Furtos neste Natal custarão quase 67 milhões ao comércio

Estudo do britânico Center for Retail Research prevê aumento de 5,5% nos furtos praticados nas lojas por clientes e funcionários.

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Prejuízos nos 20 países analisados chegam a 12,8 mil milhões de euros Nuno Ferreira Santos

Os prejuízos causados com furtos no comércio durante a época de Natal devem atingir, este ano, 66,9 milhões de euros, 5,5% mais do que em 2011. Entre 20 países analisados pelo britânico Center for Retail Research (CRR), Portugal registou a terceira maior subida face ao ano passado, apesar de, em valor, ostentar o quarto montante mais baixo. Só a República Checa e a Grécia registam um aumento mais expressivo: 5,6% (para 47,6 milhões) e 6,3% (para 66,3 milhões), respectivamente, revela o estudo, publicado anualmente.

Joshua Bamfield, director do CRR, acredita que as circunstâncias económicas podem ter tido algum impacto no crescimento do crime no retalho, "mas a principal razão reside no facto de muitos pensarem que é fácil e possível escapar" sem punição, disse ao PÚBLICO, por email. "Em tempos difíceis, as pessoas permitem-se roubar ou comprar bens roubados com o argumento de que a sua necessidade individual é superior à dos comerciantes. Contudo, isto implica um custo para todos: afecta os retalhistas, o salário dos trabalhadores, futuros investimentos em lojas e até preços", analisa.

Dos quase 67 milhões de euros que os comerciantes portugueses se arriscam a perder nesta época natalícia, mais de 39 milhões resultam de furtos praticados por clientes. Os funcionários são responsáveis por 23 milhões de euros de produtos furtados e os restantes cinco milhões referem-se a crimes praticados ao nível dos fornecedores.

Em Portugal, o custo médio dos crimes por família cifra-se nos 17,29 euros, mais 5,5% do que em 2011. Só a República Checa e a Grécia registam um aumento superior: 5,6% (para 12,45 euros) e 6,3% (para 16,45 euros), respectivamente.

EUA na frente
Os prejuízos totais para o comércio dos 20 países analisados (Bélgica e Luxemburgo apresentam dados agregados) podem somar 12,8 mil milhões de euros, 4% mais do que em 2011. Os Estados Unidos encabeçam a tabela e arriscam-se a perder 6,9 mil milhões de euros com furtos nas lojas; o valor médio do custo por família ultrapassa os 60 euros. Segue-se o Reino Unido, onde os comerciantes podem contar com uns adicionais 41 milhões de euros de prejuízo. O valor para este ano ultrapassa os 1,2 mil milhões.

A França é a terceira economia com maiores custos devido aos furtos no comércio. As estimativas do CRR – cujo período em análise inclui as semanas que antecedem o Natal e todo o mês de Dezembro – apontam para crimes no valor de 997 milhões de euros. Na lista dos produtos mais furtados estão bebidas alcoólicas, roupa de senhora e acessórios de moda, brinquedos, perfumes e produtos de beleza.

O Natal é a época mais importante de vendas para o comércio e, nos tempos em que a crise económica não influenciava o comportamento do consumidor, os gastos aumentavam 60% em comparação com outros meses do ano. O Center for Retail Research refere ainda que, na maior parte dos países, o consumo no Natal chega a contribuir com 18% a 22% para o PIB.

Contudo, a sombra da crise não deixa espaço para optimismo entre os comerciantes portugueses. A recessão e as estimativas pouco optimistas para 2013 estão a retrair os gastos dos consumidores e as vendas não serão suficientes para amparar as quedas acumuladas ao longo do ano.

A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) já adiantou que os produtos mais associados à quadra devem conseguir manter níveis de vendas, mas no geral não se esperam milagres nas contas. Os portugueses ainda vão "fazer um esforço para manter a tradição", mas estão "cada vez mais receosos nas suas decisões de compra", disse Ana Isabel Trigo de Morais, directora-geral da APED. Na grande distribuição, que teve uma queda de 0,4% nas vendas no segundo trimestre, este será o Natal "mais difícil dos últimos anos".

Natal em saldos
O sentimento é partilhado pelo pequeno comércio, que sofreu, desde cedo, com os efeitos da crise. Carla Salsinha, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços (UACS), sublinha que com a classe média a ser "fortemente atacada" pelas medidas de austeridade e as incertezas quanto a 2013, a tendência é para apertar ainda mais o cinto e travar gastos considerados supérfluos.

Os comerciantes não investem tanto em stock e apostam nas campanhas promocionais para atrair consumidores. "É um pouco o Natal em saldos. O comércio de proximidade é o que mais directamente lida com as famílias e vemos que têm menor capacidade para consumir", disse. Os presentes deram lugar às "lembranças". E no cabaz de compras quase só entram produtos com utilidade, como roupa.
 

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