Falhada a privatização EMEF aposta na internacionalização

Empresa da CP para a manutenção e reparação de comboios já ultrapassou um milhão de euros de lucros em 2015 e está a concorrer no mercado internacional.

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Em Portugal, a EMEF vai continuar com o seu mercado natural (a frota da CP e alguns trabalhos pontuais para a Fertagus) Enric Vives-rubio

Liberta dos constrangimentos impostos pelo processo de privatização – o qual falhou devido à queixa da Bombardier a Bruxelas alegando que a EMEF recebera ajudas estatais de 90 milhões de euros – a empresa afiliada da CP está a apostar forte no mercado internacional. Moçambique, Angola, Tunísia, Suíça, Espanha e Irlanda, são países aos quais foram apresentadas propostas em concursos públicos para a manutenção de equipamentos ferroviários. E, em breve, deverá ser apresentada uma proposta à República Dominicana.

Aproveitando a venda de automotoras da CP para o Peru, a EMEF facturou este ano cerca de 70 mil euros em reparação de peças para aquele país. Um valor praticamente simbólico na facturação de 24,6 milhões de euros com que fechou o primeiro semestre de 2015, mas que simboliza a capacidade da empresa em trabalhar nos mercados externos onde a realidade ferroviária é semelhante à portuguesa.

O objectivo, porém, é exportar serviços de grande valor tecnológico, graças sobretudo à experiência obtida na manutenção dos alfas pendulares e das locomotivas eléctricas da frota da CP, bem como graças a alguns projectos de investigação que um grupo de jovens engenheiros da empresa tem levado a cabo. Para isso, a EMEF criou a Nomad Tech em parceria com a inglesa Nomad Digital, que está a desenvolver projectos no Reino Unido, Noruega, Alemanha, Austrália, Roménia. Fonte oficial da  EMEF diz que “há boas oportunidades de negócio” também na Suécia, China, Espanha, Roménia e Áustria.

A facturação da Nomad Tech no ano fiscal de Julho 2014 a Julho de 2015 foi de 1,6 milhões, prevendo-se que no próximo ano se duplique esse valor.

Ainda sob o “chapéu” da Nomad, a EMEF tem estabelecido memorandos de entendimento com a China CNR Corporation (o maior construtor mundial de material circulante), bem como com os caminhos-de-ferro de Moçambique e de Luanda.

A internacionalização depara-se contudo com o problema do financiamento porque, sendo uma empresa pública, não pode receber auxílio do Estado, restando-lhe apenas o financiamento bancário ou os seus próprios recursos. A boa notícia é que a EMEF passou de prejuízos de 3,4 milhões de euros em 2013 para quase um milhão de euros de lucros em 2014. E, no primeiro semestre de 2015, já somava 1,5 milhões de lucros.

Em Portugal, a EMEF vai continuar com o seu mercado natural (a frota da CP e alguns trabalhos pontuais para a Fertagus), devendo agora a empresa mãe submeter novamente ao Tribunal de Contas os contratos de reparação e manutenção de material circulante que tinham sido chumbados por a empresa estar em processo de privatização, sendo que, desta vez, não são de esperar impedimentos.

Um dos mais importantes desses contratos é a revisão de meia vida dos pendulares, um projecto no qual a EMEF esteve envolvido, sobretudo na área do interiorismo. Depois da remodelação, estes comboios vão parecer aos olhos do público como novos.

Uma “espada de Dâmocles” porém, está suspensa sobre a empresa – a queixa da Bombardier que, se tiver provimento em Bruxelas pode levar à extinção da própria EMEF porque esta não terá capacidade para pagar 20 a 40 milhões de euros de indemnização. O próprio secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, reconheceu em conferência de imprensa no final de Julho que aquela queixa “é uma ameaça muito importante ao futuro da empresa”.

Outro constrangimento, ainda que menos grave, é a inadequação dos seus recursos humanos. A empresa tem 994 trabalhadores (eram 1130 há dois anos), distribuídos por 11 oficinas em todo o país. Mas precisa simultaneamente de libertar e de admitir pessoal.

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