Empresas de media alertam para “destruição de valor” em carta à PT

Num momento em que os fornecedores da PT Portugal se queixam de cortes nos contratos, a Plataforma de Meios Privados de comunicação social dirigiu-se à Altice, lembrando a importância do sector.

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O presidente da PT com o ministro da Economia na abertura do primeiro call center da Altice, em Vieira do Minho Pedro Lima/N Factos

Foi uma carta “cordata”, que “não alude a nenhum facto específico”, aquela que a Plataforma de Meios Privados (PMP) enviou recentemente à PT Portugal, disse ao PÚBLICO o director executivo da Plataforma, Luís Nazaré. Mas a preocupação com a actuação da PT na “nova era Altice” está lá.

Segundo o responsável da entidade que reúne a Cofina, a Media Capital, a Impresa, a Renascença, a Global Media e o PÚBLICO, o objectivo foi fazer notar à nova gestão da PT “o peso e relevância dos media na fileira digital” e manifestar “preocupação com o espectro de destruição de valor na fileira”. Por isso, a PMP garantiu ainda à empresa conduzida por Armando Pereira (fundador e accionista da Altice, actual presidente do conselho de administração da PT) que está a fazer “um acompanhamento atento da evolução dos acontecimentos”, acrescentou Luís Nazaré.

Depois do sector tecnológico, também os media se mostram assim preocupados com a abordagem da nova PT. Das receitas provenientes da operadora têm dependido ao longo dos anos muitas pequenas e grandes empresas. Além disso, a PT é historicamente um dos principais anunciantes num sector publicitário em condição débil, e paga anualmente milhões de euros às estações de televisão pela transmissão dos seus canais temáticos na MEO.

Apesar de haver quem garanta na PT que a situação dos pagamentos está a ser regularizada, os relatos de empresas com facturas por pagar, “algumas desde o final do ano passado”, continuam a chegar à ANETIE, garantiu ao PÚBLICO fonte da associação que reúne as empresas de tecnologia e electrónica. Por isso a ANETIE, que denunciou o facto de alguns cortes impostos pela PT poderem chegar a 30%,  enviou mais uma carta aos  novos líderes da operadora, pedindo a marcação de uma reunião. “Queremos tentar ir pela via do diálogo, antes de tomarmos outras vias”, disse.

O método não é novo. Já tinha sido usado na ONI e na Cabovisão e ainda mais recentemente em França, na operadora móvel francesa SFR, que a Altice fundiu com a empresa de cabo Numericable.

Em entrevista recente ao Diário Económico, Armando Pereira sublinhou que a redução dos custos dos fornecimentos e serviços visa reforçar a capacidade de investimento da empresa. Em França, o congelamento dos pagamentos e o corte nos contratos chegou mesmo a motivar o recurso de alguns fornecedores a um serviço de mediação do Ministério da Economia.

Mas os cortes nos contratos poderão não ser a única dor de cabeça para os fornecedores portugueses da PT. Em declarações no Parlamento francês, em Maio, Patrick Drahi, líder da Altice, explicou que a empresa tem por hábito levar os seus fornecedores tradicionais para os mercados em que vai entrando. E, em Paris, em Abril, o presidente executivo da Numericable SFR, Eric Denoyer, afirmou num encontro com jornalistas que os fornecedores franceses estavam entusiasmados com a perspectiva de trabalhar com a Altice em Portugal.

Investimento nos media
Na segunda-feira, no mesmo dia em que abriu um segundo call center em Portugal - na Guarda, com 80 trabalhadores -, a Altice anunciou também um novo investimento na área dos media. Depois de ter recebido em Junho carta branca para comprar a totalidade do diário Libération e vários títulos do grupo editorial belga Roularta, a Altice criou uma nova subsidiária para os media, em joint-venture com Alain Weill, o presidente e principal accionista do grupo NextRadioTV.

“É uma parceria estratégica entre os dois grupos para investir e acelerar o desenvolvimento de projectos multimédia, em França e em mercados internacionais”, referiu em comunicado. Alain Weill deterá 51% dos direitos de voto e económicos e assumirá a presidência executiva da nova sociedade, para onde será transferida a participação do empresário (37,77% dos direitos económicos e 48,59% dos direitos de voto) na NextRadioTV, que detém a rádio generalista monegasca RCM e os canais de televisão informativos BFM Business e BFM TV.

Depois, esta nova companhia avançará com uma oferta de aquisição sobre 100% do capital da NextRadioTV, ao preço de 37 euros por acção, um preço que segundo o jornal Les Echos valoriza a empresa em cerca de 600 milhões de euros. Se receber as devidas aprovações regulatórias a operação ficará fechada no final deste ano. “Os media e os conteúdos são uma grande oportunidade para a Altice em França e em todos os países em que estamos presentes”, assegurou o presidente executivo da Altice, Dexter Goei, no mesmo comunicado. O gestor notou que a “estratégia de longo prazo” da  empresa assenta na convergência entre os activos de telecomunicações e a distribuição de televisão, bem como o desenvolvimento e produção de conteúdos.

O acordo prevê ainda que Alain Weill, que passará a deter 24% da nova subsidiária da Altice, entre para o comité executivo do grupo, como o administrador com o pelouro dos media, área onde a empresa já admitiu poder vir a investir em Portugal. Segundo o Les Echos, os restantes activos da Altice nos media - como o Libération e o semanário L’Express - permanecerão concentrados na Altice Media Group, controlada directamente por Drahi.

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