Estudo encomendado por Salgado critica Banco de Portugal e Governo

Livro aponta também falhas à "estrutura e da gestão" do Grupo Espírito Santo.

Foto
Ricardo Salgado, ex-presidente do BES Miguel Manso

A Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco (SaeR), uma empresa de consultoria, realizou um estudo, encomendado por Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, que concluiu que o supervisor bancário e o Governo falharam na condução do processo de intervenção no Grupo Espírito Santo (GES).

O estudo foi coordenado por José Poças Esteves, presidente da consultora, e Avelino de Jesus, professor universitário, e deu origem ao livro “Caso BES, a realidade dos números”, que vai ser apresentado nesta segunda-feira em Lisboa.

Nas conclusões da obra, que conta com quase 400 páginas, é realçado o papel determinante da crise financeira global para a derrocada do GES, que tinha "um forte relacionamento com a economia" e "estava muito relacionado com os sectores que estiveram no epicentro da crise", mas é dito que "a crise financeira, só por si, não explica o colapso" do GES.

"A crise financeira criou o ambiente que acabou por potenciar as falhas fundamentais que se autorreforçaram. Essas falhas determinantes estão também no comportamento dos atores, nomeadamente nos gestores do grupo e nos decisores públicos", lê-se no livro.

Uma primeira falha identificada pelos autores do estudo resulta da "estrutura e da gestão" do GES, um conglomerado misto que exigia "a manutenção de um equilíbrio constante entre as áreas financeira e não financeira". Mas, sublinharam, "a maior exigência e excelência de gestão e resultados no sector financeiro pressiona no sentido de atrair para este sector os melhores recursos e as melhores competências. Por isso, esta realidade devia obrigar a forte e constante vigilância da gestão do grupo, que se revelou insuficiente". Daí, na opinião dos autores, "este desequilíbrio, sendo muito demorado, conduz necessariamente a que o sector não financeiro tenda a parasitar o sector financeiro".

Já "uma segunda falha tem a ver com o processo de intervenção dos decisores públicos, nomeadamente o Banco de Portugal e o Governo, os quais não parecem ter levado em consideração os factos e as questões fundamentais que estavam em causa, nomeadamente os que se prendem, não só com o sistema financeiro, mas, mais importante, com a estrutura e o modelo de desenvolvimento da economia portuguesa, como um todo", assinalaram José Poças Esteves e Avelino Jesus.

E reforçaram: "De facto, perante a necessidade fundamental de melhorar a dimensão dos centros de racionalidade e de decisão da economia portuguesa, o colapso e o desmembramento de um conglomerado como o Grupo Espírito Santo era uma hipótese que merecia diferente abordagem".

Isto, porque o estudo defende "a importância decisiva que têm [os conglomerados mistos] para a melhoria da produtividade e para o crescimento económico, a preservação e a promoção de grupos com dimensão adequada".

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários