Franceses aproximam-se dos chineses na compra de imóveis em Portugal

Investidores estrangeiros foram responsáveis pela aquisição de 22% dos imóveis transaccionados em 2014.

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Associação do sector diz que ainda é cedo para avaliar impacto da polémica dos vistos gold no investimento imobiliário chinês Paulo Ricca/Arquivo

Os investidores estrangeiros foram responsáveis por 22% do total de imóveis transaccionados em Portugal em 2014, que no total superaram os 106 mil, revelam estimativas preliminares cedidas ao PÚBLICO pela APEMIP, a associação que agrega as empresas e mediadores imobiliários. O total de vendas de imóveis a estrangeiros ascendeu a 23 mil imóveis no ano passado, com os ingleses, os chineses e os franceses a responderem por 57% das compras.

Apesar de ocuparem o terceiro lugar no ranking, depois dos ingleses e dos chineses, o presidente da APEMIP, Luís Lima, destaca o crescimento do investimento realizado pelos franceses, que representam 16% do total das transacções, com tendência para crescer.

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“O investimento francês aumentou consideravelmente em 2014, especialmente a partir de Junho”, afirmou o líder associativo ao PÚBLICO, acrescentando que “esse boom foi muito impulsionado pelo Regime Fiscal para Residentes não Habituais [criado em Portugal], que aliado a políticas fiscais agressivas do Governo francês fizeram com que muitos franceses e lusodescendentes procurassem o nosso país para investir”.

Depois do investimento inicial realizado por razões fiscais, muito localizado no Algarve e no segmento residencial, Luís Lima diz que é visível um interesse de franceses e de descendentes de portugueses, entre os 40 e os 50 anos, na aquisição de imóveis para desenvolvimento de negócios. Esta aposta está a concretizar-se na compra de imóveis residenciais e comerciais para o nascimento de projectos ligados ao turismo, com destaque para hostels, mas também para a criação de outros negócios.

O crescimento do mercado francês está a levar a APEMIP a apostar em novas acções promocionais neste país, preparando-se para realizar uma missão empresarial em Março, a que se seguirá outra no Brasil, que também está a aumentar o investimento em Portugal. Em 2014, os brasileiros foram responsáveis por 7% das transacções.

A liderança do investimento estrangeiro no sector imobiliário continua a pertencer, porém, aos ingleses, que respondem por 23% do total de transacções de estrangeiros, o que corresponderá a perto de 5300 imóveis.

Luís Lima adianta que os ingleses têm sido, desde longa data, os maiores investidores no sector imobiliário em Portugal. Essa aposta está localizada quase exclusivamente na região do Algarve e continua a ser, na quase totalidade, destinada a primeira ou segunda residência.

Os chineses surgem em segundo lugar – um crescimento para o qual contribuiu a possibilidade de obtenção de autorização de residência através da compra de imóveis no valor superior a 500 mil euros, os chamados vistos gold.

A compra de imóveis por investidores da China, com forte aposta na região de Lisboa, representa 18% do total, totalizando cerca de quatro mil transacções. Mas as compras dos chineses não se resumem a vistos gold, sendo visível um aumento de transacções para investimento, com destaque para as aquisições para arrendamento.

Luís Lima não exclui que o escândalo de corrupção que envolveu altos funcionários do Estado português, incluindo o ex-director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que se encontra em prisão domiciliária, possa afectar o investimento chinês em Portugal, mas também defende que ainda é cedo para tirar conclusões

O presidente da APEMIP lembra que Outubro foi o melhor mês de sempre para o investimento chinês em Portugal. E destaca ainda que a comemoração do ano chinês, que aconteceu recentemente, é habitualmente antecedida de alguma diminuição de negócios. Por esse motivo, defende que é necessário esperar mais algum tempo para avaliar se o fluxo de investimento chinês vai ser afectado de forma significativa ou não com o escândalo dos vistos gold.

Para a APEMIP, a aposta no mercado chinês vai continuar, e ainda em Março vai estar presente num grande evento em Xangai. A missão vai contar com um universo de mais de 60 empresas, mediadores e investidores.  

“O importante é que o mercado imobiliário está a recuperar, e o sector tem capacidade para captar mais investimento estrangeiro”, adianta Luís Lima. O líder associativo defende que o investimento estrangeiro também pode contribuir para a verdadeira aposta na reabilitação urbana, sendo importante a definição urgente dos apoios financeiros que possam permitir essa aposta.  

Os irlandeses chegaram a ter um peso importante no investimento imobiliário, também no segmento residencial e com preferência pelo Algarve, mas as transacções caíram a pique depois da crise financeira de 2008 e actualmente representam pouco mais de 1% do total, abaixo da Suécia, de Angola, da Rússia, que respondem, cada uma, por 2% das transacções. Com quotas interessantes de 6% e 5% aparecem a Bélgica e a Alemanha.

A APEMIP só no último ano começou a fazer uma compilação do número de transacções por nacionalidades, pelo que não existem dados comparativos com os anos anteriores. As informações agora divulgadas também não incluem o valor das transacções.

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