Famílias arrefecem intenções de pedir crédito após uma tendência de subida

Foto

No início deste ano, as famílias portuguesas começaram a procurar mais os bancos para pedir crédito à habitação e assim se mantiveram durante seis meses.

Esta tendência já não se verificava desde 2008, ano que se sentiram fortemente os impactos provocados pela crise financeira que começou nos Estados Unidos (houve apenas uma inversão durante um trimestre, no início de 2010). A recuperação de pedidos de empréstimos para aquisição de casa própria manteve-se por dois trimestres, sugerindo uma tendência de recuperação da procura, ligada a factores como um sentimento da melhoria da confiança dos consumidores.

No entanto, segundo os dados do Banco de Portugal referentes ao mercado de crédito, no terceiro trimestre o ciclo foi interrompido, registando-se uma estabilização, ou seja, um arrefecimento das intenções dos particulares.

O mesmo, aliás, se passou com a procura das famílias por crédito ao consumo e outros empréstimos. O ciclo negativo da procura, que também teve início em 2008, começou a recuperar mais cedo do que no crédito à habitação. Por alturas do Verão do ano passado, as famílias começaram a mostrar intenções de pedir mais dinheiro emprestado aos bancos (para compra de viaturas, por exemplo).

Os dados do banco central revelam, no entanto, que no terceiro trimestre deste ano houve novo arrefecimento da procura de crédito ao consumo. E, embora não tenham parado de emprestar dinheiro, seja a particulares ou a empresas, o certo é que os bancos, segundo os mesmos dados do Banco de Portugal, não dão grandes sinais de menor restrição de crédito.

No seu relatório, que olha para o médio prazo, o banco central afirma, após inquirir as instituições financeiras, que só uma minoria diz acreditar que as operações de refinanciamento de prazo alargado direccionadas pelo Eurosistema terão impacto (positivo) nos “critérios aplicáveis aos empréstimos particulares”. Neste momento, “todos os bancos reportaram uma estabilidade dos critérios de concessão de crédito” a particulares.

Se, de facto, as famílias tendem a pedir mais dinheiro, não parece haver grande tendência para os bancos abrirem a torneira. Os resultados dos três maiores bancos nacionais, agora conhecidos, evidenciam que se mantém a descida do stock de crédito à habitação, e que o processo de desendividamento continua, com uma melhoria do rácio de crédito sobre depósitos. O BPI está agora nos 88% (contra 97% do terceiro trimestre 2013), a CGD baixou para os 96% (contra 106%) e o BCP passou para 111% (contra 122%).

De acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pelo BCE, e com base numa análise do gabinete de estudos económicos do Ministério da Economia, em Setembro, a diferença entre a taxa de juro de novos empréstimos (em geral) e a taxa de juro de novos depósitos (mais de 11 meses) situou-se em 3,2 pontos percentuais, superior à diferença verificada em Espanha e o dobro quando comparado com Itália.

Olhando para os empréstimos às empresas, verifica-se que as taxas de juro de novos empréstimos com montantes até 250 mil euros e até um milhão de euros desceram ligeiramente para 5,69% e para 5,2%. E verifica-se que “os spreads das taxas de juro de novos empréstimos continuam em níveis muito acima” da média da  zona euro (4,5 pontos percentuais, mais do dobro da média).

Sugerir correcção
Comentar