Já se viu a luz ao fundo do Túnel do Marão
Custo final da obra vai ficar-se pelos 270 milhões de euros. E a portagem para atravessar os 5,6 quilómetros de túnel será de dois euros. Obra estará concluída no primeiro trimestre de 2016
A sirene tocou três vezes. As explosões e os abalos sentiram-se oito. Minutos depois, vários quilómetros atravessados por uma galeria já com revestimento final em vários troços, e chegados ao ponto exacto em que as duas frentes de perfuração se juntam (o chamado varamento da galeria), aguardou-se pouco mais de 45 minutos, enquanto as retroescavadoras, uma de cada lado, removiam os escombros. Às 13h45 era oficial: o caminho estava aberto e era possível passar ao longo de todos os 5,6 quilómetros da galeria sul do túnel do Marão.
“É um momento histórico”, disse António Ramalho, presidente da InfraEstruturas de Portugal (IP), a dona de obra desde há 844 dias. Sem esconder a emoção e o orgulho de estar em causa uma obra que avançou em “prazos recordes”, e com “um nível e eficiência e segurança exemplar”, Ramalho disse que aquele era o dia de “todos os trabalhadores” que se empenharam em conduzir uma empreitada que contou com zero acidentes.
Numa pequena cerimónia onde assinalou o momento, o presidente da IP permitiu-se historiar aquele que foi o primeiro exemplo de resgate de uma concessão contratada em regime de Parceria Público-Privada (PPP). “Quando tomámos conta da obra, disseram-nos, até da Comissão Europeia, que estávamos a ser muito ambiciosos, que os prazos eram impossíveis, que a obra não iria avançar quanto mais acabar. O que eles não sabiam é que tínhamos gente desta fibra e desta qualidade”, discursou o presidente. Foi sempre em registo laudatório e de agradecimento que António Ramalho se permitiu, também, a dar outras boas notícias: a de que a obra iria ficar bem mais barata que o previsto (entre 260 a 270 milhões de euros, em vez dos 350 milhões de euros previstos na PPP inicial) e que, em consequência, também as portagens que vão ser cobradas para atravessar o túnel rodoviário– o maior da Península Ibérica – iriam baixar dos 2,85 euros previstos para os 2 euros. “Talvez até menos”, admitiu o presidente da IP.
As obras do túnel pararam em Junho de 2011. Quando a IP assumiu a concessão, após o resgate, dois anos depois recebeu a obra com 60% dos trabalhos realizados e já com 200 milhões de euros investidos. Esta segunda fase da obra, que foi dividida em quatro empreitadas (os acessos a poente, adjudicados à Opway, os acessos a nascente, entregues à Ferrovial; o túnel propriamente dito, adjudicados à EPOS-Empresa Portuguesa de Obras Subterrâneas; e por fim, a empreitada de instalação do sistema de portagens, adjudicado à Ascendi) teve como principal objectivo a redução dos custos e do risco.
“A divisão em empreitadas foi particularmente útil, porque permitiu o aumento da concorrência. O concurso dos dois lados teve cerca de 12 concorrentes a procurarem agressivamente a obra. No túnel tivemos seis concorrentes, é uma empreitada de maior complexidade técnica. O resultado foi conseguirmos consignar as obras com uma margem de desconto de 27% face ao preço inicial”, explicou. No total, a obra ficou orçada em 149 milhões de euros. O facto de a Comissão Europeia ter aceite o financiamento no passado mês de Agosto de 89 milhões, leva a que o esforço financeiro a suportar pela IP tenha ficado em 61 milhões. “Por isso, no total, ficará entre os 260 e os 270 milhões”, rematou.
De acordo com o cronograma da obra – que tem sido cumprido sem derrapagens - ainda este mês de Outubro deverá proceder-se ao varamento da galeria norte (a empreitada inclui dois tuneis gémeos, de 5,6 quilómetros de extensão cada) e até ao final do ano estarão concluídos os trabalhos de construção do túnel, com betonagem final e asfalto concluído – a data limite é o dia 24 de Dezembro. As empreitadas de acesso rodoviário tanto a nascente como a poente do túnel também deverão estar concluídas em Dezembro, seguindo-se depois dois meses de testes e de instalação de todo o sistema de sinalética e segurança no interior do túnel.
A IP tenciona abrir ao tráfego esta obra de ligação entre Trás-os-Montes e o Douro Litoral, “ajudando a diminuir os 40% de diferença de PIB per capita das duas regiões” e “melhorando a ligação do litoral à fronteira de Espanha”, ainda no primeiro trimestre de 2016.