Hoje "é possível viajar para os Açores por cerca de um terço do valor de há oito meses"

Vítor Fraga, Secretário Regional do Turismo e Transportes dos Açores, diz que a estratégia para o arquipélago vai muito além da chegada das companhias low cost. Construção imobiliária será controlada.

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Vítor Fraga, garante que o desenvolvimento do turismo no arquipélago não depende apenas da operação das companhias áreas de baixo custo Rui Soares

O secretário Regional do Turismo e Transportes dos Açores, Vítor Fraga, garante que o desenvolvimento do turismo no arquipélago não depende apenas da operação das companhias áreas de baixo custo, que arrancou a 29 de Março com ligações para Ponta Delgada. Em entrevista por telefone, diz que a prioridade agora é preservar o património natural. Vítor Fraga garante, por isso, que “naturalmente” haverá cuidado na emissão de novas licenças de empreendimentos turísticos.

Os números das dormidas reflectiram desde logo o efeito da chegada das low cost a São Miguel. Eram os crescimentos esperados?
 O crescimento do turismo nos Açores é continuado. Desde Novembro de 2014 que estamos com taxas de crescimento superior a 20% e isso é fruto de uma estratégia de comunicação directa com o cliente final nos vários mercados emissores, nos nossos mercados prioritários. Naturalmente, sendo o tema das acessibilidades à região uma das grandes prioridades definidas para esta legislatura pelo Governo dos Açores, a nossa expectativa era que respondesse também ao nível da captação de novos fluxos turísticos, possibilitando o acesso a novos segmentos de mercado. Na prática é isso que se está a verificar. Mas ainda temos muito pouco tempo de implementação desde novo modelo, que vai muito além do que é a entrada das low cost. É um modelo integrado das nove ilhas e apenas foram liberalizadas duas rotas. Estamos numa fase de monitorização de todo o processo para corrigir o que for necessário e potenciar ainda mais a captação de fluxos turísticos para a região.

Neste momento a procura está a concentrar-se mais em São Miguel. Como estão a ser acautelados os impactos deste aumento de turista naquela que é a ilha mais populosa?
A procura não está circunscrita a São Miguel e felizmente tem-se alargado à generalidade das ilhas, com taxas de crescimento significativas. Temos um ou outro caso em que isso não se verifica e estamos a monitorizar e a tentar adoptar as medidas necessárias para promover o desenvolvimento equitativo entre todas as ilhas. Ao longo de todo o processo de desenvolvimento do sector do turismo, a junção de, por um lado, boas políticas públicas e, por outro, de boas práticas dos privados, tem desenvolvido uma trajectória de preservação daquele que é o nosso bem mais precioso e que é todo o nosso património natural. Temos um conjunto de instrumentos que visam essa protecção e salvaguardam o nosso principal activo.

Que instrumentos são esses?
Por um lado, a definição de zonas protegidas, de zonas de reserva natural. Com uma definição clara da capacidade de carga que cada um destes locais pode suportar, na perspectiva de os proteger e preservar. Também temos outra situação que, penso, é relevante e que tem a ver com o perfil do turista que nos visita. É um turista que tem elevados valores ambientais e isso ajuda neste processo de crescimento e de consolidação do sector do turismo na região.
 
Quando é que espera a ligação das low cost até à Terceira?
É um processo no qual temos vindo a trabalhar, não é de agora, desde Setembro de 2014. E dizer mais do que isso é criar expectativas. Quando houver algo em concreto, naturalmente será divulgado.

Que novos turistas têm a intenção de cativar?
Neste momento, o principal é a consolidar os mercados existentes. Temos mercados prioritários tanto na Europa como na América do Norte. Destaca-se, naturalmente, o mercado nacional, o inglês, o alemão, o espanhol, o francês, o escandinavo e o holandês. Estados Unidos e Canadá têm respondido de forma muito positiva à nossa política de promoção e divulgação, na perspectiva de captação de fluxos turísticos. Todos apresentam um crescimento consolidado, o que dá bem nota da qualidade do trabalho que tem sido desenvolvido. Isto é um trabalho que tem sido desenvolvido há muitos anos, na perspectiva de consolidar a imagem da região e de criar uma apetência dos potenciais turistas em nos visitar. Tem uma face mais visível ao nível dos prémios que a região tem conseguido, como a distinção de destino mais sustentável do mundo.

Acredita então que, mais tarde ou mais cedo e independentemente da low cost, haveria um aumento dos turistas?
As ligações aéreas eram um instrumento que considerávamos fundamental para que este salto se concretizasse. Nessa medida, o Governo Regional propôs a alteração do modelo de acessibilidades ao Governo da República em Agosto de 2011. Foi um processo longo mas que nos levou a uma boa solução que, naturalmente, precisa de ser monitorizada para corrigirmos o que for necessário. Corresponde na essência ao que tínhamos previsto como objectivo: por um lado, a protecção dos residentes, com a definição de um custo máximo da acessibilidade, por outro criar condições para a entrada de novos operadores no mercado, ter concorrência e tudo o que ela traz consigo, nomeadamente, uma redução expressiva do custo de acessibilidade. Fazendo uma pesquisa pelos vários operadores verifica-se que é possível fazer uma viagem aos Açores por cerca de um terço do valor de há sete ou oito meses.

Tem a percepção de que os continentais estavam só a aguardar pelas low cost para visitar o arquipélago?
A alteração do modelo de acessibilidades vem facilitar a vinda dos turistas nacionais mas há uma outra situação que não é menos importante, e que tem a ver com o reposicionamento que fizemos ao longo dos últimos dois anos. Colocámos os Açores como destino de natureza mas fomos muito além da sua componente contemplativa. É uma natureza activa, o que possibilita o desenvolvimento outros produtos turísticos.

A intenção é ir além do turismo de natureza?
O produto matriz é o turismo de natureza. Mas desenvolvemos um conjunto de actividades que vão além disso.

Este aumento de turistas vai rentabilizar as actuais estruturas hoteleiras, algumas actualmente encerradas em Ponta Delgada, por exemplo?
O objectivo é criar condições para que o sector do turismo se torne sustentável. A expectativa é que com o crescimento consolidado do sector haja uma maior dinamização e sustentabilidade ao nível das unidades existentes e que surjam outras. Aliás, na linha do que já está a acontecer, pelas manifestações de interesse que se verificaram na região.

Haverá algum cuidado na emissão de novas licenças de empreendimentos turísticos para conter uma eventual explosão imobiliária?
Naturalmente que sim. A região tem instrumentos – o Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores – que define claramente quais são as capacidades de carga. Ainda recentemente o conselho de Governo aprovou uma solução com vista à revisão desse plano, precisamente, para nos adaptarmos à nova realidade e darmos uma resposta efectiva à preservação do nosso activo mais importante. O nosso foco no turismo de natureza tem necessariamente de apostar em elevada qualidade, no sentido de superar as expectativas de quem nos visita.

Quais são as previsões de crescimento de turistas?
As nossas previsões assentam na capacidade de trabalho que todos nós temos, entidades públicas e privadas, para superar permanentemente as expectativas de quem nos visita. O que esperamos é que todo o crescimento que se venha a verificar seja sustentável.

Mas esperam aumentos na ordem dos 20% este ano, como se tem vindo a verificar?
Temos várias formas de olhar para as estatísticas. Podemos encará-las como instrumento para continuarmos a trabalhar de forma sólida o sector do turismo na região.

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