Greve dos pilotos vai afectar 350 mil passageiros da TAP

Braço-de-ferro entre o sindicato, a companhia e o Governo dificilmente será ultrapassado.

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TAP estima prejuízos de 70 milhões com os dez dias de greve Miguel Manso

A greve de dez dias convocada pelos pilotos da TAP vai ameaçar as viagens de 350 mil passageiros. É esta a estimativa da companhia de aviação, tendo em conta que, no dia em que a paralisação foi anunciada, já existiam cerca de 300 mil reservas. Será difícil evitar o pior desfecho neste caso, tendo em conta a distância que separa as reivindicações dos pilotos da margem de manobra da empresa e do Governo.

De acordo com fonte oficial da transportadora aérea, “a perda estimada é de 350 mil passageiros com as novas reservas” que a TAP esperava que surgissem nos próximos dias. O período escolhido para esta greve, de 1 a 10 de Maio, abrange um fim-de-semana prolongado, o que vai aumentar os impactos dos protestos. A empresa calcula que a paralisação vai trazer prejuízos de 70 milhões de euros, incluindo neste valor não apenas a perda de receita, mas também os custos com a reprogramação de voos e, sobretudo, com a assistência a passageiros.

Dentro de alguns dias, as partes tentarão chegar a um consenso sobre os serviços mínimos a assegurar durante os dez dias greve e, na ausência de um acordo, a decisão caberá ao tribunal arbitral do Conselho Económico e Social, que obrigará à realização de alguns voos. Regra geral, têm ficado protegidas algumas ligações às regiões autónomas dos Açores e da Madeira, bem como parte das frequências para destinos com uma forte comunidade portuguesa.

Num aviso publicado no seu site, a TAP refere que vai “analisar todas as implicações que esta ameaça comporta e desenvolver todos os esforços para que a greve não se concretize”, acrescentando que “todas as medidas e soluções necessárias para minimizar os efeitos da eventual greve que possam vir a ser sentidos pelos clientes serão a partir de agora equacionadas”. Esta paralisação acontece depois de 2014 ter sido já um ano recorde de protestos na companhia, que penalizaram os resultados da companhia, justificando, em parte, as perdas de 46,4 milhões de euros que acumulou, em vésperas de privatização.

Neste momento, tudo parece indicar que o braço-de-ferro entre o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), a TAP e o Governo não será ultrapassado, tendo em conta que há pouca margem para satisfazer as exigências dos trabalhadores. Os pilotos reivindicam a devolução de diuturnidades, suspensas desde 2011, bem como uma participação no capital da empresa, entre 10% e 20%.

No entanto, o executivo já frisou por diversas vezes que não irá ceder a estas pretensões, mas também não está em condições de avançar, como aconteceu em Dezembro perante uma greve de quatro dias entre o Natal e o Ano Novo, com uma requisição civil. Ainda na quarta-feira, dia em que os pilotos anunciaram a greve, o primeiro-ministro deixou transparecer que esse cenário será improvável, ao afirmar que só pode ser equacionado “em circunstâncias muito excepcionais”, como é o caso da quadra natalícia.

Passos Coelho disse lamentar “profundamente” a decisão de convocar uma paralisação de dez dias e afirmou que espera “que esteja ao alcance do sindicato dos pilotos poder repensar esta atitude”. Já o ministro da Economia afirmou, numa entrevista à RTP1, que não esperava “esta posição do sindicato dos pilotos, que contraria aquilo que foi escrito e assinado pelos representantes dos sindicatos dos pilotos na última semana de 2014”, referindo-se ao acordo que permitiu o cancelamento da greve entre o Natal e o Ano Novo.

Portugália adere
Esta quinta-feira, os pilotos da companhia Portugália (do grupo TAP) anunciaram que também irão avançar para uma greve entre 1 e 10 de Maio. em Assembleia-geral, os pilotos decidiram mandatar a SPAC “para negociar a proposta em avaliação pela PGA, relativa aos aperfeiçoamentos interpretativos e à aplicação concreta do Acordo de Empresa, corrigindo os desequilíbrios e as discriminações dos Pilotos da PGA, face aos demais trabalhadores do Grupo TAP”. Os pilotos da Portugália têm as suas próprias reivindicações, mas alinham pela mesma estratégia.

O presidente da Associação  Portuguesa de Hotelaria, Luís Veiga, já condenou a iniciativa, afirmando que “hoje assiste-se a uma banalização do recurso à greve, que devia ser encarada como o último instrumento de protesto e reivindicação”. E alertou para os impactos negativos no sector, que já terá sofrido cancelamentos nas reservas. Por seu lado, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Pedro Costa Ferreira, afirmou, citado pela Lusa, que “está quebrada a confiança do mercado na TAP”. Com Luís Villalobos

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