FMI avisa zona euro que vai ter de perdoar parte do empréstimo à Grécia

Dentro do FMI, os países da América do Sul já votam contra a entrega de mais dinheiro à Grécia, dizendo que é demasiado arriscado.

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Yannis Behrakis/REUTERS

Os países da zona euro vão ter, durante os próximos dois anos, de emprestar mais 10.900 milhões de euros à Grécia e aceitar perdas nos empréstimos já realizados na ordem dos 7400 milhões de euros. O aviso foi feito nesta quarta-feira pelo FMI, que aumenta, a poucos meses das eleições na Alemanha, cada vez mais a pressão sobre os seus parceiros europeus na troika para que estes assumam rapidamente a necessidade de mais uma renegociação do programa grego.

No relatório de mais uma avaliação à Grécia, os responsáveis do FMI não podiam ser mais claros em relação ao que querem que a Europa faça, voltando a alertar para um problema grave de falta de sustentabilidade da dívida pública. “Depois de atingir um pico de 176% do PIB este ano, espera-se que a dívida desça para 124% em 2020, depois de medidas adicionais de alívio de cerca de 4% do PIB (cerca de 7400 milhões de euros) dos parceiros europeus da Grécia que terão de ser decididos em 2014 e 2015”, afirma o relatório.

No documento, o Fundo diz ainda que “as preocupações com a sustentabilidade da dívida continuam a ser um risco”, pelo que, para melhorar o sentimento dos investidores, “os parceiros europeus devem considerar providenciar um alívio que conduzisse a uma redução mais rápida da dívida do que a actualmente programada”.

Para além do perdão de dívida, o empréstimo também terá de ser reforçado em 10.900 milhões de euros, calcula o FMI, para fazer face a necessidades de financiamento que não estão garantidas para os dois próximos anos.

O relatório do FMI, com este aviso de que uma renegociação do programa grego terá de ser feita nos próximos anos, acontece numa altura em que na Europa - e em particular na Alemanha - o discurso tem sido o de negar a necessidade de uma nova reestruturação de dívida na Grécia. Numa visita recente a Atenas, o ministro alemão da Finanças, Wolfgang Schäuble, aconselhou os responsáveis políticos gregos a não pensarem numa renegociação do programa, afirmando que o que há a fazer é “cumprir o que ficou combinado”.

Na Alemanha, que está com eleições à porta, a possibilidade de um aumento do empréstimo à Grécia ou, ainda pior, de um perdão de dívida é um tema que Angela Merkel não quer ver a dominar o debate eleitoral.

Há cerca de um ano e meio, a Grécia negociou um segundo programa com a troika. Para além de um reforço do empréstimo, foi acertada uma reestruturação de dívida, que afectou apenas os investidores privados. Desta vez, contudo, uma reestruturação terá de afectar os credores oficiais, nomeadamente, os parceiros europeus.

Apesar de fazer estes avisos, o FMI voltou a aprovar a concessão de mais uma tranche do empréstimo à Grécia. No entanto, essa aprovação está cada vez a ser mais difícil. O brasileiro Paulo Nogueira Batista, que representa 11 países da América do Sul e Central no conselho executivo do FMI, anunciou nesta quarta-feira que não apoiou a concessão desta nova tranche, criticando o programa da troika na Grécia e defendendo que o FMI não devia estar a arriscar o seu dinheiro desta maneira.

Nogueira Batista diz que os economistas do FMI apresentam estimativas “demasiado optimistas” para o crescimento económico e a sustentabilidade da dívida e afirma que o relatório do Fundo “está a um passo de contemplar abertamente a possibilidade de um incumprimento ou de um atraso nos pagamentos feitos pela Grécia ao FMI”.

Com a América do Sul contra, os países europeus e os EUA continuam a garantir o apoio ao programa da troika na Grécia.

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