FMI baixa previsões e aponta para recessão na zona euro

Moeda única continua a ser um foco de risco para o crescimento global, alerta o FMI. Recessão na zona euro e abrandamento da economia alemã previstos pela instituição.

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A recuperação da economia da moeda única vai demorar, alerta o FMI Thomas Peter/Reuters

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa nesta quarta-feira as previsões de crescimento para a zona euro em 2013 e 2014. Em Outubro do ano passado, o FMI previa que o produto interno bruto da eurolândia crescesse 0,1% este ano. Agora, refeitas as contas e ponderados os riscos que se abatem sobre os países da moeda única, a instituição aponta para a manutenção de um cenário de recessão este ano, embora ligeira (-0,2%), e um crescimento de 1% em 2014.

As novas previsões do FMI constam de uma actualização das Perspectivas Económicas Mundiais, onde alerta que a área do euro continua a ser um foco de risco “considerável” para o crescimento mundial.

Os técnicos da organização reconhecem que, “apesar de a acção política ter reduzido riscos e melhorado as condições financeiras para os Governos e os bancos”, essa nova realidade ainda não produziu efeitos “na melhoria das condições dos empréstimos para o sector privado”.

“A manutenção da incerteza sobre a resolução da crise da dívida, apresar do progresso obtido nas reformas políticas, podem afectar as perspectivas [económicas] para a região”, acrescenta o relatório. O novo valor avançado representa um corte de 0,3 pontos percentuais face à anterior previsão. Em 2012, foram apurados -0,4%.

O fundo não divulga dados para Portugal, apenas o fazendo para a zona euro em geral e para as principais economias da região, que vêem agravadas as suas previsões. A Alemanha, o principal motor da economia da zona euro, deverá crescer 0,6%, França 0,3%, Itália -1% e Espanha -1,5%.

As perspectivas de curto prazo para a zona euro são mais fracas do que a instituição previa em Outubro, “apesar de os progressos de ajustamento nacionais e de o reforço da reposta política da União Europeia à crise terem reduzido os riscos extremos e terem melhorado as condições de financiamento dos países da periferia”.

“As medidas adoptadas reduziram graves riscos da crise na zona euro”, entende a instituição (parceira dos resgates financeiros desencadeados no quadro da crise das dívidas soberanas), mas “o regresso a um período de recuperação depois de uma contracção prolongada vai demorar mais”.

O fundo nota ainda que a situação nos mercados de dívida estabilizou, perante uma descida das taxas de juro dos países periféricos, como é o caso de Portugal, Espanha ou Grécia. Porém, aqui a contracção da actividade na recta final de 2012 terá sido mais forte do que o FMI esperava, com as repercussões da crise a chegarem ao “coração” da moeda única.

Para o FMI, “a zona euro continua a representar um risco considerável para as perspectivas da economia mundial”. E por isso diz ser preciso agir – não só na zona euro, mas também nos Estados Unidos ou China – “para consolidar a frágil recuperação da economia mundial”.

No caso da moeda única, sustenta, “em particular, os riscos de uma estagnação prolongada da zona euro aumentarão se a dinâmica de reforma não se mantiver”.

“Os países da periferia devem continuar o seu ajustamento e os países do coração da zona euro devem suportar os seus esforços”, nomeadamente utilizando as barreiras de protecção europeias, respeitando o pacto orçamental, avançando com a criação da união bancária e aprofundando a integração orçamental.

A actividade económica mundial vai acelerar-se em 2013 (um crescimento de 3,5%), mas a melhoria será mais gradual do que a instituição projectava em Outubro, com os riscos associados à zona euro se, nos EUA, houver um “reequilíbrio orçamental no curto prazo excessivo”.

Quanto à maior potência mundial, o FMI entende que não deve haver, no curto prazo, essa preocupação excessiva com a consolidação orçamental, mas, no médio prazo, entende que deve haver um “plano credível” centrado nomeadamente na reforma fiscal.

Em relação à China, o FMI defende que a segunda maior economia mundial deve “continuar as reformas” orientadas para o mercado e reequilibrar a economia com a preocupação de promover o consumo privado. Sobre o Japão, o FMI acredita que, depois de o país ter entrado em recessão, as medidas de estímulo económico “promovam o crescimento no curto prazo” – um aumento de 1,2% do PIB este ano, seguido de um abrandamento (0,7% em 2014).
 
 
 

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