Ferrovia portuguesa quase sem investimento nos próximos cinco anos

A Infra-estruturas de Portugal vai gastar cerca de 83 milhões de euros por ano na ferrovia até 2020 em projectos que são essencialmente de manutenção da rede.

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As linhas do Norte, Beira Alta e Beira Baixa são responsáveis por 44,5% do montante total previsto no plano PÚBLICO/Arquivo

Para o caminho-de-ferro, as intenções da Infra-estruturas de Portugal (que resulta da fusão da Refer com a Estradas de Portugal) para os próximos cinco anos limitam-se a “jardinar” pelo país um conjunto de projectos que, segundo a empresa, visam ser “essenciais à manutenção da exploração ferroviária”.

Trata-se, sobretudo, da reabilitação de linhas férreas e edifícios, automatização de passagens de nível e melhorias dos sistemas de comunicações num total de 802 intervenções ao longo de cinco anos e em todo o território onde ainda há carris.

De estrutural, pouco ou nada mudará nas infra-estruturas ferroviárias, pelo menos na percepção dos seus utilizadores - os passageiros e os transportadores de mercadorias – visto que manter-se-ão as mesmas velocidades. Ainda assim, o documento da Infra-estruturas de Portugal refere que estas intervenções vão “contribuir para a aumentar a competitividade da economia e das exportações nacionais”, apesar de não haver nenhum investimento significativo nos acessos às fronteiras.

A linha que deveria ligar Évora a Badajoz continua no papel e, na Beira Alta, não há nenhum investimento para chegar mais rápido a Vilar Formoso, limitando-se a empresa a reparar a linha que ficou danificada com os descarrilamentos de 2014.

Apesar de necessários, a maioria dos projectos destinam-se a “segurar” a ferrovia portuguesa, a fazer pequenas melhorias pontuais e a aumentar a segurança (sobretudo com a eliminação de passagens de nível).

Os 414 milhões de euros anunciados representam apenas 1,6% dos fundos comunitários que Portugal vai receber durante este período (26 mil milhões de euros). E, numa comparação com a rodovia, tendo em conta que o país terá de pagar 1500 milhões de euros por ano às antigas SCUT, este “investimento” na ferrovia significa apenas 6% desse montante.

O Plano de Proximidade Médio Prazo para a ferrovia é emblemático da cultura dominante da Estradas de Portugal na nova empresa que agregou a Refer: o documento esmiúça os projectos previstos numa lógica de distritos e não de linhas ferroviárias. É que a antiga Junta Autónoma das Estradas (JAE), que está na origem das Estradas de Portugal, estava dividida por distritos, tendo-se agora imposto esta abordagem à ferrovia.

Por exemplo, os 32 milhões de euros que vão ser afectos à linha do Douro estão distribuídos por quadros nos distritos de Bragança, Guarda, Porto, Vila Real e Viseu, sendo que neste último se trata apenas de um curto troço de dez quilómetros. A linha do Norte aparece com as intervenções espalhadas por seis distritos. E não ficará com a sua modernização concluída visto que serão apenas feitas renovações de via que não trarão qualquer aumento de velocidade. No fundo, apenas se trava a degradação dos troços da principal linha do país que ficaram por modernizar.

Com 184,4 milhões de euros afectos, as linhas do Norte, Beira Alta e Beira Baixa são responsáveis por 44,5% do montante total previsto no plano. Segue-se a linha do Sul, com 46,8 milhões de euros e o Douro com 32,1 milhões.

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