FMI: problema dos bancos “demasiado grandes para falir” ainda está por resolver

Apoios públicos distorcem a concorrência no sector bancário, diz o Fundo Monetário Internacional.

Foto
O FMI, liderado por Christine Lagarde, insiste na necessidade de os bancos reforçarem os capitais próprios KENZO TRIBOUILLARD/Reuters

O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que a mobilização de financiamento público para socorrer os bancos em dificuldades, através de “somas colossais”, levou o sector financeiro mundial a partir do princípio de que teria o “apoio pontual” dos Estados sobre os “bancos considerados demasiado grandes para falir”.

Num relatório sobre a amplitude das ajudas implícitas ao sector bancário, publicado nesta segunda-feira, a instituição liderada por Christine Lagarde diz que esta “protecção dos Estados” está na origem de vários problemas, criando uma concorrência desigual, exacerbando riscos e implicando “custos elevados para o sector público”.

Os processos de reestruturação levaram a uma maior concentração no sector. E o elevado grau de concentração representa também um maior grau de risco sistémico potencial, alerta o FMI, notando que, na zona euro, no Japão, no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Rússia e na Índia, a dimensão dos activos do sector bancário em percentagem do produto interno bruto (PIB) tem vindo tendencialmente a aumentar desde 2000.

O FMI nota que o crescimento do sector, a concentração e a interligação potenciada na última década exacerbaram “os problemas relacionados com as instituições financeiras consideradas demasiado grandes para falir”.

Os casos analisados no relatório sobre a concentração do sistema financeiro na zona euro mostram que, de 2006 a 2012, o peso dos três maiores bancos no total dos activos bancários aumentou na França e na Espanha (estando acima dos 60%), mas diminui na Alemanha e em Itália.

Se um dos três maiores bancos de um país enfrentar dificuldades ou entrar em falência, diz o FMI, “poderá desestabilizar todo o sistema financeiro”, pela ligação das actividades bancárias a outros bancos e pelo “efeito potencial da falência na confiança do sistema financeiro como um todo”.

Uma das dificuldades tem a ver com a presença e a exposição das instituições financeiras nos vários mercados, o que, segundo o FMI, fez aumentar a complexa teia de relações interbancárias no sistema financeiro a nível mundial. No entanto, segundo o FMI, as ligações que decorrem da exposição dos bancos a outros mercados nas suas actividades internacionais diminui a partir de 2007 – o que a instituição atribui a mudanças nos quadros regulatórios do sector financeiro e à estratégia dos bancos em reduzir a exposição além-fronteiras durante a crise financeira internacional.

Além da necessidade de reforço de capitais próprios, a instituição defende que seja criada uma taxa de estabilidade financeira que incida sobre o passivo dos bancos e defende a coordenação de políticas em torno de mecanismos de resolução bancária, uma medida que a zona euro tem em curso no quadro da união bancária.

No caso da zona euro, os governos da União Europeia e o Parlamento chegaram a acordo este mês para a criação de um instrumento direccionado para salvar os bancos em risco de falência, garantido através de um fundo financiado pelo próprio sistema financeiro.

Sugerir correcção
Comentar