Arrefecimento das exportações agrava défice comercial para 6000 milhões

Com a economia a dar sinais de abrandamento, a compra de bens ao exterior desacelera mas continua a superar as exportações. Até Julho, o défice da balança de bens aumentou em mil milhões de euros face a 2013.

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A produção de automóveis de passageiros contribuiu para o crescimento das exportações para a UE Daniel Rocha

O arrefecimento da economia mundial e da União Europeia (UE) está a colocar um travão nas exportações portuguesas. As vendas de bens ao exterior abrandaram de forma expressiva em Julho e praticamente estagnaram nos sete primeiros meses do ano. Como as importações continuam a crescer mais do que as exportações, embora tenham abrandado, o défice da balança comercial de bens voltou a aumentar.

De Janeiro a Julho, mostram dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nesta segunda-feira, o saldo entre as exportações e as importações aproximou-se dos 6000 milhões de euros negativos, mais mil milhões do que o défice registado no mesmo período de 2013.

Os bens exportados representaram 28.331 milhões de euros até Julho, enquanto as importações ascenderam a 34.280 milhões. O défice nos sete primeiros meses do ano ascende assim a 5949 milhões de euros, uma diferença superior a 900 milhões em relação ao saldo acumulado na primeira metade do ano. Julho foi o segundo mês em que o saldo negativo foi maior.

O agravamento acentuou-se com a forte desaceleração que se registou nas exportações. A saída de bens ascendeu em Julho a 4433 milhões de euros. O volume de mercadoria exportada cresceu 1,3% face ao mesmo mês de 2013, a um ritmo inferior ao de Junho, em que as vendas dispararam 7,2%.

O abrandamento deve-se sobretudo à estagnação das vendas para fora da União Europeia (UE), com as exportações a totalizarem 1278 milhões de euros, apenas 0,1% acima do valor de Julho do ano passado. Para os países do espaço comunitário, cuja economia dá alguns sinais de abrandamento mas que continua a ser o principal destino das vendas de bens nacionais, as mercadorias continuaram a crescer, mas também desaceleraram, representando 3154 milhões de euros (mais 1,7% do que no mesmo mês do ano passado).

Para a UE, esta evolução deve-se principalmente às exportações de automóveis de passageiros, material de transporte e calçado. No caso das vendas de mercadorias para fora do espaço comunitário, o crescimento residual de 0,1% explica-se sobretudo por causa das vendas de pastas celulósicas e papel (em particular, pastas químicas de madeira, papel e cartão).

Quando se comparam os meses de Junho e Julho deste ano, a variação é mais expressiva, tanto no caso do comércio internacional para a UE (um crescimento mensal de 4,4%), como nas vendas extracomunitárias (onde o aumento é já de 7,4%). Em conjunto, as exportações cresceram 5,2% em relação ao mês anterior.

Esta evolução é influenciada por um factor pontual: a paragem temporária da refinaria da Galp em Sines, que fez com que as vendas caíssem durante alguns meses. As exportações cresceram em Janeiro e Fevereiro, caíram nos três meses seguintes, em Junho apresentaram um crescimento homólogo expressivo, mas o ritmo de crescimento travou a fundo em Julho.

O Governo está a contar com um abrandamento das exportações e com um crescimento mais forte das importações. No Orçamento do Estado rectificativo, onde inclui previsões também para o comércio de serviços, as vendas ao exterior foram revistas em baixa, para 4,1% (quando em Abril a variação projectada para o conjunto do ano era de 5,7%). Já as importações, antes nos 4,1%, passaram para 4,5%.

O abrandamento das exportações foi um dos factores, mas não o único, que levou o executivo a rever em baixa a previsão de crescimento para este ano – uma tendência que é igualmente antecipada pela OCDE, que está a antecipar uma desaceleração da economia.

No segundo trimestre, confirmam outros dados divulgados pelo INE, a economia cresceu 0,9%. O produto interno bruto – embora revisto ligeiramente em alta por causa de alterações metodológicas que decorrem da entrada em vigor do novo Sistema Europeu de Contas – cresceu menos do que nos três primeiros meses do ano (1%).

A procura interna desacelerou e o contributo para a variação homóloga do PIB caiu. Enquanto nos três primeiros meses do ano, era de 3,3 pontos percentuais, de Abril a Maio, o contributo passou para 1,8 pontos. A diminuição deve-se sobretudo ao abrandamento do investimento.

Já a procura externa líquida (o saldo entre as importações e as exportações) continua a ter um contributo negativo, mas de Abril a Junho esta variável teve um peso de -0,9 pontos percentuais para a variação do PIB, quando nos três primeiros meses do ano o contributo era de -2,3 pontos.

As despesas das famílias têm vindo a aumentar de forma moderada desde final do ano passado, mas o consumo privado também teve um desempenho menos intenso no segundo trimestre, com este indicador a abrandar para 1,7% (contra 2% no trimestre anterior).

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