Isabel dos Santos joga o maior trunfo

A empresária angolana veio baralhar aquilo que já de si era bastante confuso.

Não é uma surpresa, mas não deixa de ser surpreendente. A OPA de Isabel dos Santos sobre a PT SGPS não é surpresa porque já na semana passada a empresária angolana e o grupo Sonae emitiram um comunicado onde diziam estar disponíveis para participar numa solução para salvar a operadora de telecomunicações nacional. Mas a OPA é surpreendente porque Isabel dos Santos avança sozinha, sem a Sonaecom, a parceira da filha do Presidente de Angola no controlo da operadora NOS. Embora isso não queira dizer que estão de candeias às avessas. E a OPA é surpreendente dada a ambição, legítima diga-se, subjacente à proposta.

Se a OPA tiver sucesso, Isabel dos Santos conseguirá, de uma só assentada, três grandes conquistas. Conseguirá controlar a PT SGPS; passará por essa via a ser accionista de referência da Oi, um dos maiores operadores no Brasil; e, por fim, conseguirá passar para o lado de lá da barricada e resolver o diferendo que a opõe à PT/Oi em relação aos 25% que estes últimos detêm na angolana Unitel.

É evidente a ambição da empresária angolana, que joga uma cartada para tentar ser a herdeira do sonho de construir um grande operador de telecomunicações de língua portuguesa. Agora, o caminho para lá chegar é ínvio e cheio de obstáculos. E são tantas as condições impostas por Isabel dos Santos e é necessária uma tão grande conjugação de vontades que dificilmente a OPA terá sucesso.

Primeiro é preciso convencer os accionistas da PT SGPS, portugueses e não só, a venderem na OPA. E aqui o preço é o factor determinante. Os accionistas terão de achar a oferta suficientemente atractiva para que possam abdicar da possibilidade de poderem vir a participar no futuro da empresa que resultar da fusão entre a PT e a Oi. Mas do ponto de vista dos accionistas portugueses, a OPA de Isabel dos Santos tem uma grande vantagem face à outra proposta que está em cima da mesa, a da Altice, já que significa embolsar dinheiro imediato. No caso da proposta dos franceses, o encaixe seria feito pela Oi e só indirectamente é que os actuais accionistas da PT SGPS poderiam beneficiar.

O outro obstáculo que Isabel dos Santos terá de transpor será convencer os accionistas brasileiros da Oi a alterar o acordo feito com a PT, o que não será fácil de acontecer. Para os accionistas brasileiros da Oi provavelmente é mais conveniente terem de lidar com vários accionistas portugueses (alguns deles financeiramente já bastante debilitados) do que com uma única empresária angolana que, sabem, vai entrar na Oi provavelmente com a ambição de mandar.

Se porventura Isabel dos Santos conseguir ultrapassar estas duas barreiras, ainda lhe sobrará um terceiro obstáculo: a Autoridade da Concorrência, que dificilmente verá com bons olhos a presença simultânea, mesmo que indirecta, de Isabel dos Santos na NOS e na PT. Mas aqui eventualmente poderia entrar a Sonaecom a assumir sozinha o controlo da NOS e libertar a empresária angolana para ficar com a PT.

Como ficará a PT no final desta história ainda é uma incógnita. Mas o facto de começarem a surgir várias opções e propostas só ajuda a valorizar a empresa.

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