França falhou défice em 2012

Resultado oficial ficou em 4,8% do PIB, contra os 4,5% que estavam nas previsões. Dívida pública também subiu mais do que o esperado e fica num novo recorde de 90,2% do PIB

Paris procura soluções para evitar os tempos difíceis
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Paris procura soluções para evitar os tempos difíceis Miguel Manso
Didier, um sem-abrigo no sudoeste de França, acompanha a entrevista de Hollande na quinta-feira
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Didier, um sem-abrigo no sudoeste de França, acompanha a entrevista de Hollande na quinta-feira Regis Duvignau/Reuters

Más notícias para França, um dia depois da entrevista do Presidente François Hollande, que prometeu rigor sem mais austeridade. O país reduziu o défice em 2012, mas falhou os objectivos de um corte mais pronunciado. E a dívida pública atingiu um novo máximo.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística e dos Estudos Económicos (INSEE), o défice na segunda maior economia europeia (atrás da Alemanha) ficou em 4,8% do PIB, ou seja 0,3 pontos percentuais acima dos objectivos do Governo, que tem de cortar este valor para 3% do PIB em 2013. Uma meta que, segundo o próprio Governo, está em risco de não ser cumprido, prevendo um défice de 3,7% no final do corrente ano.

Esta "derrapagem nos objectivos do Governo", segundo a classificação usada pelo jornal Le Monde, atira para segundo plano o facto de o défice até ter descido em 2012, quando comparado em 2011, ano em que se tinha situado em 5,3% do PIB.

A dívida pública, segundo o INSEE continuou a aumentar, no ano passado, atingindo agora o valor de 1,88 biliões de euros, ou 90,2% do PIB. O Governo está a traçar um novo caminho para as contas públicas através de um novo programa de estabilidade que terá de ser discutido e aprovado por Bruxelas. Nesse quadro, Paris propõe mais um ano para atingir o défice de 3%, uma hipótese que o comissário europeu Ollie Rehn, responsável pelos assuntos económicos e financeiros, já disse ser aceitável desde que o valor máximo de 3% seja garantido para 2014.

Rigor sem austeridade, prometeu Hollande
Na entrevista de quinta-feira à noite, o Presidente François Hollande anunciou uma reformulação da polémica taxa de imposto de 75% sobre os rendimentos mais elevados, que pasará agora a ser aplicado aos salários superiores a um milhão de euros e pago pelas empresas.

Numa emissão especial da France 2, o Presidente socialista disse que a sua proposta original, que foi rejeitada pelo Tribunal Constitucional, será agora redesenhada para passar a ser suportada pelas empresas e não pelos contribuintes individuais. A taxa de 75% será aplicada sobre os salários superiores a um milhão de euros. “Neste momento difícil, será que aqueles que ganham mais não podem fazer um esforço durante dois anos?”, perguntou.

Mas para além desta mudança, assegurou, o seu Governo não planeia impor novas taxas, nem subir os impostos nem neste ano nem em 2014, para além de uma subida já planeada do IVA. “Em 2013, vamos fazer economias para que não haja mais necessidade de esforços pelos franceses”, declarou, prometendo que em vez de serem os franceses a gastar menos, será o Estado. “Vamos cortar os gastos”, disse.

Constrangido pelo arrefecimento da economia, que registou um crescimento zero em 2012, e pelo aumento do défice orçamental e da dívida pública, o Presidente francês comprometeu-se com a prossecução de uma política de rigor orçamental, mas recusou liminarmente tomar mais medidas de austeridade, considerando mesmo que essas políticas acabarão por “conduzir a Europa à explosão”.

“Há um debate em curso sobre a austeridade e nós temos esta tensão amigável com a Alemanha. Aceito que a Europa deve ser rigorosa. Mas mais austeridade não. Isso é condenar a Europa à explosão”, frisou, acrescentando que a receita não produzirá os efeitos desejados de reduzir os défices dos países. O que produz, contrapôs, é “o aumento dos populismos e dos egoísmos nacionais”.

Perante o aumento da tensão social e a manifestação de descontentamento dos franceses nas sondagens que colocam a impopularidade do Presidente nos 68%, François Hollande sentiu necessidade de vir a público para sossegar a população e justificar as “escolhas difíceis” da sua governação – e que vão contra as suas promessas eleitorais.

As primeiras palavras de uma emissão cuidadosamente encenada pelo Eliseu foram para o desemprego, que bate actualmente nos 10,6%, o nível mais alto dos últimos 15 anos e próximo do máximo histórico de 1994 e 1997.

 

 

 

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