Há mais portugueses a poupar, mas 61% deixa dinheiro à ordem

Estudo indica que 59% da população conseguiu poupar no ano passado, mas são poucos os que investem em produtos financeiros, como fundos e acções.

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Maria João Gala/arquivo

Há mais portugueses a conseguir poupar, mas muitos fogem dos produtos financeiros mais complexos e pelo menos parte daquele dinheiro acaba por ficar nas contas à ordem, ou mesmo em casa.

Um estudo do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (composto pelo Banco de Portugal, Autoridade de Supervisão de Seguros e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) indica que 59% da população portuguesa conseguiu realizar poupança em 2015 (e 31,8% fê-lo com regularidade), uma subida face aos 52% de 2010. Mas uma maioria de 60,8% afirmou ter deixado pelo menos parte desse dinheiro nas contas à ordem, que não pagam juros. Já cerca de um terço (34,3%) disseram aplicar dinheiro em contas poupança, ao passo que 14,5% afirmaram guardar dinheiro em casa ou simplesmente na carteira.

O estudo destaca a existência de progressos nos indicadores de poupança, mas sublinha também a pouca apetência pelo investimento do dinheiro amealhado. “Os resultados agora obtidos apontam para uma melhoria dos hábitos de poupança, ainda que mostrem uma baixa pro-actividade no que toca à aplicação dessa poupança em produtos financeiros”, lê-se no documento. Apenas 3,9% dos 1100 entrevistados disse investir em produtos financeiros como acções, fundos e obrigações, onde tanto o risco como o retorno tendem a ser mais elevados.

Entre aqueles que já investiram em valores mobiliários (como acções), a falta de rendimentos que justifiquem a aplicação de poupança naquele tipo de produtos foi a principal razão apontada, tendo sido referida por quase dois terços dos inquiridos nesta situação. Já um em cada cinco disse não ter conhecimentos suficientes, ao passo que um pouco mais de um décimo considera a opção demasiado arriscada. Por outro lado, os resultados dos investimentos anteriores parecem não assustar: só uma pequena fatia de 0,9% afirmou não investir em produtos financeiros por ter perdido dinheiro no passado.

O documento refere ainda que os hábitos de realização de orçamentos familiares são “adequados”, tal como já tinha sido apontado pelo inquérito de 2010. A realização destes orçamentos parece ser uma prática frequente, com 71,5% a garantir que faz um planeamento das contas. São sobretudo os menos instruídos, bem como os mais novos (entre os 16 e os 17 anos) e os mais velhos (com pelo menos 70 anos) que tendem a planear menos.  

Por outro lado, a população portuguesa parece também menos preocupada com situações inesperadas do que em 2010. Naquele ano, mais de metade (58%) dos entrevistados respondeu que a principal razão para poupar dinheiro era a possibilidade de fazer face a situações imprevistas. Este valor permanece o motivo mais frequente nos resultados de 2015, mas a percentagem de inquiridos que deu esta resposta caiu para 44,8%. A segunda razão para poupar é a existência de despesas não regulares, como férias e viagens. Em terceiro lugar, está a aquisição de bens duradouros (como são, por exemplo, os automóveis e electrodomésticos). A reforma é a última das preocupações, tendo sido indicada por apenas 4,3% dos inquiridos.

O inquérito revela também uma grande confiança nas informações prestadas ao balcão e pouco interesse nos detalhes dos produtos financeiros contratados. No momento de escolha, o principal factor são as indicações dos funcionários, seguidas de perto pelos conselhos de familiares e amigos. Já a publicidade tem um papel pouco relevante: apenas 2,4% disseram que os anúncios são um factor de escolha.

Para além disso, são uma minoria aqueles que dizem ler com detalhe as informações contratuais (somente 22,4% dos inquiridos). É um valor que não fica muito distante dos 17,7% que afirmam não ler de todo, seja por confiarem no funcionário ou apenas porque não dão importância aos detalhes.

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