Experiência ajuda à entrada no mercado de trabalho e ao salário

Procura de emprego tende a ser ?mais longa para quem não fez estágio curricular ou não teve outra experiência profissional durante os estudos.

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A análise do INE abrange jovens dos 15 aos 34 anos Bruno Lisita

Quem tem uma experiência profissional enquanto ainda é estudante, através de um estágio curricular ou fora do âmbito escolar, consegue entrar no mercado de trabalho mais facilmente, sugere um estudo divulgado na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), onde também se aponta para algum impacto positivo no nível salarial dos jovens, ainda que este não factor não possa ser visto de forma isolada.

Cerca de seis em cada dez jovens inquiridos nesta análise sobre o mercado de trabalho na população dos 15 aos 34 anos, no segundo trimestre, “referiram não ter tido experiência profissional” enquanto frequentavam o seu último ciclo de estudos; já mais de um terço (34,3%) teve algum tipo de experiência (13% através de estágio curricular e cerca de 21% fora do âmbito escolar).

As conclusões do estudo, assinadas pelo técnico de estatística do INE Célio Oliveira, mostram que a aquisição de experiência profissional antes da verdadeira entrada no mercado de trabalho foi mais comum para “os jovens mais velhos”, com ensino superior. “A taxa de emprego aumenta com a escolaridade”, como o estudo confirma: “72,8% para os jovens com escolaridade até ao 3.º ciclo, de 78,7% para os que tinham o ensino secundário e pós-secundário e 83,5% para os jovens com ensino superior”.

Mas independentemente da progressão no ciclo de estudos, há um dado comum, segundo esta investigação: no segundo trimestre, a taxa de emprego entre quem teve uma experiência profissional enquanto estudante era 7,8 pontos percentuais superior à dos outros (82,3% contra 75% dos que não tiveram experiência). Uma realidade que, vinca-se no estudo, acontece para “todos os níveis de escolaridade”. Mas é mais visível nuns do que noutros: a diferença maior encontra-se nos jovens que tinham concluído o terceiro ciclo.

A maior taxa de emprego (86,3%) pertence aos “jovens com ensino superior que tiveram experiência profissional e não estavam a estudar” no momento em que foi realizado o inquérito do INE, relativo aos meses de Abril, Maio e Junho.

A economia conta

O autor do estudo enfatiza o facto de a experiência durante os estudos ter “um impacto positivo na transição para o mercado de trabalho”. E acrescenta algumas conclusões mais finas que ajudam a perceber como a experiência anterior tem impacto no acesso ao trabalho. Cerca de um quinto “já tinha um emprego significativo [com mais de três meses] quando saiu da escola e um terço (33,9%) havia encontrado um emprego significativo três meses após sair da escola”.

Já para quem não teve uma experiência profissional enquanto estudava “apenas uma minoria (3,6%) já tinha encontrado um emprego significativo antes de sair da escola e um terço (32,9%) fê-lo até três meses após sair da escola”. Ao mesmo tempo, o período de procura de emprego parece ser mais longo para que não teve experiência. Encontrar trabalho apenas ao fim de um ano ou mais tempo “foi mais frequente entre os que não tiveram experiência (24,5%) do que entre os que tiveram experiência profissional durante os estudos (14,3%)”.

Outro ponto sublinhado no estudo é o facto de o salário médio dos trabalhadores por conta de outrem que durante os estudos tiveram experiência profissional ser mais elevado do que para os que. Nos primeiros, o rendimento médio (líquido) é de 775 euros, quando nos jovens sem experiência profissional o valor está nos 680 euros. O autor ressalva, no entanto, que há outras dimensões relevantes que não foram tidas em conta nesta comparação e que também “podem explicar a diferença encontrada”.

É preciso ainda ter em conta, como sublinha o autor, que o ano em que a pessoa acede ao mercado de trabalho reflecte-se na empregabilidade futura, o que não está desligado do momento económico, que também tem implicações no futuro profissional.

O inquérito do INE permite ainda saber quais os principais métodos de procura do actual emprego dos jovens (a trabalhar por conta de outrem). O principal, referido por 42,1%, é a rede de familiares, amigos e conhecidos, que se destaca de forma evidente. O segundo, referido por 18,6%, é o contacto com a entidade patronal, havendo 16,9% que estão a trabalhar na sequência de terem respondido a um anúncio de emprego.

A vontade de começar a trabalhar leva muitos trabalhadores jovens a não continuar a estudar. Entre aqueles que já não estão a estudar, mas frequentaram um novo nível de escolaridade depois de terem concluído um ciclo de estudos, são poucos os que acabam por concluir esse novo curso: 2,8%. Quase um terço (32,5%) disse não ter terminado porque quis começar a trabalhar; entre as principais razões, mas com menor expressão, aparecem também as razões financeiras (para 14,3%).

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