Governo convoca empresas cotadas para promover igualdade de género

Das 43 empresas do índice geral da Bolsa de Lisboa, 29 aceitaram reunir-se, esta terça-feira, com secretários de Estado da Economia e da Igualdade. Próximo encontro é com associações empresariais.

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Mulheres ganham 81,5% da remuneração média mensal de base dos homens Stephen Hird/Reuters

Apenas um em cada 20 presidentes de empresas cotadas na Bolsa de Lisboa é do sexo feminino. Nos conselhos de administração, apenas 9,7% dos membros são mulheres. Os números da igualdade de géneros em Portugal insistem em traçar um retrato de uma sociedade dominada pelo fato e gravata. Apesar do aumento das habilitações literárias e da forte presença das mulheres na população activa, não há saltos de gigante nesta matéria: uma mulher presidente continua a ser algo raro, digno de notícia.

Com os números na mão, o Governo quer que as 43 empresas cotadas na Bolsa de Lisboa (índice geral) tenham mais gestoras em cargos de chefia. E, para isso, convocou os presidentes executivos para uma reunião, nesta terça-feira, no Ministério da Economia, liderada pelos secretários de Estado Leonardo Mathias (Adjunto e da Economia) e Teresa Morais (Assuntos Parlamentares e Igualdade). Cerca de 29 confirmaram presença.

“Queremos, sobretudo, conhecer a realidade, recolher opiniões dos representantes das maiores empresas portuguesas sobre a representatividade das mulheres nos seus conselhos de administração e órgãos de fiscalização, e com isso identificar as medidas mais adequadas para promover o equilíbrio entre mulheres e homens nos lugares de decisão económica de topo”, explica Leonardo Mathias.

A intenção não é pressionar as empresas, mas sensibilizar, “na linha do debate que tem vindo a ser feito no âmbito da União Europeia”. O desequilíbrio entre a presença de homens e mulheres nos cargos de topo pode ser “uma oportunidade perdida pelas empresas, nomeadamente em termos de desempenho financeiro”, defende. Os números colocam Portugal ao nível de Malta ou Estónia e, enquanto na média da UE, 19% dos membros dos conselhos de administração são do sexo feminino, por cá a média é de apenas 9%.

“Penso que temos um retrocesso civilizacional. Portugal não é uma meritocracia e isso é a base de tudo. Temos de sensibilizar, chamar a atenção, mas de uma forma muito firme, sobre as diferenças de oportunidade que há”, sublinha Leonardo Mathias, lembrando que, quase 60% da população portuguesa com licenciatura é mulher, mas apenas 9% chegam, efectivamente, ao topo.

Na reunião desta terça-feira, estarão poucos administradores-delegados. Mas para o secretário de Estado e Adjunto da Economia “o que é relevante é saber o que pensam”. “É saber se [a igualdade de género] é apenas um papel que está a ganhar pó”, salienta.

Quanto a eventuais medidas que possam ser tomadas, recorda, está em execução o V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não-discriminação 2014 -2017.

A próxima reunião sobre o tema será “muito em breve” com confederações e associações empresariais. “Gostávamos também que entendessem que este atraso civilizacional português tem impacto económico”, concluiu.

A desigualdade de género chega também aos salários praticados entre homens e mulheres. Os últimos registos dos Quadro de Pessoal enviados ao Ministério do Emprego e Segurança Social, de 2012, mostram que as mulheres ganham 81,5% da remuneração média mensal de base dos homens. Ou seja, se um homem aufere um ordenado de mil euros, uma mulher na mesma categoria e função recebe pouco mais de 800 euros.

Notícia corrigida: Um em cada 20 presidentes de empresas cotadas é do sexo feminino e não um em cada cinco como erradamente se escreveu

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