Pharol aprova processos a ex-gestores da PT com quase 100% dos votos

Henrique Granadeiro tentou adiar decisão da assembleia da ex-PT. Processos ao BES e Novo Banco “estão sempre em aberto".

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Henrique Granadeiro foi presidente do conselho de administração e da comissão exeutiva da PT Daniel Rocha

Não foram muitos os accionistas que ontem se deram ao trabalho de ir até à assembleia geral (AG) da Pharol SGSP, antiga PT, mas os que foram deram um sinal claro: a proposta da administração de processar ex-gestores de envolvidos em investimentos no Grupo Espírito Santo (GES) foi aprovada por 99,996% dos votos.

No prazo de seis meses, a Pharol “deverá propor a acção de indemnização contra os administradores que, tendo exercido funções no mandato de 2012/2014, tiveram participação directa nas decisões relativas aos investimentos” efectuados junto do GES, ou que, “em virtude dessas funções, os poderiam ter  evitado”, comunicou a holding logo a seguir à AG, que durou cerca de duas horas e se realizou no Hotel Sheraton, em Lisboa, do outro lado da rua da sede da antiga Portugal Telecom.

Só 11 mil acções votaram contra a proposta da administração liderada por Luís Palha da Silva. E algumas pertenciam certamente a um accionista especial: Henrique Granadeiro, o ex-presidente da PT que já assumiu parte dos investimentos ruinosos no GES, nomeadamente 200 milhões do total de 900 milhões de euros que a PT perdeu em papel comercial da Rioforte.

O antigo gestor não esteve na AG, mas fez-se representar pelo advogado, Nuno Líbano Monteiro, que apresentou à mesa uma proposta para que esta fosse suspensa por um mínimo de sete dias. Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, a proposta terá tido como fundamentação a falta de informação prestada pelo conselho de administração da Pharol sobre o tema e alegadas ilegalidades de processo.

Mas, se dúvidas houvesse sobre o estado de alma dos accionistas, a votação foi esclarecedora: a proposta foi recusada por 99,97% dos votos (esteve presente ou representado na reunião 43% do capital). De nada valeu ao advogado do ex-presidente da PT a insistência no tema da falta de informação. Uma preocupação partilhada de resto por alguns pequenos accionistas, que Palha da Silva procurou apaziguar explicando que alguma informação (a do Banco de Portugal) está coberta por segredo e outra não pode ser divulgada por fazer parte da estratégia processual da companhia.

O presidente da Pharol (que é dona de 27,5% da Oi) esquivou-se a referir os nomes dos visados nos processos, mas nas explicações aos accionistas assumiu que estão em causa gestores que decidiram os investimentos e outros que tinham conhecimento da situação do GES, mas não impediram as aplicações ruinosas. Os nomes que têm sido apontados como alvos das futuras disputas em tribunal são os dos ex-presidentes Granadeiro e Zeinal Bava (que deixou a presidência da comissão executiva em 2013, para ir para a Oi), do ex-administrador financeiro Luís Pacheco de Melo e dos ex-gestores do BES, Morais Pires e Joaquim Goes, que também eram administradores da PT.

Todos estavam nos órgãos sociais da operadora em 2012/2014: um grupo de 21 pessoas, das quais as únicas que mantêm ligação à actual Pharol são Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, da RS Holding (Ongoing), com 10% do capital. “Há o direito à privacidade e à presunção de inocência. Quando os nomes estiverem nas acções, logo serão conhecidos”, disse Mora no final da AG. Estes processos irão juntar-se ao que já foi anunciado em Maio contra a Deloitte, auditora externa da PT até ao início de 2014.

Na reunião, Palha da Silva admitiu a possibilidade de accionar judicialmente outras entidades. E cá fora, em declarações à comunicação social assegurou, quando questionado sobre processos contra o antigo BES (que era accionista e intermediário financeiro da PT) e o Novo Banco (o maior accionista da Pharol, com 12,6%), que a questão “estará sempre em aberto enquanto não tiverem prescrito os prazos que temos para indicar responsáveis por quaisquer actos que tenham prejudicado a empresa”.

Noticiou o Expresso, e o PÚBLICO também confirmou, a decisão de processar estas entidades chegou a ser aprovada em Fevereiro, numa reunião do conselho de administração da ex-PT SGPS, por insistência de ex-administradores, como Paulo Varela (Visabeira), e apesar das objecções de outros como Rafael Mora e Nuno Vasconcellos. Mas viria a ser entretanto abandonada em Março.

“Este é um processo evolutivo”, começou por dizer Mora, no final da AG. “Houve pressões de alguns accionistas para debater alguns temas”, mas a informação que entre Fevereiro e Março chegou do Banco de Portugal “mostrou a necessidade de se seguir a estratégia processual que foi definida”. Ou seja, processar ex-gestores e a Deloitte. “Chegámos à conclusão de que, em função da evolução do processo, qualquer outra acção não seria possível”, disse.


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