Enercon Portugal preocupada com futuro do cluster eólico de Viana do Castelo

Empresa vai exportar 300 milhões em 2014 mas antecipa quebra de produção em 2015.

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Feldheim conta hoje com mais torres eólicas do que com casas Pedro Cunha

Todas as semanas a Enercon Portugal envia dois navios carregados com componentes para torres eólicas para exportação. Para fazer face às encomendas, a empresa que integra o consórcio eólico Eneop – Eólicas de Portugal (constituído ainda pela EDP Renováveis, Enel e Generg) aumentou o ritmo de produção nas fábricas de pás, torres e turbinas (um investimento de 220 milhões de euros) em Viana do Castelo e Lanheses e atingiu este mês a meta prevista de 1644 colaboradores.Mas sabe que este ritmo de crescimento tem os dias contados.

“Em 2015 vai haver um abrandamento da produção”, reconheceu o administrador, Francisco Laranjeira. Este facto surge na sequência de uma diminuição dos projectos eólicos em desenvolvimento na Europa e, também, porque a empresa está prestes a concluir em Portugal os projectos previstos no caderno de encargos do concurso de 2006 (desenvolvimento de 1200 MW de capacidade instalada). A explicação foi dada pelo gestor à margem de uma visita organizada pela associação europeia de energias eólicas (EWEA), com o apoio da Associação Portuguesa das Energias Renováveis (APREN).

Defendendo que um projecto como o cluster eólico de Viana do Castelo “deveria ter continuidade”, Laranjeira entende que uma das alternativas poderia ser a redistribuição das licenças que foram entregues ao outro consórcio, liderado pela Galp, a Ventinveste, que se comprometeu com 400 MW de capacidade instalada, mas tem cerca de 14 MW. Em Março, o Expresso noticiou que a Galp quer sair de um projecto que enfrentou problemas ao nível da obtenção de licenças ambientais e de financiamento e que exige um investimento em torno de 500 milhões de euros.

Mas estaria a Eneop interessada em comprar as licenças da Ventinveste, caso este consórcio optasse por vender? “Há um contrato que não foi cumprido”, contrapõe Francisco Laranjeira. “Se temos o exemplo de um consórcio que cumpriu e foi além dos compromissos assumidos, há que ponderar a forma de dar continuidade ao projecto”, salientou o gestor, dizendo que estas preocupações têm sido manifestadas junto da tutela. Outros cenários para garantir o desenvolvimento do cluster eólico de Viana do Castelo (que segundo a Enercon envolve cerca de 30 empresas e emprega directamente 2500 pessoas) passam pelo aumento da capacidade dos parques eólicos nacionais ou pela substituição dos parques já existentes, que têm uma vida útil de 15 anos, adiantou Laranjeira. 

As exportações da Enercon Portugal (quase 80% da produção) têm vindo a crescer desde 2011 (a empresa foi obrigada a reorientar-se para o mercado externo para fazer face à queda do mercado português) e este ano deverão chegar aos 300 milhões de euros. Mas as exportações “não são a vocação” da empresa, diz Francisco Laranjeira. O ideal seria haver maior um “maior equilíbrio”, com cerca de 30% da produção orientada para o mercado interno e o restante para exportação. 

A EDP Renováveis, parceira da Enercon Portugal, entende que “ainda há espaço para alguns investimentos em Portugal”. Em declarações à imprensa durante uma visita ao centro de controlo remote no Porto – a partir do qual é monitorizado o funcionamento dos 258 parques eólicos da Renováveis, ainda que a empresa tenha outros dois centros na Europa e um nos Estados Unidos por onde reparte geograficamente esta função de vigilância e controlo - o administrador João Costeira sublinhou que “não faz sentido instalar capacidade [de produção de energia eólica] se o país não precisa”. Mas ainda assim, reconhece que, “no curto prazo”, há margem para alguns projectos em Portugal e que, “numa segunda fase, haverá necessidade de renovar o parque instalado”.
 

   





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