Ex-administrador da Goldman Sachs acusado de abuso de informação privilegiada

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Gupta, aqui à saída do tribunal, arrisca-se a uma pena de 20 anos por cada crime de fraude Foto: Shannon Stapleton/Reuters

Os 11 anos de prisão a que o investidor Raj Rajaratnam foi condenado nos Estados Unidos, há duas semanas, anunciavam o que aconteceu nesta quarta-feira: Rajat Gupta, figura de topo em Wall Street e antigo administrador da Goldman Sachs, foi detido. Ele próprio se entregou ao FBI, após ter sido acusado de defraudar os mercados.

Rajat Gupta foi libertado sob caução, fixada por um juiz federal norte-americano em 10 milhões de dólares (7,1 milhões de euros). Perante o tribunal, negou ter participado em crimes de abuso de informação privilegiada. As provas apresentadas no julgamento Raj Rajaratnam, com quem participava em pelo menos dois fundos de investimento, sugerem o contrário.

Há registos telefónicos que dão conta de uma chamada do escritório de Gupta para o de Rajaratnam, 16 segundos após o fim da videoconferência em que os administradores da Goldman Sachs ficaram a saber de uma injecção de capital da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. Quatro minutos mais tarde – dois minutos antes de a bolsa encerrar –, Rajaratnam comprou 27 milhões de dólares em acções da Goldman Sachs, através do grupo financeiro Galleon, do qual era fundador e gestor.

No dia seguinte, a 24 de Setembro de 2008, a notícia da injecção de capital provocou uma valorização das acções daquele banco de investimento e Raj Rajaratnam arrecadou, numa única operação, 840 mil dólares (965 mil euros) de lucros. Mas a dupla, acusam os procuradores, não se ficou por aí: voltou à carga um mês mais tarde.

De novo recorrendo a registos telefónicos, a acusação aponta outro crime de abuso de informação privilegiada, ocorrida apenas um mês mais tarde. Nessa altura, os administradores da Goldman Sachs tiveram conhecimento de que o banco apresentaria, pela primeira vez desde que está cotada em bolsa, um resultado trimestral negativo. Um minuto após o fim da reunião, Gupta telefonou a Rajaratnam. Na manhã seguinte, este último alienou a participação que detinha na Goldman Sachs.

Rajat Gupta, de 62 anos, incorre numa pena máxima de prisão de 20 anos por cada crime de fraude, mais cinco se ficar provado o crime de conspiração, adianta a Business Week. O antigo executivo, de origem indiana e formado em Harvard, declarou-se não culpado. O seu advogado acrescentou que as acusações, “baseadas integralmente em provas circunstanciais”, “não têm qualquer fundamento”.

O nome de Gupta foi, no entanto, várias vezes mencionado ao longo do julgamento de Rajaratnam, que acabou com o milionário nascido no Sri Lanka condenado a 11 anos de prisão. O tribunal deu como provado que Rajaratnam lucrou cerca de 70 milhões de dólares (perto de 51 milhões de euros) de forma ilícita, entre 2003 e 2009.

Rajat Gupta, que chegou a gerir empresas como a McKinsey ou a Procter & Gamble, investia em pelo menos dois dos fundos do grupo Galleon, detido por Raj Rajaratnam, com quem criou ainda fundos de capital privado, de acordo com os procuradores.

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