Bancos com pouco interesse no crédito barato do BCE

Empréstimo de longo prazo do banco central recebidos com pouca procura. Draghi mais pressionado do que nunca a apostar em medidas mais ambiciosas.

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Mario Draghi deu início ao seu plano de injecção de mais liquidez na zona euro Daniel Roland/AFP

Os bancos da zona euro deram esta quinta-feira sinais claros de estarem pouco interessados em receber mais fundos do BCE a taxas de juro baixas, uma realidade que empurra o banco central para a necessidade de medidas mais agressivas de estímulo à economia, como a compra de activos nos mercados.

Era para esta quinta-feira que estava agendado o início de uma nova ronda de empréstimos de longo prazo aos bancos da zona euro por parte do Banco Central Europeu. O resultado foi a a injecção de 82.600 milhões de euros, um valor que ficou abaixo das expectativas dos mercados.

Os empréstimos de longo prazo a conceder aos bancos (e que se prolongarão até 2016) fazem parte das medidas anunciadas pelo BCE para tentar estimular a concessão de crédito na economia e assim ajudar a economia a evitar a estagnação económica e a delação. O banco central empresta a taxas fixas bastante baixas (0,15%) e por um prazo alargado que pode ir até três anos.

O valor total da injecção de liquidez feita pelo BCE depende, contudo, da procura manifestada pelos bancos. E neste primeiro empréstimo (serão realizados mais oito até 2016 e o próximo será em Dezembro), os bancos da zona euro aproveitaram para obter um financiamento total que não ultrapassou os 82.600 milhões de euros. Nos mercados, os analistas, que já estavam pessimistas em relação à dimensão da operação, estavam mesmo assim a apontar para valores mais altos, situados entre os 100 mil e os 300 mil milhões de euros.

Esta procura baixa dos bancos pode representar um contratempo para a estratégia do BCE de aumentar os estímulos à economia. O facto de os bancos não estarem a querer aumentar os seus níveis de liquidez de forma significativa significa também que não existe vontade de aumentar o crédito concedido às empresas e famílias.

É verdade que os responsáveis do BCE vinham afirmando, ao longo das últimas semanas, que a procura nesta primeira operação poderia não ser tão forte pelo facto de os bancos ainda estarem a meio do processo de avaliação das suas contas por parte do BCE e não quererem por isso assumir nesta fase mais riscos. O BCE espera que em Dezembro a procura já seja maior.

Mas se os empréstimos de longo prazo continuarem a ser feitos em montantes tão reduzidos, o Banco Central Europeu poderá ter de apostar de forma mais decidida em medidas de injecção da liquidez que não dependem da procura. Um exemplo é a compra pelo BCE de activos nos mercados, o que constitui uma outra forma de aumentar a liquidez dos bancos.

Na sua última reunião, o BCE anunciou também que iria começar a realizar compras de títulos baseados em créditos concedidos pelos bancos às PME, não sendo colocada de lado a possibilidade de no futuro efectuar compras de títulos de dívida pública, à semelhança do que já tem vindo a ser feito pela Reserva Federal norte-americana, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão.

Também esta quinta-feira, o BCE anunciou como é que se irá processar o novo sistema de rotatividade no direito de voto dos governadores do bancos centrais nacionais. As novas regras aplicam-se a partir de Janeiro de 2015, o momento em que a zona euro passa a contar com 19 países, devido à entrada da Lituânia.

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, perderá o direito de voto durante os meses de Agosto a Outubro do próximo ano. A Alemanha não irá votar em Maio e em Outubro.

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