Há 154 mil famílias com o crédito da casa em incumprimento

Crédito vencido agravou-se nos empréstimos à habitação até Março. Malparado das empresas estabiliza, mas ainda atinge 15% dos créditos.

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Em Março, os empréstimos à habitação das famílias totalizavam 105.948 milhões de euros Enric Vives-Rubio

O número de famílias que falharam o pagamento dos empréstimos da casa voltou a aumentar nos três primeiros meses do ano, a um ritmo de 71 novos casos por dia. No final de Março, havia 154 mil famílias em incumprimento no crédito à habitação, mais 6406 situações do que no final do trimestre anterior.

Dados actualizados pelo Banco de Portugal (BdP) mostram que o crédito vencido abrange 6,7% dos 2.304.547 famílias com empréstimos à habitação junto da banca. Nos valores trimestrais que divulgou nesta terça-feira, o supervisor bancário refere-se a este universo de particulares como “famílias”.

Os empréstimos à habitação concedidos aos agregados familiares totalizavam, no final de Março, 105.948 milhões de euros. Deste montante, 2,8% era considerado crédito vencido, ou seja, dizia respeito às situações em que os clientes não cumpriram ou não conseguiram cumprir os prazos de pagamento. Esta percentagem manteve-se igual à dos dois últimos trimestres de 2014, apesar do aumento do número de devedores no início do ano.

Os dados do banco central indiciam que, quando uma família se vê confrontada com dificuldades financeiras e falha a amortização de uma prestação, deixa primeiro de pagar os créditos ao consumo e outros fins (onde se incluem, por exemplo, os empréstimos para a compra de carros e electrodomésticos).

Aqui, o rácio de crédito vencido é de 14,7% dos 23.813 milhões de euros de empréstimos. A percentagem de devedores, que também aumentou em relação aos dois trimestres anteriores, é de 16,8%, correspondendo a 598 mil de 3,56 milhões de famílias.

Esta evolução coincidiu com um período em que a confiança dos consumidores estava a melhorar - subiu nos três primeiros meses do ano, mas suspendeu essa trajectória em Abril, registando-se nesse mês uma queda ligeira deste indicador. Não só as perspectivas sobre a evolução do desemprego se agravaram, como os consumidores se mostram agora menos optimistas em relação à situação financeira futura do agregado familiar e à oportunidade de realizar poupanças ao longo dos 12 meses seguintes.

Os dados mensais do banco central confirmam um ligeiro agravamento dos níveis do crédito malparado, tanto nos empréstimos à habitação, como no consumo. Nos dois casos, as situações em que os créditos não foram pagos dentro do prazo também aumentaram em Março face ao mês anterior.

De um total de 100.739 milhões de euros de empréstimos à habitação registados no balanço dos bancos, 2526 milhões correspondem a crédito em situação de incumprimento, ou seja, 2,51% do total. Um ano antes, este rácio era de 2,33%. Desde então, a curva do crédito vencido foi aumentando de mês para mês, até atingir um pico de 2,54% em Novembro do ano passado, altura a partir da qual se registou um recuo e uma estabilização neste rácio.

No caso dos créditos ao consumo, 10,91% são crédito vencido – 1302 milhões de euros num universo de 11.939 milhões de euros. A subida é muito ténue, mas representa o terceiro mês consecutivo de agravamento. O rácio do crédito vencido atingiu um pico de 12,02% em Maio do ano passado, foi caindo progressivamente nos meses seguintes até ficar em 10,72%, aproximando-se agora de novo dos 11%.

No total dos empréstimos aos particulares – que englobam não apenas os créditos à habitação e consumo mas também a restante fatia dos empréstimos concedidos para outros fins – a percentagem dos créditos vencidos estabilizou. Em Janeiro, Fevereiro e Março, este rácio foi de 4,4%.

Do lado das empresas, o incumprimento praticamente estabilizou, mantendo-se em níveis historicamente altos. O malparado representa 15% dos créditos concedidos, ou seja, 12.906 milhões de euros num universo de empréstimos de 85.547 milhões de euros.

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