percentagem da população entre os 15 e os 24 anos actualmente empregada permanece 1,4 pontos percentuais abaixo dos níveis do quarto semestre de 2007, antes da crise financeira global. O relatório assinala a particular incidência deste fenómeno nos países da zona euro mais afectados pela crise, como Grécia, Espanha e Irlanda. Com a elevada percentagem de desemprego jovem e com o aumento do número dos jovens que não estudam nem trabalham “a perspectiva de carreira a longo prazo (…) pode ser permanentemente comprometida”.

Também com a crise, o desemprego de longa duração “escalou”. Nos países da organização, uma em cada três pessoas está desempregada há 12 meses ou mais, sendo que a percentagem de indivíduos nesta situação aumentou 77,2% em relação ao último semestre de 2007. O principal receio prende-se com a falta de contacto que este grupo tem com o mercado de trabalho, “fazendo com que seja mais difícil reduzir o desemprego”.

Os dados da OCDE confirmam as assimetrias entre os países que dela fazem parte, mas também entre os membros da União Europeia. Há 43 milhões de desempregados, distribuídos pelos países da organização, mais 11 milhões do que os níveis verificados no período pré-crise. No mesmo sentido, a taxa média de desemprego situa-se nos 7,1%, 1,6 pontos percentuais acima do registado antes da crise económica.

Por outro lado, há países onde a taxa de emprego é superior ao verificado antes de 2008, como Chile, Israel e Turquia (mais de 5%), mas também se pode observar uma subida, embora menos acentuada, nas taxas de emprego alemã, húngara ou polaca.

Mudanças na realidade laboral
Em relação às alterações nas dinâmicas laborais, no documento conclui-se que a maioria das pessoas que ingressou no regime de part time fê-lo de forma involuntária, o que reflecte a escassez de oportunidades de emprego a tempo inteiro. Também há mais trabalhadores neste regime: se antes da crise a percentagem se fixava nos 18,6%, actualmente 20,6% dos trabalhadores exercem a actividade em part time.

Por outro lado, no que diz respeito ao trabalho temporário, a OCDE não encontra uma “tendência geral” desde o estalar da crise. Neste caso, verificaram-se “grandes quedas” durante a recessão e aumentos ao longo da “hesitante e incerta recuperação”.

“Muitos dos empregos na manufactura e na construção civil perdidos durante a recessão podem nunca vir a ser recuperados”, observa o documento, que nota que o “crescimento no emprego tem sido concentrado em serviços profissionais altamente qualificados ou em serviços relativamente pouco qualificados, como empregos em comércio por grosso e a retalho, alojamento e restauração”.

Outra das preocupações é o fraco crescimento salarial. A OCDE nota que, apesar de a contenção salarial ter ajudado a “conter a perda de postos de trabalho durante a recessão”, “um crescimento salarial mais lento” (ou mesmo a redução salarial verificada em países como Portugal e Grécia) “reduziu os rendimentos de muitas famílias, contribuindo para dificuldades financeiras, especialmente para aqueles com menores rendimentos”.

O papel do salário mínimo
A instituição sedeada em Paris entende ainda o salário mínimo como “ferramenta para garantir um salário justo”, como forma de “subir os salários mais baixos” e “proteger os trabalhadores e famílias de caírem na pobreza”.

No entanto, e apesar de considerar que, “a níveis razoáveis, é pouco provável que o aumento do salário mínimo provoque uma substancial perda de postos de trabalho”, para surtir efeito esta medida deve ser combinada com “outras políticas”. Entre elas estão os benefícios fiscais para os trabalhadores que recebem esta remuneração, tal como foi sugerido a Portugal.

A OCDE entende o salário mínimo como “um instrumento relativamente brusco para combater a pobreza, mesmo na ausência de efeitos negativos no emprego” e defende a necessidade de um “debate pragmático acerca do papel” deste rendimento.

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