Filipe Pinhal: donos das offshore quiseram “fazer mal” à ex-administração do BCP

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“Não é qualquer pessoa que tem uma conta offshore”, referiu Filipe Pinhal Ricardo Brito/Arquivo

O ex-administrador do BCP Filipe Pinhal disse esta quinta-feira em Tribunal que os donos das offshore Cayman poderão ser os responsáveis pelos desaparecimento dos papéis onde constava o último beneficiário, provavelmente com o objectivo de “fazer mal” à administração.

Filipe Pinhal, que também foi presidente do banco, deu a certeza, na terceira sessão do julgamento do processo-crime do BCP, que quem ‘escondeu’ esses papéis não foram os quatros arguidos do processo: Jorge Jardim Gonçalves, Christopher de Beck, António Rodrigues e o próprio Filipe Pinhal.

“Os regulamentos do banco de abertura de contas offshore foram violados e se alguém os violou não foi nenhum destes arguidos”, sublinhou Filipe Pinhal, acrescentando que, nesta questão, nem a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), nem o Banco de Portugal “quiseram investigar quem foi”.

O arguido voltou a lembrar que “não se juntaram quatro senhores numa sala” para congeminar a constituição das sociedades offshore com a intenção de fazer subir o preço das acções do BCP, acrescentando que, como hipótese remota, “alguém ter encontrado alguém dentro do banco interessado em fazer desaparecer os papéis”, “alguém zangado com a administração e que pretendia fazer mal”.

Explicando que o seu pelouro na altura dos factos era apenas o negócio doméstico do banco e que foi alertado pelo seu colega António Rodrigues porque poderia haver o perigo de não recuperar crédito, Filipe Pinhal foi dizendo que “não é qualquer pessoa que tem uma conta offshore” e que quem, no banco, assina a abertura de uma conta deste tipo “considera o cliente idóneo”.

“Os meus pelouros eram o negócio doméstico e tenho de informar o tribunal que todos os aspectos técnicos que resultam de quais os instrumentos necessários para constituir uma offshore não são do meu conhecimento”, frisou.

Rogério Alves, advogado de António Rodrigues, disse à Lusa que a estratégia da defesa é afirmar perante o tribunal que os quatro arguidos não tinham, à data, conhecimento das 17 offshore e que nunca conheceram os últimos beneficiários “por ser a realidade”.

O advogado afirmou que “foi o BCP que se apercebeu que, relativamente a 17 empresas suas clientes, não haver evidências de quem seria o último beneficiário”, adiantando que “é perfeitamente previsível que esta versão se mantenha até porque é a versão que corresponde à verdade”.

Na quarta-feira, o ex-presidente do BCP, Jardim Gonçalves, garantiu que as offshore Cayman não pertenciam ao banco e não foi possível encontrar o ‘dono’ porque terá desaparecido o papel onde constava essa informação.

Os quatro arguidos estão a ser julgados pelos crimes de manipulação de mercado e falsificação de documentos entre 2002 e 2007.

Tanto este processo-crime como as acções movidas pelos reguladores da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Banco de Portugal incidem sobretudo sobre as chamadas 17 offshore Cayman sem último beneficiário conhecido (‘dono’) que, através de financiamento do BCP, terão comprado títulos próprios do grupo com cobertura insuficiente.

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