Governo nega estar a ponderar resgate financeiro

Em Berlim, o ministro das Finanças alemão disse que Portugal precisaria de um novo empréstimo caso não cumprisse as regras europeias.

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As afirmações de Schäuble motivaram a reacção do Governo Odd Andersen/AFP

O Governo português negou estar a considerar um novo resgate financeiro, numa reacção a declarações do ministro das Finanças alemão, que disse nesta quarta-feira que Portugal precisava de um novo empréstimo internacional, antes de clarificar a sua própria frase.

“Tendo em conta as declarações do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, e ainda que tendo sido imediatamente corrigidas pelo próprio, o Ministério das Finanças esclarece que não está em consideração qualquer novo plano de ajuda financeira a Portugal, ao contrário do que o governante alemão inicialmente terá dito”, esclarece um comunicado enviado pelo Ministério das Finanças.

Numa conferência em Berlim, de acordo com as agências Reuters e Bloomberg, o governante alemão disse que Portugal precisava de um novo resgate e que este seria concedido. No entanto, acabaria pouco depois por rectificar as afirmações, dizendo que Portugal poderá precisar de um novo empréstimo internacional caso não cumpra as regras europeias. "Os portugueses não o querem [um novo resgate] e não vão precisar se cumprirem as regras europeias", explicou Schäuble.

As declarações do ministro alemão, que começaram por ser difundidas por aquelas agências internacionais, tiveram amplo eco na imprensa portuguesa. No comunicado divulgado durante a tarde, o Ministério das Finanças refere que “o Governo continua e continuará focado no cumprimento das metas estabelecidas para retirar Portugal do procedimento por défices excessivos”. A curta nota conclui que "no actual momento que a Europa atravessa, o Governo continuará a trabalhar com a serenidade e a responsabilidade que o projecto europeu exige”.

O próprio Presidente da República comentou as declarações do ministro das Finanças alemão. À saída de uma iniciativa no Palácio da Ajuda, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que as declarações de Wolfgang Schäuble se inserem numa prática habitual e devem ser relativizadas: “Já não é a primeira vez, se virem bem. Isto é um filme que nós já vimos. Já é para aí a terceira, quarta ou quinta vez que assistimos a isso. Portanto, deve ser encarado relativizando”. “Faz parte da lógica da política e da lógica da especulação político-económica, ali nos últimos oito dias antes de uma decisão, haver as notícias e os comentários mais variados”, reiterou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa

As frases de Schäuble suscitaram críticas duras por parte do PS. Aos jornalistas, o deputado João Galamba considerou que, numa altura em que "a Europa vive momentos complicados”, aquilo "que se pede é que nenhum responsável político contribua para essa instabilidade” e “não ponha lenha para a fogueira”. Para o porta-voz do PS, “não há razão para fazer declarações que colocam Portugal sob pressão" quando o país "tem tido excelentes resultados” ao nível da execução orçamental. 

O presidente do PS, Carlos César, também foi crítico: “Como se percebe, nem o próprio Wolfgang Schäuble percebeu o que disse e do que falava", disse à agência Lusa. "É por estas e por outras que, infelizmente, há cada vez mais cidadãos europeus que se revelam contra essa arrogância persistente e insensata", acrescentou.

Já a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias considerou que as declarações do ministro alemão "só se percebem num quadro de tentar acicatar os mercados". Matias, ciada pela Lusa, argumentou haver "uma enorme obsessão ideológica e uma vontade permanente de colocar pressão e chantagem em relação ao povo português".

 

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