Governo britânico tenta manter a calma entre empresários

Secretário de Estado para os Negócios de Cameron convocou uma reunião com as principais confederações empresariais para lhes dizer que "não há motivo para pânico". Frankfurt já piscou o olho a empresas que queiram sair da City.

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Sajid Javid diz que que o Reino Unido não deve precipitar-se nas negociações com os líderes europeus BBC/Handout via REUTERS

O secretário de Estado britânico para os Negócios, Sajid Javid, convocou para esta semana uma reunião com as principais associações empresariais do país. “Agora é o momento de tranquilizar as empresas e a minha mensagem para elas desde sexta-feira de manhã tem sido a de que não há motivo para pânico”, disse o membro do governo de David Cameron, no programa da BBC The Andrew Marr Show.

Ainda que o Reino Unido vá deixar a União Europeia (UE), a economia britânica é suficientemente forte para aguentar alguma volatilidade nos mercados nos próximos tempos, garantiu Javid.

Isso mesmo procurará explicar na quinta-feira, a cerca de duas dezenas de responsáveis, como os líderes da Câmara de Comércio Britânica e de entidades representativas das empresas, como a Federação de Pequenas Empresas e a Confederação da Indústria Britânica.

Durante a campanha contra o “Brexit”, Javid alertou para a possibilidade de uma recessão e do desaparecimento de 500 mil empregos da economia britânica. “Se trabalharmos juntos, conseguiremos evitar que uma série de coisas que previmos se possam materializar”, preferiu o secretário de Estado salientar neste domingo.

“Espero que possamos continuar a aceder sem restrições ao mercado único”, disse, por seu turno, o secretário de Estado britânico dos Negócios Estrangeiros, Philip Hammond, em entrevista à cadeia de televisão ITV. O contrário seria “catastrófico” para as empresas britânicas, afirmou Hammond. As negociações entre a UE e o Reino Unido vão agora ter de determinar o novo figurino das relações económicas e comerciais entre os dois blocos, incluindo se a economia britânica continuar a ter acesso ao mercado único através do Espaço Económico Europeu.

Mas Sajid Javid defende que o Reino Unido não deve precipitar-se nas negociações com a UE para definir os termos da sua saída e que a abordagem “deve ser de calma”.

Com calma, ou “o mais depressa possível”, como defendem alguns líderes europeus, a preservação de empregos e o estatuto da City com o maior centro financeiro de Europa é uma das principais incógnitas deste caminho inédito que o Reino Unido e a UE se preparam para começar a trilhar.

Na sexta-feira, o presidente do banco HSBC, Douglas Flint, disse que o dia marcava “uma nova era para o Reino Unido e para as empresas britânicas”. No sábado, a BBC noticiou que o banco equaciona transferir mil empregos para Paris se o Reino Unido sair do mercado único, uma notícia que o HSBC não quis comentar. Se os bancos britânicos deixarem de ter acesso ao mercado único, fica posta em causa a sua capacidade de operarem sem restrições nos países da UE.

O impacto do “Brexit” para a City, o maior centro financeiro da Europa, que emprega 2,2 milhões de pessoas, é uma das maiores incógnitas do momento. É seguramente uma das maiores dores de cabeça do mayor londrino Sadiq Khan.

Apesar de já ter vindo pedir às empresas que não se precipitem, porque Londres “continuará a ser o melhor lugar do mundo para fazer negócios”, Khan dificilmente conseguirá travar algumas retiradas ou ajustamentos.

Na sexta-feira, a AFP citava um estudo da PwC que apontava para que o “Brexit” pudesse implicar a saída de entre 70 mil a 100 mil empregos da City até 2020. No caso da instituição norte-americana JP Morgan poderão estar em causa entre mil a quatro mil empregos, de acordo com declarações do presidente, Jamie Dimon, antes de ser conhecido o resultado do referendo.

Na sexta-feira, a AFP citava um documento interno do banco reconhecendo que terá de haver “alterações à estrutura” da instituição na Europa e à “localização de alguns empregos”.

Quem já se perfila para tentar capturar alguma desta influência são cidades como Dublin, Paris e Frankfurt. Aliás, no dia seguinte ao referendo, a associação que suporta os interesses da praça financeira de Frankfurt, a Frankfurt Main Finance, pôs online uma campanha em inglês com o mote: "Welcome to Frankfurt - What can we do for you?".

 

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