Indústria avisa que diluição dos subsídios agravará tesouraria das empresas

Somam-se as críticas dos empresários à proposta de diluição do pagamento de metade dos subsídios de férias e Natal pelos 12 meses do ano, desta vez pelos pelo comércio e a indústria.

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Com a concessão de crédito mais apertada, as empresas vão ficar sob maior pressão, alerta a AIP Nelson Garrido

Como o processamento dos 13.º e 14.º meses será feito em duodécimos em 2013, as empresas começam a mobilizar fundos mais cedo para pagarem os subsídios, o que trará mais dificuldades de tesouraria ao longo do ano. O aviso é feito pela AIP - Associação Industrial Portuguesa/Câmara de Comércio e Indústria, que nesta quinta-feira apresentou uma análise crítica do impacto destas mudanças.

Os trabalhadores do sector privado vão receber metade dos dois subsídios entre Janeiro e Dezembro com o salário do mês. Os outros 50% do subsídio de férias serão pagos entre Junho e Agosto, enquanto a outra metade do subsídio de Natal é processada em Dezembro.

Até agora, as empresas tinham tempo para respirar até o período de férias de Verão, mas as alterações previstas no projecto de lei do Governo, diz a AIP, originam “necessidade de novos fundos” logo a partir de Janeiro de 2013, ou seja, muito perto de pagarem o subsídio de Natal do ano anterior.

A AIP fez uma simulação do novo método de pagamento para uma empresa que tem todos os meses gastos salariais de 50 mil euros (100 mil euros em subsídios) e comparou-a com o método que ainda vigora este ano.

No modelo actual, a empresa pagaria 50 mil euros em subsídios no Verão (no conjunto dos meses de Junho, Julho e Agosto) e um montante idêntico em Dezembro com o subsídio de Natal.

Em 2013, passa a ter todos os meses uma folha de subsídios no valor de 4167 euros; em Junho, Julho e Agosto, terá ainda de contar com pagamentos no valor de 25 mil euros; e, em Dezembro, com o pagamento dos restantes 25 mil.

Como o processamento dos 100 mil euros é diluído ao longo do ano, a necessidade adicional de tesouraria no final desse ano é anulada. Mas as alterações fazem com que, no acumulado de alguns meses (Maio, Junho e Novembro), as empresas atinjam picos de tesouraria como até agora não acontecia, mostra a análise da AIP.

Pelo contrário, noutros meses (Julho e Dezembro), o montante dos pagamentos diminui, porque esse valor foi já processado em meses anteriores.

Para o Estado, que cobra antecipadamente o IRS sobre os adiantamentos dos subsídios aos trabalhadores, a AIP diz haver “ganhos de antecipação” de 5,2 mil euros em Maio, Junho e Novembro – os mesmos meses em que as empresas têm esses picos acumulados de tesouraria (de 20,8 mil euros).

Numa altura em que a torneira do crédito continua apertada, a AIP teme que a diluição dos subsídios “aumente a pressão” sobre empresas, que, diz, estão já “fortemente debilitadas pela redução acentuada do financiamento bancário”.

A proposta de lei do Governo está em discussão pública até 24 de Dezembro. Só vai ser debatida dia 27, deixando em dúvida a entrada em vigor a 1 de Janeiro de 2013.

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