Fiat paga 3,5 mil milhões de euros para assumir o controlo total da Chrysler

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As negociações arrastava-se há um ano AFP/Robyn Beck

A Fiat vai, finalmente, assumir o controlo da totalidade do capital da norte-americana Chrysler. Ao fim de cerca de um ano de negociações, a companhia italiana conseguiu convencer o fundo de saúde do sindicato dos trabalhadores do sector automóvel a vender a participação que mantinha na construtora automóvel norte-americana, correspondente a cerca de 42% do capital.

O negócio, anunciado na noite do primeiro dia do ano, envolve um pagamento de 4,35 mil milhões de dólares, o equivalente a 3,5 mil milhões de euros. Deste montante, 65% será pago directamente pela construtora norte-americana e o restante pela Fiat, o que dispensa a companhia italiana de ter que envolver os seus accionistas no esforço de compra, através de um aumento de capital.

O negócio, conduzido pelo presidente executivo da Fiat, o mediático Sergio Marchionne, deverá ser formalizado até ao próximo dia 20 e é considerado pelos analistas como uma vitória para a marca italiana. As negociações foram-se eternizando no tempo devido a discordâncias quanto ao preço a fixar pelas acções que são objecto da transacção.

"Sempre se pensou que eles [Fiat] teriam que pagar um pouco mais do que o que ficou acordado", afirmou à agência Reuters um analista de um grande banco de investimento em Londres. "O mercado vai adorar isto - Marchionne voltou a conseguir um bom negócio", acrescentou.

A entrada da Fiat no capital da Chrysler deu-se quando o estado norte-americano decidiu abandonar a posição accionista assumida quando a crise económica e financeira quase condenou à morte, em 2009, duas das mais importantes construtoras dos Estados Unidos, a General Motors e a Chrysler.

Foi no âmbito deste processo que Sérgio Marchionne se destacou como um negociador hábil, que viu na Chrysler uma forma de a Fiat expandir a sua presença, de potenciar sinergias e de promover economias de escala numa perspectiva de fusão operacional com a companhia norte-americana. A Fiat vivia, então, as dificuldades próprias de uma situação de crise na Europa - que afectavam toda a indústria - e os constrangimentos decorrentes de um aumento de distâncias para os seus concorrentes, mercê de uma menor dinâmica na geração de novos produtos. Nos últimos anos, ao contrário da irmã do outro lado do Atlântico, a Fiat tem vindo a reportar prejuízos. 

Conseguir entrar no até então exclusivo clube das construtoras norte-americanas foi visto como um movimento de génio de Sergio Marchionne, mas a tradução prática do negócio foi sendo mitigada pelo facto de a Fiat continuar a ter um parceiro de capital que não era desejado e, não sendo também estratégico, inviabilizava a tomadas de decisões de maior alcance.

Numa declaração produzida a propósito da concretização do negócio, Marchionne afirma que "o controlo unificado" da Chrysler "irá agora permitir-nos [à Fiat] executar de uma forma plena a nossa visão de criar um construtor automóvel com dimensão global". Mas Andrea Giuricin, especialista de transportes na Universidade de Milão, alerta que se caminha para uma companhia "crescentemente americana", porque na Europa e, especialmente em Itália, "as condições do negócio mantêm-se difíceis". 

O novo quadro irá permitir que, num curto espaço de tempo, a Fiat possa alargar parcerias para a troca de saber e tecnologia, para interligar redes de comercialização, além de poder centralizar logísticas administrativas que funcionem para as duas marcas. A Reuters lembrava ontem que as duas empresas têm as suas finanças separadas, mas a fusão poderá produzir também impactos a este nível, libertando para a Fiat meios financeiros que lhe permitam expandir as suas linhas de operação.
 
 
 
 

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