Espírito Santo Financial Group cria provisão de 700 milhões para enfrentar riscos com área não financeira

O GES já pagou mil milhões de euros aos subscritores das emissões de papel comercial de curto prazo colocadas pela Espírito Santo Internacional junto dos clientes de retalho do BES. O ESFG adia assembleia-geral para final de Maio, à espera que o BES publique o seu relatório e contas.

Foto
Ricardo Salgado Foto: Enric Vives-Rubio

O Espírito Santo Financial Group, cujo activo mais relevante é a participação que detém no BES, vai criar uma provisão de 700 milhões de euros para enfrentar riscos potenciais que possam surgir na área não financeira do Grupo Espírito Santo.

A constituição de uma almofada de segurança na ESFG foi uma imposição do Banco de Portugal para ser uma garantia adicional de que, por exemplo, os clientes do BES que subscreveram dívida de curto prazo (ou seja: financiaram as empresas que emitiram o papel comercial) de sociedades não bancárias do GES são reembolsados.

No final de 2013, o Banco de Portugal (BdP) ordenou uma auditoria externa à Espírito Santo Internacional (ESI), com o objectivo de avaliar o grau de exposição do BES à holding Rioforte (que agrega os interesses não financeiros do GES e, por não ser cotada, não está sujeita a escrutínio). A ESI é uma das holdings mais importantes do GES, e surge em segundo lugar (em termos de importância), só tendo em cima a ES Control, que reúne os interesses da família Espírito Santo.

A criação na ESFG de uma rede de segurança de 700 milhões de euros é já o resultado das inspecções desencadeadas pelo BdP ainda em 2013. A provisão, de grande dimensão, visa proteger o BES do contágio de potenciais problemas que possam ocorrer na esfera não bancária. Até agora o GES já pagou mil milhões de euros aos subscritores das emissões de papel comercial de curto prazo colocadas pela ESI junto dos clientes de retalho do BES, o que representa cerca de 60% da dívida (papel comercial) total.

Os reembolsos aos restantes credores serão efectuados nos próximos tempos e à medida dos vencimentos. Mas a expectativa é que, a partir de Julho deste ano, 80% da dívida de papel comercial já esteja liquidada. Para saldar os compromissos remanescentes, o GES irá, por exemplo, emitir dívida de médio e longo prazo, esta colocada junto de investidores institucionais.

O Deutsche Bank, o Nomura Bank e a Goldman Sachs estão a ultimar a arquitectura de um programa de reorganização da parte não bancária do GES e que envolve a desalavancagem (redução de dívida) e a recapitalização do grupo (alienação da Zon e de parte da ES Saúde). Um plano que se enquadra nas novas exigências regulatórias de divisão de águas entre as áreas financeira e não financeira do grupo. O nome Espírito Santo (que deixará de ser usado por 30 empresas da família) vai ser de uso exclusivo das operações bancárias nacionais e internacionais (BES/BESI). O projecto tem ainda por finalidade clarificar os actuais fluxos de financiamento entre holdings e sub-holdings do GES e permitir uma maior facilidade na passagem dos dividendos gerados na área financeira para as holdings do topo.  

Em paralelo estão a ser adoptadas medidas ao nível da governação. Uma delas será a separação entre membros de órgãos sociais da banca e das empresas não financeiras. Ricardo Salgado, José Maria Ricciardi e José Manuel Espírito Santo, os três primos executivos no BES, vão abandonar a administração da holding Espírito Santo International. Por seu turno, Manuel Fernando Espírito Santo, que está à frente da Rioforte, sairá da administração não executiva do BES.

Entretanto, o BES acaba de comunicar que existe um atraso na Assembleia Geral da ESFG, agendada para 25 de Abril, no Luxemburgo, onde a holding tem a sede, mas a reunião realizar-se-á até 31 de Maio. O adiamento prende-se com os atrasos na publicação do relatório contas do BES, em resultado da necessidade de reflectir os impactos das avaliações do Banco de Portugal aos grandes devedores da banca. Apesar da assembleia-geral estar marcada para 7 de Abril, o relatório contas só será publicado a 28 de Abril. O BES já comunicou que, apesar dos atrasos, não haverá alterações nas suas contas de 2013, aliás já anunciadas, e onde revelou um prejuízo de 517,6 milhões de euros.

Sugerir correcção
Comentar