Governo conta que pequenos investidores apliquem 100 milhões na venda dos CTT

Preço estabelecido para venda avalia empresa num valor médio de 721,5 milhões. Dispersão em bolsa acontecerá em Dezembro.

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Grandes investidores vão ficar com 50% do capital da empresa Foto: Miguel Madeira

O Governo conta com os pequenos investidores para aplicarem cerca de 100 milhões de euros na privatização dos CTT, tendo-lhes destinado 20% do capital a alienar em bolsa e 14% do capital da empresa, num regresso ao capitalismo popular a que não se assistia desde a operação pública de venda da Galp, em Outubro de 2006. O preço médio estabelecido pelo executivo, de 4,81 euros por acção, avalia os correios em 721,5 milhões. A venda acontecerá em Dezembro.

A posição de que o Governo se queria desfazer já era conhecida: até 70% dos CTT, numa primeira fase. Na segunda-feira, soube-se oficialmente que, daquela percentagem, 71% vão ficar nas mãos de grandes investidores, o que corresponderá a 50% do capital do grupo, já que a participação a dispersar no mercado de capitais corresponde a 105 milhões de acções. Para o retalho, foram destinados 15,75 milhões de títulos, que vão colocar nos pequenos investidores 10,5% dos correios. A esta participação juntar-se-ão 5,25 milhões de acções a alienar junto dos trabalhadores e que lhes darão 3,5% do capital.

Juntando estas duas últimas parcelas, num total de 21 milhões de acções, conclui-se que os pequenos investidores poderão dominar 14% dos CTT, embora o Governo assuma que, na ausência de procura, o capital que sobrar será distribuído por grandes investidores institucionais. Mas, se o retalho responder ao apelo, investirá um valor médio de 99,7 milhões de euros nesta privatização. Este montante compreende 75,7 milhões a aplicar por pequenos investidores e outros 24 milhões vindos dos trabalhadores, já considerando o desconto de 5% a que estes terão direito.

Este investimento tem como base o valor médio definido pelo Governo para cada acção da empresa: 4,81 euros. Mas o montante poderá ser superior, caso seja atingida a fasquia máxima do intervalo de preços (5,52 euros por título). Como patamar mínimo, ficou estabelecido um valor de 4,10 euros. De acordo com a resolução de Conselho de Ministros publicada segunda-feira em Diário da República, cada pequeno investidor poderá comprar até 25 mil acções, enquanto os trabalhadores têm como limite 2500 títulos. Isto significa que os primeiros terão como tecto 138.000 euros e os segundos 13.800 (tendo em conta o intervalo máximo de preço).

Desde finais de 2006 que o mercado de capitais não assistia à entrada de pequenos investidores numa oferta pública de venda. Esse período marca a entrada da Galp em bolsa. E já desde 2008, ano em que foi dispersado o capital da EDP Renováveis, que não se registava uma operação deste relevo. Esse facto foi, aliás, sublinhado por diversas vezes pelo Governo para justificar o modelo escolhido para a privatização dos CTT, quando até Outubro era dada como provável a venda directa, como aconteceu em alienações anteriores (EDP, REN e ANA).

Encaixe médio de 505 milhões
Dos grandes investidores, aos quais o Governo destinou 74,45 milhões de acções representativas de 50% do capital dos CTT, é esperado um investimento médio de 358,1 milhões de euros, que poderá atingir os 411 milhões, caso se atinja o preço máximo definido pelo Governo. Haverá ainda uma parcela de 9,5 milhões de acções que a Parpública, holding estatal que gere as participações do Estado em empresas e que controla actualmente os CTT, manterá reservada, de acordo com a resolução de Conselho de Ministros.

O intervalo de preços estabelecido, e divulgado ontem depois de semanas de contactos com largas dezenas de investidores institucionais, avalia os correios num valor médio de 721,5 milhões de euros, o que significa que, se a empresa entrasse em bolsa com esta avaliação, seria uma das menos valiosas do PSI 20. Ainda assim, este valor está acima das previsões que tinham sido feitas e que apontavam para os 600 milhões. Aliás, se for tido em conta o preço máximo definido pelo Governo, a avaliação sobe para os 828 milhões (descendo para os 615 milhões tendo como base o preço mínimo).

Mas estes valores dizem respeito a 100% dos CTT. A participação a alienar, nesta fase, poderá gerar um encaixe de 505 milhões de euros para os cofres públicos, com base no valor médio de 4,81 euros por acção. O patamar máximo será de 580 milhões e o mínimo de 430. Recorde-se que um dos investidores que tinham abordado o Governo quando o cenário mais provável parecia a venda directa, a Urbanos, veio afirmar publicamente que tinha oferecido cerca de 500 a 600 milhões por 100% da empresa.

O executivo já deixou transparecer que pretende desfazer-se dos 30% de capital que vão permanecer nas mãos do Estado, a médio prazo, mas não esclareceu ainda como. “Oportunamente diremos qual é o nosso plano”, afirmou segunda-feira, em conferência de imprensa, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, citado pela Lusa. Sérgio Monteiro referiu que está “muito confiante no sucesso da operação” e que é “um óptimo sinal que alguns investidores entendam que o preço é caro”, considerando que tal significa que o Governo está “intransigentemente a defender o interesse” do país.

A dispersão das acções em bolsa deverá ocorrer até ao final da primeira semana de Dezembro, como anunciado recentemente pelo ministro da Economia, António Pires de Lima. Os bancos escolhidos para assessorar e concretizar esta privatização, que foi acordada com a troika, são o Caixa BI, JP Morgan, BBVA e Besi. A venda dos CTT tem sido fortemente criticada pela oposição e pelos trabalhadores, que agendaram mais quatro dias de greve contra a decisão do Governo.

O modelo de venda da empresa segue os exemplos de congéneres europeias. Este ano, a Bélgica e o Reino Unido dispersaram parte do capital da Bpost e do Royal Mail em bolsa, com a procura a ultrapassar largamente as expectativas. Aliás, no último caso, o governo tem estado debaixo de fogo político sendo acusado de ter definido um intervalo de preços muito baixo para a operação. Está até agendada para hoje uma audiência no Parlamento com os bancos que colocaram as acções no mercado de capitais.

Com esta operação, o Governo fecha mais um importante capítulo do programa de privatizações acordado ao abrigo do programa de ajustamento. Depois da venda da posição que o Estado tinha na EDP e na REN e da venda de 100% da ANA, os CTT eram um dos mais vistosos anéis que sobravam nas mãos do Estado. Caso a operação se concretize pelo preço médio, os 505 milhões, as receitas com estas vendas vão alcançar quase 6900 milhões de euros (muito acima dos 5000 milhões exigidos pelas autoridades externas). E ainda há alguns anéis, embora menos valiosos ou mais difíceis de tirar, por alienar.
 
 
 
 

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