França compra 2000 comboios que não cabem em muitas estações

Solução foi remodelar as plataformas mais antigas.

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A remodelação das estações já custou 80 milhões FRANCOIS GUILLOT/AFP

A empresa estatal SNFC, responsável pelos transportes ferroviários em França, comprou dois mil comboios por cerca de 15 mil milhões de euros. O problema foram 20 centímetros extra de largura, pensados para dar mais conforto aos passageiros, mas que os tornam demasiado grandes para muitas das estações onde têm de passar.

As autoridades estão agora a fazer alterações às plataformas mais antigas, para que estas passem a ter as dimensões necessárias para os novos comboios, que foram comprados às multinacionais canadianas Bombardier e Alstom. A operação de remodelação custará pelo menos 50 milhões de euros.

“Descobrimos este problema tarde demais”, afirmou, citado pela imprensa francesa, Jacques Rapoport, presidente da RFF, outra empresa estatal, que é responsável pela infra-estrutura dos caminhos-de-ferro. A descoberta aconteceu quando protótipos dos novos modelos estavam a ser testados e se percebeu que estes não podiam entrar em algumas das estações. Para tornar o caso mais insólito, o problema foi revelado nesta quarta-feira pelo semanário satírico Le Canard Enchainé, que deu conta das obras em curso.

O problema deve-se ao facto de a RFF (responsável pela estrutura) ter comunicado à SNFC (que é responsável por operar os comboios e pela exploração comercial das linhas) apenas as dimensões das plataformas com menos de 30 anos, quando a maioria destas estruturas tem mais de 50 anos e são mais estreitas do que as mais modernas. Segundo a Reuters, o ministro francês dos Transportes, Frederic Cuvillier, colocou a responsabilidade num “sistema de caminhos-de-ferro absurdo”, criado pelo anterior Governo, que dividiu a gestão da infra-estrutura e a operação dos comboios por duas empresas estatais diferentes.

O presidente da RFF já garantiu que a falha não terá repercussões nos passageiros e que os preços dos bilhetes não vão subir. Os gastos adicionais, afirmou, serão compensados pelo aumento do tráfego que os novos comboios deverão trazer.

A indignação com o erro espalhou-se pela classe política francesa. A deputada Valérie Rabault, do Partido Socialista, disse que o presidente da RFF “se devia demitir”, ao passo que o secretário de Estado dos Transportes, Frédéric Cuvillier, exigiu um inquérito interno. Já Segoléne Royal, ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia, não usou palavras brandas e exigiu aos responsáveis das duas empresas “todas as clarificações sobre as razões por que são tomadas estas decisões estúpidas”.

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