Instituições internacionais dizem que Portugal ainda não está em “território seguro”

Standard & Poor's defende que problemas ao nível da dívida pública não serão resolvidos numa legislatura.

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FRANÇOIS LENOIR/REUTERS

Diversas instituições financeiras internacionais alertam para “várias incertezas” relativamente à economia portuguesa. Apesar de ser ainda cedo para analisar ao certo se o novo Governo socialista irá reverter grande parte das medidas de austeridade impostas nos últimos anos, há diversas preocupações com a situação financeira nacional. Para além da consolidação orçamental ser “complicada”, o elevado endividamento do país e os altos níveis de crédito malparado são problemas que o novo Governo terá de enfrentar.

“Nós estamos a seguir de perto toda a situação. O que identificamos neste momento é que há ainda muitas incertezas no país e que este não está ainda em território totalmente seguro,” disse Moritz Kraemer, director global de ratings soberanos da Standard&Poor’s.  “A consolidação orçamental é ainda bastante complicada e a dívida... É uma das maiores no mundo,” disse Kraemer, adiantando que “é preciso um grande esforço” para resolver o problema do endividamento e, para tal, não bastará apenas uma legislatura. 

De acordo com os últimos dados oficias da Comissão Europeia, a dívida pública nacional deverá atingir 128,2% do PIB este ano – um decréscimo de dois pontos percentuais face a 2014 – e deverá continuar a diminuir de ano para ano, chegando aos 121,3% do PIB no final de 2017. Ainda assim, a dívida nacional estará bem acima dos 60% do PIB como ditam as regras Europeias.

Também o défice português parece estar a seguir uma trajectória de diminuição. Depois de um défice de 7,2% em 2014, a Comissão prevê que este atinja o limiar dos 3% este ano e chegue aos 2,9% em 2016.  

No entanto, “o processo de reforma precisa de continuar,” disse ao PÚBLICO fonte de uma organização financeira internacional. “A economia ainda não é suficientemente competitiva e precisa de crescer mais depressa,” adiantou a mesma fonte, que levantou também preocupações relativamente ao crédito malparado. 

Portugal tem registado um crescimento “moderado”, beneficiando também de boas condições externas, como uma política de estímulo monetário por parte do Banco Central Europeu e da queda do valor do barril de petróleo. Kraemer adianta que para a avaliação da S&P “não importam os partidos políticos” mas “obviamente” que a instituição financeira avaliará “o que vier a seguir.”

De acordo com o que o PÚBLICO apurou, há organizações financeiras que vêem o acordo ente o PS, PCP e BE como uma “situação muito instável” mas querem primeiro ver o programa do novo Governo antes de tirar conclusões precisas. “Portugal já não está num programa financeiro mas tem compromissos perante a UE,” lembrou fonte europeia ao Público.  Numa carta de felicitações enviada terça-feira ao novo primeiro-ministro, o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, chamou à atenção para a importância de reforçar a retoma económica e manter o caminho reformista.

 “É crucial que Portugal garanta disciplina nas finanças públicas e que continue o programa de reformas económicas com o objectivo de promover o investimento, e estimular o crescimento e o emprego,” disse Tusk. O ex-primeiro ministro polaco lembrou na mesma carta que é fundamental que Portugal mantenha a estabilidade política e coesão social para responder aos desafios nacionais e Europeus.  

Na carta dirigida a António Costa, Tusk que irá receber o novo primeiro-ministro já este domingo durante uma cimeira extraordinária em Bruxelas, agradeceu ainda o “empenho” e as “várias contribuições” de Pedro Passos Coelho. 

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